Rebeldes islamistas chegaram a Homs nesta sexta-feira (06/12) e estão prestes a somar três novas cidades na Síria sob seu controle, em uma ofensiva iniciada na semana passada contra as forças do ditador Bashar al-Assad e liderada pela aliança Hayat Tahrir al-Sham (HTS), também conhecida como Organização para a Libertação do Levante.
No início da guerra civil síria, que foi deflagrada após o regime de Assad reprimir duramente protestos pró-democracia em 2011, ativistas viam Homs como "capital da revolução". Foi ali que as primeiras facções anti-governo pegaram em armas. Em resposta, forças leais a Assad impuseram um brutal cerco à população, que durou dois anos.
Homs é lar de uma minoria alauita, grupo étnico-religioso do qual Assad faz parte, e fica próxima à fronteira com o Líbano e o Iraque.
Agora cercada por islamistas apoiados pela Turquia, a cidade está estrategicamente situada na principal rota que conecta o centro da Síria à capital Damasco. Homs também é crucial para o acesso de Damasco ao Mediterrâneo, reduto da família Assad e sede de uma base naval e aérea russa.
Assad responde
O rápido avanço de rebeldes contrários a Assad vem em um momento em que aliados-chave do ditador se veem envolvidos em outros conflitos: a Rússia combate na Ucrânia e o Hezbollah, braço do regime iraniano no Líbano, se viu duramente desfalcado por uma ofensiva israelense.
A ofensiva dos insurgentes - de um sucesso sem precedentes desde o início da guerra civil - começou em 27 de novembro, mesma data do início do cessar-fogo no conflito entre Israel e o Hezbollah.
Também nesta sexta-feira, o Exército sírio disse ter atacado com a ajuda da Rússia "concentrações terroristas" no norte e no sul da província de Hama, no centro da Síria, que um dia antes fora tomada por insurgentes da HTS.
Já Israel bombardeou dois postos fronteiriços entre Síria e Líbano. O Exército israelense diz ter visado centros logísticos e de infraestrutura que eram usados pelo Hezbollah para traficar armas.
A HTS é herdeira da ex-filial síria da Al-Qaeda, de quem se desassociou em 2016. O grupo, que se notabilizou pelos seus esforços para estabelecer um Estado fundamentalista sob a lei islâmica na Síria, tem tentado moderar sua imagem nos últimos anos, apresentando-se como alternativa viável a Assad.
Em entrevista à CNN, o líder do grupo, Abu Mohammed Al-Golani, frisou nesta sexta ter como objetivo apenas a derrubada do governo de Assad, cuja família está no comando do país há cinco décadas. Golani falou em "construir a Síria" e repatriar refugiados sírios que hoje vivem no Líbano e na Europa.
Especialistas avaliam que a Turquia esteja apoiando o avanço dos rebeldes como forma de enfraquecer os curdos que controlam o norte da Síria ao longo da fronteira com a Turquia, e que lutam pela autonomia.
Os curdos, por sua vez, são apoiados pelos Estados Unidos, e alertaram que o "Estado Islâmico", que aterrorizou partes do Iraque e da Síria no passado e era dado como neutralizado, teria assumido o controle de novas áreas no leste da Síria.
Como sírios estão reagindo ao avanço dos rebeldes
Sírios que fugiram da repressão de Assad e hoje vivem no exterior acompanham com atenção o avanço dos rebeldes.
"Temos sonhado com isso por mais de uma década", disse à agência de notícias AFP um ex-ativista de 39 anos que sobreviveu ao cerco a Homs e hoje vive como refugiado na França.
Indagado se a agenda islamista do HTS o preocupava, ele disse não se importar com quem lidera a ofensiva anti-Assad. "Poderia ser o próprio diabo. O que importa para as pessoas é quem vai libertar o país."
Membros da comunidade alauita que vivem em Homs, porém, dizem estar apreensivos com a situação. "Nunca vi essa cena na minha vida. Estamos com muito medo, não sabemos o que está acontecendo", disse um morador.
Centenas de pessoas fugiram de Homs já na madrugada de quinta para sexta-feira, segundo a agência Reuters. As Nações Unidas contabilizam mais de 280 mil deslocados desde o início do avanço das forças rebeldes.
Segundo o Observatório Sírio para Direitos Humanos, que acompanha a situação mediante uma rede de informantes na Síria, rebeldes que avançavam em direção a Homs na sexta-feira se depararam com a "total ausência" de tropas governistas.
Desde o início da ofensiva, o observatório afirma que 826 pessoas foram mortas, entre elas 111 civis.
ra/bl (AFP, EFE, ots)