Prêmio Nobel, descobertas em Marte e mais: o 2018 da ciência

Stephen Hawking, Donna Strickland, NASA e Projeto Sirius foram algumas das principais pessoas, instituições e iniciativas deste ano

24 dez 2018 - 09h00

O ano de 2018 foi um ano de conquistas e perdas no campo da ciência. Enquanto se comemorou a entrega do prêmio Nobel de Física para a cientista canadense Donna Strickland -  a primeira mulher a vencer a condecoração desde Maria Goeppert-Mayer em 1963 -, também se lamentou a morte do físico britânico Stephen Hawking, dono de grande parte das teorias que revolucionaram os estudos sobre o cosmos e as leis do universo. Ao mesmo tempo que se comemorou a construção do maior acelerador de partículas do Brasil, o Projeto Sirius, sediado em Campinas (SP), também vimos os efeitos colaterais do aquecimento global, que tornou este ano o quarto mais quente da história.

O ano de 2018 foi um ano de conquistas e perdas no campo da ciência
O ano de 2018 foi um ano de conquistas e perdas no campo da ciência
Foto: Montagem de Matheus Riga com fotos de Reuters e iStock / Terra

Com um toque de ficção científica, este ano também teve diversas expedições espaciais relevantes. A Agência Nacional de Aeronáutica e Espaço dos EUA, a NASA, enviou uma sonda em direção até o Sol, a estrela de nosso sistema, e outra para Marte, a fim de pesquisar e analisar de seu solo. Ao mesmo tempo, os empresários milionários Elon Musk, da SpaceX, Jeff Bezos, da Amazon, e Richard Branson, da Virgin, batalham para ver quem será o primeiro a chegar até o planeta vermelho e iniciar uma era de exploração espacial. Nesse mesmo interím, um grupo internacional de astrônomos descobriram um astro com características semelhantes à Terra, a seis anos-luz de distância. 

Publicidade

Morte de Stephen Hawking 

Em março deste ano, o físico britânico Stephen Hawking morreu aos 76 anos de morte natural. O comunicado de seu falecimento foi divulgado por sua família, na quarta-feira, dia 14. Os filhos do cientista, Lucy, Robert e Tim, homenagearam o pai falando sobre os seus trabalhos. "Foi um grande cientista e um homem extraordinário, cujo trabalho e legado permanecerão por muitos anos", escreveram.

Em março deste ano, o físico britânico Stephen Hawking morreu aos 76 anos de morte natural
Foto: Reuters

A limitação física que a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) lhe impôs desde cedo não foi o suficiente para barrar sua genialidade. Hawking foi o responsável por aprofundar os estudos do físico alemão Albert Einstein com relação à Teoria da Relatividade, além de também ter dado profunda contribuição para as teorias mecânicas e quânticas da física, principalmente no que diz respeito ao funcionamento dos buracos negros.

Seus estudos e contribuições formaram a base da física moderna e elevaram as teorias da astrofísica. Hawking foi responsável pela criação dos livros "Uma Breve História do Tempo" e "O Universo em uma Casca de Noz", que contam sobre a possibilidade de existerem mais do que três dimensões no universo, assim como divagções teóricas de quando o universo começou, partindo do pressuposto do Big Bang. 

Donna Strickland e o Nobel de Física

Depois de 55 anos, o Prêmio Nobel de Física retornou para as mãos de uma mulher. A cientista canadense Donna Strickland, em conjunto com os seus pares Arthur Ashkin, dos Estados Unidos, e Gerard Mourou, da França, criaram uma técnica chamada de "pinça óptica", que possibilita a manipulação de objetos por meio de feixes de luz extremamente concentrados. Esse novo método propiciou a utilização de lasers em tratamentos de câncer e cirurgias. O comitê julgador da condecoração justificou os três vencedores por eles terem "proporcionado invenções inovadoras no campo de física de lasers."

Publicidade
Canadense Donna Strickland foi premiada com o Nobel de Física de 2018 ao lado de dois outros cientistas
Foto: Reuters

Donna foi a terceira mulher a vencer o Nobel de Física. Agora, ela se junta à francesa Marie Curie, que venceu a honraria em 1903, e a americana 

Maria Goeppert-Mayer, que recebeu a condecoração em 1963. O valor recebido pela premiação gira em torno de 9 milhões de coroas suecas, o que é equivalente a R$ 3,9 milhões. A canadense conseguiu superar o estereótipo de um ambiente dominado predominantemente por homens, onde as mulheres são vistas como pessoas que "não são boas em ciências" e menos capacitadas que os homens, e vencer o maior prêmio intelectual de seu campo de estudo.

Projeto Sirius

Na área rural de Campinas, no interior do estado de São Paulo, a 90 quilômetros da capital paulista, está estabelecido o Projeto Sirius. Bancada pelo governo federal, a construção de R$ 1,8 milhões é a aposta do Brasil para elevar a produção científica do País. Sob tutela do Centro Nacional de Pesquisa e Energia e Materiais (CNPEM), a iniciativa será o maior acelerador de partículas em solo nacional, ultrapassando o atual UVX, que foi inaugurado em 1997.

Bancado pelo governo federal, a construção de R$ 1,8 milhões do Projeto Sirius é a aposta do Brasil para elevar a produção científica do País
Foto: LNLS / Reprodução

Entre suas principais funções, o Sirius será responsável pela produção de luz síncrotron, uma luminosidade que só é alcançada pelo aceleramento de partículas na velocidade da luz, isto é, até 300 mil quilômetros por segundo. Esse tipo de atividade possibilitará estudar o funcionamento de como as micro e nano partículas funcionam, já que será possível identificar como esses elétrons, atómos e moléculas atuam quando estão em alta velocidade e gerando energia. Isso será possível por conta dos equipamentos que conseguem traduzir os compostos em três dimensões, em tempo real.

O transplante facial com auxílio de impressora 3D

Neste ano, o transplante facial mais tecnológico occoreu com o americano Cameron Underwood. Após uma tentativa de suicídio, atirando com um revólver em sua própria cara, Underwood sobreviveu, mas desconfigurou todo o seu rosto. Perdeu o nariz, boa parte da mandíbula e quase todos os dentes. Com a ajuda da família Fisher, o jovem de 26 anos conseguiria reconstruir a sua face, após 18 meses do dia em que tentou tirar sua própria vida. 

Publicidade
Cameron foi salvo com enxertos após a tentativa de suicídio (esq.) e conseguiu retomar sua vida após o transplante de rosto (dir.)
Foto: NYU Langone Health / BBC News Brasil

Em janeiro deste ano, o rosto de Will Fisher foi doado para Underwood, o que possibilitou uma cirurgia de transplante facial. Depois de 25 horas no centro cirúrgico do hospital NYU Langone Health, em Nova York, o médico Eduardo D. Rodriguez conseguiu reconstruir a mandíbula inteira de Cameron, incluindo dentes, gengivas e língua. As pálpebras e nariz também precisaram passar pelo procedimento. O hospital utilizou uma impressora 3D para criar uma máscara com base no rosto do doador, a fim de facilitar o processo.

A edição genética

O cientista chinês He Jiankui, em novembro deste ano, apareceu em vídeos divulgados na internet dizendo que teria conseguido editar os genes de dois bebês gêmeos. A alteração do genoma dessas criaças, segundo ele, as impossibilitaria de contrair o vírus HIV no decorrer de suas vidas. Para realizar isso, Jiankui utilizou a tecnologia CRISPR-Cas9, que permite aos pesquisadores copiarem e colarem material proveninete do DNA. 

Cientista He Jiankui mostra livro sobre genoma humano em Shenzhen, na China 04/08/2016 REUTERS/Stringer
Foto: Reuters

A divulgação desse feito por Jiankui causou a revolta. Insitutos médicos, professores e tablóides da China teriam comentado o caso como uma mancha na reputação da comunidade biomédica chinesa, já que fere a ética e apresenta vários riscos de segurança para os seres humanos. O médico, por sua vez, disse que seu objetivo com as edições não era criar bebês "personalizados", com características físicas específicas, mas sim preservar as novas gerações de doenças.

A edição genética é vista como um tratamento experimental pela comunidade mundial de cientistas, ja que não é possível prever as consequências de como essa alteração no DNA pode impactar a vida de quem passar pelo procedimento, assim como dos descendentes desse indivíduo. A Organização Mundial da Saúde (OMS), após a polêmica, decidiu que irá criar um grupo de pesquisa para avaliar os riscos que esse método pode trazer para os seres humanos. 

Publicidade

Aquecimento global

Dados disponibilizados pela ONU neste ano mostraram que 2018 vai entrar para a história. O motivo, porém, não é muito bom: será o quarto ano mais quente registrado na história. De acordo com a Organização Metereológica Mundial, este ano apresentou uma média de calor acima dos índices da base pré-industrial, entre os anos 1850 e 1900. 

De acordo com dados da ONU, 2018 será o quarto ano mais quente registrado na história
Foto: iStock

Todos os 20 anos mais quentes registrados pela ONU ocorreram nos últimos 22 anos. Além disso, os quatro primeiros nesse ranking foram os últimos quatro anos (2017, 2016, 2015 e 2014). Segundo a entidade, como apurou o jornal O Estado de S.Paulo, o mundo não está caminhando para atingir as metas climáticas, e a concentração de gás carbônico na atmosfera continua a bater recordes.

De olho em Marte

O planeta vermelho, vizinho à Terra, foi um dos grandes objetos de pesquisa dos cientistas espaciais neste ano. Agência Nacional de Aeronáutica e Espaço dos EUA, a NASA, foi uma das instituições que se preocuparam em estudar Marte. Em novembro de 2018, a NASA enviou para lá a sonda InSight, carregando um robô, que será o responsável por fazer uma análise inédita do solo. Essa foi a primeira missão dedicada para a exploração do interior do planeta, em que o robô andará pelas dunas marcianas, a fim de registrar os sons e ruídos do solo para identificar como é o núcleo do planeta e também sua profundeza.

Sonda InSight, da Nasa, em ilustração Reuters/Nasa/JPL-Caltech/Divulgação via Reuters
Foto: Reuters

Neste mesmo ano, em julho deste ano, meses antes do envio da sonda InSight, um grupo de cientistas da Agência Espacial Italiana descobriram a presença de água líquida dentro de Marte. Antes, apenas água em sua forma gasosa e congelada tinham sido encontradas no solo marciano. A descoberta, no entanto, encontrou um lago subterrânio, a pelo menos 1 quilômetro de distância da superfície, que tem 20 quilômetros de diâmetro. A presença do elemento é essencial para que se tenha vida em outros planetas, e a descoberta de água perene no planeta vermelho aumenta indícios de que possa ter tido vida por lá, ou que ela ainda existe.

Publicidade
Jeff Bezos, Richard Branson e Elon Musk fizeram fortuna em outros ramos, como a indústria da música e a internet, e querem ser os primeiros a mandar turistas ao espaço
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A conquista de Marte também tem sido o objetivo dos milionários Elon Musk, Jeff Bezos e Richard Branson. Os donos da Tesla, Amazon e Virgin, respectivamente, estão a todo vapor com projetos voltados para a exploração e turismo espacial, e os primeiros e mais cobiçados pontos de viagem para os empreendedores são a Lua e o planeta vermelho. Cada um à sua maneira, estão à procura de criar foguetes mais leves e baratos, assim como estações espaciais que sejam capazes de abarcar grande número de pessoas.

Focando no astro-rei

Além de enviar uma sonda para Marte, a NASA também, neste ano, mandou uma outra para as proximidades do maior astro de nosso sistema: o Sol. A sonda Parker Solar Probe era não tripulada e tem como destino a chamada coroa solar, a área externa da atmosfera do Sol, chegando a ficar "apenas" 6 milhões de quilômetros da estrela, o mais perto que nenhuma outra missão já conseguiu atingir. 

A nave Parker Solar Probe tem como destino a chamada coroa solar, e poderá ficar a "apenas" 6 milhões de quilômetros da estrela
Foto: Glenn Benson/NASA/Handout / Reuters

A expectativa com essa missão da Parker Solar Probe é detectar e analisar o fenômeno compreendido como "tempestades geomagnéticas" e a natureza delas. Além disso, também é objetivo da sonda detectar o padrão dos ventos solares, o que pode dar um maior panorama de como é comportamento de outros astros na galáxia. Na coroa solar, que é composta de plasma, a temperatura pode chegar até dois milhões de graus Celsius. A expedição como um todo custou US$ 1,5 bilhão.

Barnard b 

Astrônomos de dois consórcios internacionais de busca por planetas, o Red Dots Project e o Carmenes, encontraram o astro Barnard b, ou como GJ 699 b, que fica a seis anos-luz da Terra. O exoplaneta, como são chamados os astros que ficam foram do sistema solar, tem dimensões semelhantes à Terra, fica a uma distância até a estrela de seu sistema parecida com a que a Terra fica do Sol, e é primariamente rochoso.

Publicidade
O exoplaneta provavelmente é congelado e muito pouco iluminado – recebe de sua estrela apenas 2% da luz que a Terra recebe do Sol
Foto: ESO/M. Kornmesser / BBC News Brasil

Não há perspectiva de encontrar vida nesse planeta, já que ele é duas vezes mais velho que o Sol e, em uma primeira análise, não apresentou água líquida, que é essencial para o desenvolvimento de organismos.

Veja também:

Projeto Sirius: as mentes por trás da maior e mais complexa infraestrutura científica do Brasil
Video Player
Fonte: Redação Terra
Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações