Por que a Austrália vai abater milhares de camelos — com atiradores a bordo de helicópteros

Mais de 10 mil animais serão sacrificados após invadirem comunidades em busca de água em meio à seca prolongada.

10 jan 2020 - 12h33
(atualizado às 12h51)
O que se considera como o grupo de 'camelos selvagens australianos' também inclui dromedários
O que se considera como o grupo de 'camelos selvagens australianos' também inclui dromedários
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Caçadores em helicópteros vão abater a tiros mais de 10 mil camelos no sul da Austrália.

A razão? O calor extremo e a grave seca que atingem a região.

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O sacrifício dos animais, que começou na quarta-feira (08) , tem previsão de durar cinco dias.

Os caçadores pertencem ao Departamento de Meio Ambiente e Patrimônio da Austrália.

A população dos animais que serão caçados, na verdade, não é só de camelos: o que se considera como o grupo de "camelos selvagens australianos" também inclui dromedários.

A decisão foi tomada depois que as comunidades aborígenes da região denunciaram que grupos de camelos estavam danificando estruturas em busca de água.

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"Eles estão andando pelas ruas em busca de água. Estamos preocupados com a segurança das crianças", disse Marita Baker, da comunidade Kanypi.

Alguns cavalos selvagens também serão abatidos.

O calor e a seca provocaram uma onda de incêndios florestais na Austrália nos últimos meses, mas a seca prolongada se estende há anos no país.

É por isso que o sacrifício dos camelos não está diretamente relacionado à crise causada pelas queimadas.

O abate será realizado na reserva Anangu Pitjantjatjara Yankunytjatjara (APY), área onde vivem vários grupos de povos indígenas.

Animais invadiram comunidades em busca de água por causa da seca prolongada
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

'Pressão extrema'

"Há uma pressão extrema sobre as comunidades aborígines nas terras APY e suas atividades pecuárias com esses camelos em busca de água", afirmou Richard King, diretor-geral da APY, em comunicado.

"Dada a seca prolongada e as grandes concentrações de camelos que ameaçam comunidades e a infraestrutura na APY, é necessário controlar os camelos imediatamente."

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"Estamos presos nestas condições de calor incômodas e sofrendo com a chegada dos camelos, eles estão derrubando cercas e se aproximando das casas para tentar obter água dos aparelhos de ar-condicionado", acrescentou Marita Baker, membro do conselho executivo da APY.

Muitos desses camelos morrem de sede e brigam entre si por água.

"Em alguns casos, as carcaças dos animais contaminaram importantes fontes de água e áreas culturais", vitais para os aborígenes da região.

Fora de controle

Esses camelos não são nativos da Austrália. Eles foram levados para o país no século 19 por colonizadores britânicos — e são provenientes da Índia, do Afeganistão e do Oriente Médio.

O número de camelos pode variar, mas estima-se que existam hoje centenas de milhares de exemplares em toda a parte central do país.

A onda de incêndios florestais que atinge a Austrália já deixou 25 mortos desde setembro
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Os camelos danificam áreas ocupadas por humanos, incluindo cercas e equipamentos agrícolas. Além disso, bebem a água que seria destinada às pessoas que habitam essas áreas.

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Eles também emitem gás metano, gás de efeito estufa que contribui para as mudanças climáticas.

Em entrevista à rede de televisão ABC, Richard King informou que vai aproveitar o momento em que os camelos se aproximarem da água para abatê-los.

"Isso nos dá a oportunidade de caçá-los quando estão juntos, porque eles geralmente se deslocam pelo deserto em pequenos grupos", explicou King.

Incêndios florestais

A onda de incêndios florestais que atinge a Austrália já deixou 25 mortos desde setembro — e quase 2 mil casas foram destruídas pelo fogo, que consumiu pelo menos 5 milhões de hectares até agora.

Cerca de 800 milhões de animais também perderam suas vidas nos incêndios, que afetam particularmente o leste e o sul do país.

Na Austrália, os incêndios florestais são comuns nessa época do ano, mas nesta temporada a situação foi pior do que em anos anteriores. A cada década, faz mais calor no país, e a expectativa é que a situação continue a se agravar.

De fato, os cientistas alertam há algum tempo que a seca e o aumento da temperatura vão contribuir para que os incêndios se tornem mais frequentes e intensos.

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