Segurança Pública vira consenso para a oposição no Rio

Após operação no Jacarezinho, forças políticas anti-Bolsonaro miram convergências em conversas que buscam criar aliança ampla no Estado

10 mai 2021 - 05h10
(atualizado às 07h29)

O tema da Segurança Pública deve ser o principal ponto de convergência das forças de oposição em 2022 no Rio de Janeiro, berço do bolsonarismo e comandado hoje pelo governador Cláudio Castro (PSC), aliado do presidente Jair Bolsonaro. A operação policial que resultou na morte de 28 pessoas na favela do Jacarezinho, zona norte da capital fluminense, na quinta-feira passada, reforçou a ideia entre participantes desses grupos.

Policiais carregam corpo durante operação na favela do Jacarezinho
Policiais carregam corpo durante operação na favela do Jacarezinho
Foto: Ricardo Moraes / Reuters

Líderes partidários de diferentes campos ideológicos vão tentar se contrapor à tese de que "bandido bom é bandido morto", discurso presente na eleição de 2018 do então governador Wilson Witzel e que tem força dentro do bolsonarismo. Acusado de corrupção na Saúde durante a pandemia, Witzel, que foi cassado, tinha como foco de seu discurso uma política de segurança calcada em duras operações policiais.

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Dos nomes que fazem oposição ao bolsonarismo, participam das conversas quadros importantes da política fluminense, como os deputados federais Marcelo Freixo (PSOL), Alessandro Molon (PSB) e Rodrigo Maia (DEM), além do prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM, mas de saída para o PSD), do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, nomes do PT e outros partidos de esquerda.

Eles têm tem destacado a necessidade de construir uma política de Segurança que vá além das operações policiais - uma bandeira histórica de Freixo, que hoje é o principal nome colocado para o pleito.

O grupo político de Paes e Maia - incentivador da candidatura do advogado Santa Cruz ao governo do Rio, mas aberto a composições - criticou abertamente o resultado da operação no Jacarezinho. Dois dias antes dela, em entrevista ao Estadão/Broadcast, o prefeito já havia apontado a Segurança como um dos principais consensos entre seus aliados e os políticos mais à esquerda, além, segundo ele, da importância da retomada econômica do Estado.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem defendido uma frente ampla no Rio e manifestou isso a Freixo em encontro que tiveram na última semana. O petista, que considera o Estado uma peça-chave no tabuleiro para a disputa nacional do ano que vem, foi outro a repudiar publicamente a matança no Jacarezinho.

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Em Brasília, Lula se reuniu com Molon e Maia e se mostrou simpático à criação de um "palanque múltiplo" em terras fluminenses, capaz de receber os principais representantes de oposição ao presidente Jair Bolsonaro. Essa hipótese vem sendo citada a todo momento pelos políticos do Rio.

Um levantamento do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF) mostrou que as ações das polícias no Rio têm pouca justificativa legal, apreendem poucas armas e drogas e resultam em muitas mortes. A soma desses fatores levou os pesquisadores à conclusão de que apenas 1,7% das incursões entre 2007 e 2020 na região metropolitana podem ser consideradas eficientes.

Apesar dos dados e dos relatos impactantes sobre o que ocorreu no Jacarezinho - e em outras operações policiais -, a classe política sabe que o discurso de "bandido bom é bandido morto" ainda encontra respaldo em parcelas da população.

"Nosso problema não é de projeto, é de comunicação. Para todo problema complexo há uma resposta simples e errada, que é o que vem sendo feito no Rio", diz o deputado Molon. "O projeto tem que envolver prevenção social focalizada, com políticas públicas atraindo crianças e adolescentes e disputando seu futuro, além de uma repressão qualificada, a partir de inteligência e investigação."

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Aliado de Bolsonaro, Castro, empossado em definitivo no último dia 1º após um período como interino, lamentou as mortes no Jacarezinho, mas buscou destacar o "longo e detalhado trabalho de inteligência e investigação".

Um dia antes, ele recebera Bolsonaro no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governo. Castro negou que tenha havido intenção eleitoral na operação, mas o "timing" dela jogou luz sobre um movimento que já se desenhava desde que a volta de Witzel ao cargo passou a ser tida como impossível: uma maior 'bolsonarização' do novo governador, que é desconhecido do eleitorado e precisa se viabilizar para 2022.

Autor da chamada ADPF das Favelas - Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental que está em discussão no Supremo Tribunal Federal (STF) e busca aumentar o controle externo sobre a atividade policial no Rio -, o PSB de Molon é um possível destino para Freixo, que encontra resistência interna no PSOL na tentativa de buscar o centro. Contudo, isso só deverá ser decidido mais para frente, já que a janela para a troca partidária de deputados abre apenas no ano que vem.

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