Suspeito de liderar invasão a celular de Moro culpa colega

Preso desde 17 de setembro, Thiago Martins, o 'Professor', diz não saber se alguém pagou pelas mensagens e responsabiliza hacker "Vermelho"

10 dez 2019 - 12h05
(atualizado às 12h50)

Apontado nas investigações da Polícia Federal como sendo mentor do grupo que invadiu os celulares das principais autoridades do País, dentre elas o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o atual ministro da Justiça, Sergio Moro, o programador Thiago Eliezer Martins responsabilizou o colega Walter Delgatti, o "Vermelho", pelo crime. Preso na superintendência da PF em Brasília desde 17 de setembro, ele aceitou responder a perguntas do Estado por meio de carta. Martins garante não saber se alguém pagou pelas mensagens ou as encomendou.

No inquérito sigiloso da Operação Spoofing consta que o programador é dono de imóveis, restaurantes e uma casa financeira em Brasília. Como o Estado revelou, no último dia 3 de outubro, o programador era chamado por Delgatti pelo codinome de "Professor", em referência à série espanhola La Casa de Papel. No seriado, o "Professor" é o mentor dos assaltos que marcam a trama.

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Para a Polícia Federal, as respostas para encontrar o possível mandante do roubo das mensagens e para o pagamento pelo vazamento das conversas estariam com o "Professor", e não com "Vermelho".

Sede da Superintendência da Polícia Federal em Brasília
Sede da Superintendência da Polícia Federal em Brasília
Foto: Reprodução/Google Maps / Estadão Conteúdo

Você é o mentor do grupo acusado de hackear várias autoridades do País?

Não, eu não sou o mentor. Eu não teria motivo algum para tal ato.

Você invadiu ou roubou mensagens de celulares de autoridades?

Não invadi, muito menos roubei alguma mensagem. O próprio Walter já admitiu que agiu sozinho. Eu estou sendo acusado de invadir especificamente a conta do deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP). No pedido da minha prisão preventiva eles dissimulam e distorcem totalmente os laudos técnicos do próprio inquérito para induzir o Judiciário ao erro.

Alguém pagou pelas mensagens ou encomendou?

Antes da deflagração da primeira fase da operação, o Walter me disse, sim, que teve acesso ao Telegram de autoridades e que ele era o responsável do repasse de arquivos ao site The Intercept.

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Qual é a sua participação na invasão do celular de autoridades?

Nunca tive qualquer participação. O próprio Walter já alegou que efetuou todas as invasões sozinho. E todos os laudos periciais técnicos informam que todas as invasões partiram do computador e residência do Walter.

Você teve orientação de algum político ou autoridade para que tentasse acessar celular de autoridades?

Nunca tive qualquer contato com o meio político e nunca me aproximei de qualquer tipo de autoridade. Portanto, não existiria o porquê de possuir qualquer motivação para este ato.

Como está acompanhando essa situação toda da prisão? Tem colaborado com as autoridades?

Até agora estou acompanhando perplexo e indignado. Pois assim que houve a prisão do Walter, por diversas vezes tentei me apresentar voluntariamente e ajudar a esclarecer todos os fatos. Fui rejeitado em todas as tentativas. Meu representante legal protocolou algumas vezes minha disponibilidade para esclarecimentos, inclusive a última vez que tentei foi aproximadamente uma semana antes da minha prisão temporária. Mas o delegado do caso simplesmente informou que eu não possuía nada a colaborar com o caso. As petições estão nos autos.

Tenho colaborado, sim, com tudo. Forneci espontaneamente as senhas do meu computador e do meu aparelho celular. Apenas fico triste, pois está virando uma caça às bruxas, buscando de qualquer forma culpados sem preocupação com os princípios e garantias individuais.

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Acredita que a delação do Luiz Molição pode te implicar de alguma forma?

(Não teve resposta)

Acha que o Walter pode ter recebido dinheiro pela venda das mensagens? Ele chegou a comentar algo contigo?

Não tenho conhecimento de pagamento e também não sei se houve algum montante. Mas, por relatos do próprio Walter, até pouco antes da sua prisão, ele sempre eufórico, antes de vazar as mensagens para o Glenn (Greenwald, do Intercept), falava que descobriu e fazia tudo só. E falava que o que estava fazendo não tinha preço e que o Brasil precisava urgentemente saber da verdade (mensagens mostram o então juiz Sérgio Moro e procuradores da Lava Jato em Curitiba discutindo o andamento das investigações).

Sobre o microfone que teria sido encontrado num encanamento de chuveiro, foi você quem encontrou com a ajuda do Walter? Onde está este microfone hoje?

Eu que tirei o microfone. E eu entreguei ao meu advogado, que levou com ele e contratou uma perícia particular, além da investigação que está sendo feita pela corregedoria.

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