A pandemia do novo coronavírus é o maior desafio global desde a crise financeira de 2008 e tem desafiado governos de várias ideologias. A linha que os divide não é direita x esquerda, nem democracia x ditadura, mas que autoridades seguem as evidências científicas e quais as rejeitam em nome de suas visões idiossincráticas de mundo ou impulsos de conveniência.
O presidente do Brasil optou pela corrente populista que se recusa a agir segundo as melhores práticas aprendidas a duras penas pelos países que primeiro sofreram a pandemia. Suas declarações negando a gravidade do problema, responsabilizando a imprensa e participando de manifestações que arriscam impulsionar a difusão da doença o colocam no patamar mais raso e irresponsável das respostas globais.
A polarização vivida em vários países do mundo leva muitos cidadãos à tentação de culpar seus adversários ideológicos por tudo que dá errado em meio à pandemia. Mas, no campo conservador, há enorme distância que separa as atitudes firmes e equilibradas de Angela Merkel (Alemanha) do comportamento errático de Donald Trump (EUA).
À esquerda, observam-se igualmente grandes diferenças entre a responsabilidade de Pedro Sánchez (Espanha) ou Giuseppe Conte (Itália) e a negligência de López Obrador (México). Ou a tragédia anunciada que será a pandemia na Venezuela de Nicolás Maduro.
O Brasil é maior do que seu presidente. O País é também o Sistema Único de Saúde, em construção com tantos sacrifícios desde a redemocratização. É a ação do Congresso em busca de soluções, as ações de muitos governadores e prefeitos e o esforço da equipe econômica em encontrar recursos e elaborar pacotes de estímulo.
* DOUTOR EM CIÊNCIA POLÍTICA E PROFESSOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO