Caminhoneiros criaram dor de cabeça até para próximo governo

Movimento emparedou Temer, derrubou presidente da Petrobras e instaurou caos econômico em todo o País

10 dez 2018 - 09h00
(atualizado às 09h50)

Mesmo tendo acabado sete meses antes da posse do próximo presidente da República, Jair Bolsonaro, a greve dos caminhoneiros deixou para o novo governo uma despesa extra difícil de ser cortada.

Após emparedar Michel Temer nos dias de paralisação, causando carestia de produtos básicos nas cidades, interrupção de serviços e uma corrida aos postos de combustível, a categoria arrancou do Executivo Federal um subsídio bilionário para o óleo diesel, combustível usado pelos caminhões.

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Caberá a Bolsonaro e Paulo Guedes, seu super-ministro da economia, decidir se assumem o risco de haver novo movimento e incluem essa despesa em seu projeto de arrocho nos gastos ou se mantêm a ajuda. A mobilização expôs a dependência do Brasil por caminhões e mostrou a força dos caminhoneiros.

Caminhoneiros bloqueiam rodovia BR 116 com seus caminhões durante a greve em maio
Caminhoneiros bloqueiam rodovia BR 116 com seus caminhões durante a greve em maio
Foto: Rodolfo Buhrer / Reuters

Ainda que tenha causado caos econômico e afetado diretamente a vida da população, o movimento teve apoio popular. O então presidente da Petrobras, Pedro Parente, pediu demissão. Também houve uma amostra da disseminação de informações de qualidade duvidosa que viria na campanha eleitoral.

Por esses motivos, o Terra escolheu a greve dos caminhoneiros como um dos acontecimentos mais relevantes de 2018 e decidiu abrir com ela a retrospectiva do ano.

O movimento explodiu em 21 de maio com uma pauta de ataques à política da Petrobras de reajustes diários nos preços de combustíveis. A prática era parte importante do plano de Pedro Parente de reforçar o caixa da empresa, que vivia dificuldades financeiras.

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No primeiro momento, a greve contava com apoio de empresas de transporte. Devido a essa adesão, houve acusações de que se tratava de um locaute – uma “greve de patrões”, vedada por lei.

Com lideranças difusas, o movimento teve as reivindicações expandidas enquanto as negociações com o governo avançavam. Após Temer ceder em praticamente todos os pontos, parte dos manifestantes deixou a greve. Os petroleiros tentaram pegar carona no movimento, mas tiveram pouco sucesso.

Em 30 de maio, o presidente assinou as medidas provisórias que baixavam o preço do combustível em R$ 0,46 cada litro: R$ 0,16 em corte de impostos e R$ 0,30 em subsídio. Muitos dos grevistas, porém, não reconheciam legitimidade naqueles que negociaram com o governo. Os piquetes continuaram.

A greve teve uma data para início, mas não foi possível cravar quando acabou. O movimento foi minguando no começo de junho até que tudo voltasse ao normal.

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Pedro Parente, quando ainda presidia a Petrobras
Foto: Sergio Moraes / Reuters

Após a canetada de Michel Temer, Parente pediu demissão, deixando o comando da Petrobras. As ações da petrolífera se desvalorizaram, e o mundo político também reagiu. Assumiu Ivan Monteiro.

Além dos desdobramentos na economia e em Brasília, a greve desencadeou dois fenômenos políticos.

A curiosidade dos internautas por uma “intervenção militar” aumentou. Grupos saudosos da Ditadura conseguiram impulsionar a pauta.

E o intenso uso de grupos de Whatsapp – fundamentais para mobilizar a greve e disseminar suas reivindicações, em parte com mentiras –, o tempo provaria meses depois, seria quase uma prévia da campanha eleitoral. A disputa foi marcada por denúncias de uso irregular dessa rede social.

Ainda não há certeza sobre o que o governo Bolsonaro fará com os incentivos ao Diesel. O presidente eleito chegou a dizer que poderá manter a ação.

Nas últimas semanas do ano, decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luis Fux voltou a deixar os caminhoneiros desagradados. O juiz suspendeu a tabela do preço mínimo do frete, criada pelo governo federal após reivindicação na greve de maio. Há mobilização da categoria, mas não se sabe se terá força.

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Fonte: Redação Terra
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