Presidente eleito dos EUA não descarta uso de força militar para assumir controle desses territórios. Republicano também fala em remover fronteira com Canadá e rebatizar Golfo do México.O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, se negou nesta terça-feira (07/01) a descartar o uso de força militar para assumir o controle do Canal do Panamá e da Groenlândia, ao declarar o controle dos Estados Unidos sobre ambos como vitais para a segurança nacional americana.
As afirmações do republicano provocaram críticas internacionais.
Ao falar a repórteres menos de duas semanas antes de assumir o cargo, em 20 de janeiro, e enquanto uma delegação de assessores e conselheiros que inclui seu filho Donald Trump Jr. está na Groenlândia, Trump deixou em aberto o uso das forças militares americanas para proteger ambos os territórios.
Embora a entrevista para a imprensa em sua residência em Mar-a-Lago, na Flórida, devesse ser sobre um investimento de 20 bilhões de dólares dos Emirados para construir novos centros de dados nos Estados Unidos, o republicano rapidamente passou desse assunto para uma ampla gama de questões nacionais e internacionais por mais de uma hora.
E, como sempre, foi difícil distinguir anúncios reais de opiniões exageradas entre suas declarações sensacionalistas.
"Precisamos deles para segurança econômica"
Perguntado se ele poderia assegurar que não usaria as Forças Armadas para anexar o Canal do Panamá, uma artéria vital para a navegação global, e a Groenlândia, um território autônomo da Dinamarca, Trump disse: "Não posso assegurar para nenhum deles".
"Posso dizer o seguinte: precisamos deles por motivos de segurança econômica. Não vou me comprometer com isso [descartar a ação militar]. Pode ser que tenhamos que fazer alguma coisa", disse aos repórteres. E acrescentou: "Nós precisamos da Groenlândia para fins de segurança nacional".
A Groenlândia, que abriga uma grande base militar dos EUA, é um território autônomo da Dinamarca, um aliado de longa data dos EUA e membro fundador da Otan. Trump lançou dúvidas sobre a legitimidade da reivindicação da Dinamarca sobre a Groenlândia.
O Canal do Panamá tem sido controlado exclusivamente pelo país de mesmo nome por mais de 25 anos. Os EUA devolveram a área do Canal do Panamá ao país em 1979 e encerraram sua parceria conjunta no controle da hidrovia estratégica em 1999.
Trump já declarou em várias ocasiões que gostaria de retomar o Canal do Panamá se os pedágios para os navios americanos não forem reduzidos.
Pouco antes do último Natal, Trump também dissera que "para o bem da segurança nacional e da liberdade em todo o mundo, os Estados Unidos acreditam que a propriedade e o controle da Groenlândia são uma necessidade absoluta".
O filho do presidente eleito, Donald Trump Jr., chegou à Groenlândia na terça-feira para uma visita particular como "turista", afirmando que nenhuma reunião oficial estava planejada.
Críticas de Panamá, Dinamarca e França
Nesta quarta-feira, o governo do Panamá rejeitou categoricamente as afirmações de Trump sobre controlar o canal. "A soberania de nosso canal não é negociável", disse o ministro das Relações Exteriores panamenho, Javier Martínez-Acha.
Em relação à alegação de Trump de que soldados chineses operam a hidrovia que liga o Atlântico e o Pacífico, o ministro disse: "As únicas mãos que operam o canal são panamenhas e é assim que vai continuar".
A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, disse à emissora TV2 que ela não "tem a fantasia" de que os planos de Trump para a Groenlândia possam sair do papel.
As declarações de Trump envolvendo um membro da UE também foram rejeitadas pelo ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noel Barrot. "Obviamente, não há dúvida de que a União Europeia não permitiria que outras nações do mundo atacassem suas fronteiras soberanas, sejam elas quais forem", disse ele à rádio France Inter. "Somos um continente forte", acrescentou.
Anexação do Canadá
Na entrevista em Mar-a-Lago, o presidente eleito também disse que a remoção da fronteira "artificialmente desenhada" entre os EUA e o Canadá seria um benefício para a segurança nacional.
Após o anúncio da renúncia do primeiro-ministroJustin Trudeau, na segunda-feira, Trump disse que o Canadá deveria se fundir com os Estados Unidos, um comentário que enfureceu o país vizinho do norte.
Trudeau, declarou, numa postagem no X, não haver chance de o Canadá se fundir com os Estados Unidos. A ministra das Relações Exteriores do Canadá, Mélanie Joly, afirmou, também na mesma plataforma, que "os comentários do presidente eleito Trump mostram uma completa falta de compreensão do que faz do Canadá um país forte. Nossa economia é forte. Nosso povo é forte. Nunca recuaremos diante de ameaças".
Otan e Golfo do México
Trump também relançou suas acusações contra a Otan, pressionando seus membros a aumentarem seus gastos com defesa para o equivalente a 5% do PIB, reiterando suas alegações de que esses países pagam pouco pela proteção dos EUA.
"Todos eles podem pagar, mas deveriam fazê-lo com 5%, não com 2%", disse Trump aos repórteres.
O magnata republicano não esconde o pouco respeito que tem pela Aliança Atlântica, um pilar da segurança na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, insistindo que seus membros não contribuem o suficiente para o apoio militar dos EUA para sua defesa.
Em especial, ele semeou o pânico durante a campanha eleitoral ao ameaçar acabar com as garantias de proteção aos países da Otan contra a Rússia, que lançou uma invasão na Ucrânia em fevereiro de 2022, se eles não aumentarem seus gastos com defesa.
"Se eles pagarem suas contas e eu achar que eles nos tratam de forma justa, a resposta é absolutamente que eu permaneceria na Otan", disse ele numa entrevista recente.
Os países da Otan se comprometeram há dez anos, após a anexação da península ucraniana da Crimeia pela Rússia, a dedicar pelo menos 2% de seu Produto Interno Bruto (PIB) aos gastos militares. Dos 32 membros, 23 cumpriram esse compromisso em 2024.
O próprio chefe da Otan, Mark Rutte, alertou no mês passado que a Europa teria que gastar muito mais para garantir sua defesa.
Em outro anúncio impactante, mas com consequências certamente mais insignificantes, Trump disse que, no seu retorno à Casa Branca, em 20 de janeiro, os Estados Unidos rebatizariam o Golfo do México como "Golfo da América".
"O Golfo da América, que nome lindo", exclamou ele, antes de atacar o México, que "precisa parar de permitir que milhões de pessoas entrem sorrateiramente em nosso país", referindo-se à travessia da fronteira sul por milhares de migrantes.
md (AFP, AP)