Polícia retira 78 corpos de mina de ouro ilegal na África do Sul

15 jan 2025 - 19h17
(atualizado às 19h51)

Operação encerra meses de um cerco policial que visava coibir a prática criminosa. 246 sobreviventes resgatados foram presos.A polícia da África do Sul encerrou uma operação de resgate em uma mina de ouro abandonada na cidade de Stilfontein, nesta quarta-feira (15/01), onde disse ter encontrado 78 corpos no local e resgatado 246 sobreviventes.

Mina onde trabalhadores ilegais foram resgatados tem 2,5 quilômetros de profundidade
Mina onde trabalhadores ilegais foram resgatados tem 2,5 quilômetros de profundidade
Foto: DW / Deutsche Welle

Os mineiros trabalhavam ilegalmente na mina de Buffelsfontein, de 2,5 quilômetros de profundidade, e estavam presos há meses em um dos pontos de extração de ouro mais profundos do país.

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Todos os sobreviventes foram levados sob custódia, acusados por mineração ilegal e invasão após o resgate. Segundo observadores no local, muitos deixaram o local debilitados.

A operação, que teve início na segunda-feira, encerra um cerco de meses promovido pelas forças de segurança para coibir as atividades ilegais no local.

Polícia bloqueou acesso a comida e água, diz ONG

Segundo organizações da sociedade civil, a polícia teria bloqueado o acesso a suprimentos que eram levados às profundezas da mina como forma de obrigar a saída dos trabalhadores ilegais. A estratégia foi defendida por um ministro sul-africano que defendeu o isolamento da área como forma de expulsar os mineiros do local.

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O cerco acontece ao menos desde agosto, afirmou o líder sindical Mametlwe Sebei, quando agentes removeram um sistema de polia usado para entregar alimentos e água.

O governo se recusou, porém, a iniciar um resgate anteriormente. Para os grupos de defesa dos direitos humanos, isso pode ter sido definidor para provocar a morte dos trabalhadores por fome ou desidratação. A operação para retirada dos garimpeiros só aconteceu após uma decisão judicial deferida na última semana.

A causa oficial da morte dos corpos encontrados ainda não foi divulgada. Grupos que acompanharam o resgate e estão em contato com familiares acreditam que ainda existam corpos na mina e que os trabalhos não deveriam ter sido encerrados.

A Federação Sul-Africana de Sindicatos também acusou o governo do país de permitir que os homens "morressem de fome nas profundezas da terra".

"Esses mineradores, muitos deles trabalhadores sem documentos e desesperados de Moçambique e de outros países da África, foram deixados para morrer em uma das mais horríveis demonstrações de negligência voluntária do Estado na história recente", disse a federação em um comunicado.

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Polícia nega as acusações

A polícia nega as acusações. "Nunca bloqueamos nenhum poço. Nunca bloqueamos ninguém de sair", disse Athlenda Mathe, porta-voz nacional da polícia sul-africana, nesta quarta-feira. "Nosso mandato era combater a criminalidade e é exatamente isso que fizemos", continuou. "Se fornecessemos alimentos, água e necessidades a esses mineradores ilegais, estaríamos permitindo e incentivando a criminalidade."

As autoridades sul-africanas defendem que, ao isolar a área, a polícia não impediu os mineiros de sairem pelo poço, e que eles permaneceram no subsolo por medo de serem presos. Os ativistas, porém, disseram que a saída envolveria uma perigosa caminhada subterrânea, e muitos estavam muito fracos ou doentes pela falta de comida e água.

O argumento das autoridades foi reforçado pelo ministro de Minas do país, Gwede Mantashe. Segundo ele, a mineração ilegal custou à África do Sul mais de 3 bilhões de dólares no ano passado. "É uma atividade criminosa. É um ataque à nossa economia por estrangeiros, principalmente", disse.

Segundo a polícia, desde agosto de 2024, 1.576 mineiros saíram do local de forma autônoma até o início da operação de segunda-feira. Todos foram presos e 121 foram deportados.

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O Partido da Aliança Democrática, o segundo maior da coalizão governamental liderada pelo Congresso Nacional Africano, disse nesta quarta-feira que a repressão na mina "saiu totalmente do controle" e pediu uma investigação independente.

A mineração ilegal é comum em algumas partes da rica África do Sul. Normalmente, mineradores sem documentos conhecidos como zama zamas entram em minas abandonadas por mineradores comerciais e tentam extrair o que resta. Alguns atuam sob o controle de gangues criminosas violentas.

A maioria dos mineradores encontrados em Stilfontein eram imigrantes de Moçambique, Zimbábue e de Lesoto. Apenas 21 deles eram sul-africanos, segundo a polícia.

Um tribunal decidiu em dezembro que voluntários deveriam ser autorizados a enviar suprimentos essenciais para os mineradores cercados. Uma decisão separada na semana passada ordenou que o estado iniciasse o resgate.

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gq (Reuters, AP, ots)

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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