Dmitri Peskov, de 57 anos, desempenha um papel fundamental como porta-voz do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Desde 2004, ele tem sido a figura responsável por comunicar a posição do Kremlin em assuntos nacionais e internacionais. Com uma formação em história oriental, Peskov atuou como diplomata na Turquia antes de se tornar vice-secretário de imprensa de Putin.
No contexto da guerra contra a Ucrânia, Peskov encontrou-se no centro das atenções ao se tornar alvo de sanções dos EUA, da União Europeia, do Canadá e da Austrália. Ele é conhecido por suas declarações firmes e pela habilidade de navegar pela complexa arena das relações internacionais representando o governo russo.
Qual o papel de Peskov na crise Ucrânia-Rússia?
O porta-voz Dmitri Peskov se posicionou, em entrevista à Folha de S. Paulo, sobre a guerra na Ucrânia, justificando as ações russas como uma resposta necessária às circunstâncias políticas e militares. Ele argumenta que a crise começou devido ao aumento da presença militar da Otan perto das fronteiras russas e à suposta opressão de russos étnicos na Ucrânia.
Peskov também enfatizou que a Rússia preferiria soluções diplomáticas para o conflito, mas afirma que a intervenção militar foi inevitável diante do que considera ameaças à soberania e segurança russa. Segundo ele, uma resolução pacífica foi repetidamente rejeitada pelas potências ocidentais, o que levou à intensificação das tensões atuais.
Dmitri Peskov e a doutrina nuclear russa
Com a escalada das tensões geopolíticas, Dmitri Peskov reafirmou a política nuclear da Rússia: embora Moscou veja o uso de armas nucleares como uma medida extrema, a doutrina permite respostas duras em caso de ameaças críticas à soberania russa.
"A Federação da Rússia tem uma posição muito responsável em relação a essa questão. E está convencida de que as armas nucleares nunca devem ser usadas por ninguém. Por isso fazemos o possível para que nunca sejam usadas. Mas a situação está mudando drasticamente. E por isso foram feitas alterações no nosso conceito que diz que, se uma potência nuclear ajudar outro país a atacar o nosso território, isso pode ser razão para o uso das armas nucleares", disse.
Essa atualização na doutrina reflete a percepção de que a Rússia precisa estar pronta para responder a potenciais agressões nucleares. Embora Peskov enfatize que o uso de armas nucleares nunca deve ser usado levianamente, ele destaca a importância de manter capacidades defensivas robustas.
Rússia e Estados Unidos
Em suas declarações, Peskov destacou a deterioração das relações entre Rússia e EUA, um cenário parcialmente atribuído às sanções impostas durante a administração de Donald Trump. Apesar dessas tensões, Peskov menciona que há esperança de um diálogo mais pacífico com futuras administrações americanas, embora reconheça que mudanças profundas nas políticas requerem tempo.
"Nossas relações bilaterais com os EUA estão em seu ponto histórico mais baixo, próximo de zero. E nossas relações bilaterais com a República Popular da China estão historicamente em seu nível mais elevado. Nosso presidente Putin já falou várias vezes que temos a vontade política, muito firme, de seguir desenvolvendo as relações com a China em todas as áreas possíveis. E vemos recíproca de nossos amigos chineses", afirmou o porta-voz.
🇷🇺🇺🇸 VOU VER E TE AVISO
O Kremlin mostrou cautela com a vitória de Trump, refletindo a incerteza das promessas dele de acabar com a guerra na Ucrânia.
Segundo Dmitri Peskov, porta-voz, os EUA podem mudar a política externa sob Trump, mas a Rússia espera para ver ações concretas pic.twitter.com/BMQyaxgoB3
— Camarote da República (@camarotedacpi) November 6, 2024