Ao ser questionado sobre joias recebidas pela Presidência da República e supostamente vendidas ilegalmente pelo tenente-coronel Mauro Cid, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) declarou ontem (18) que seu então ajudante de ordens "tem autonomia".
Ao jornal O Estado de S. Paulo, o político disse: "Olha, ele tem, como está na matéria da 'Folha', tem autonomia. Eu não ia mandar ninguém vender nada". Em seguida, Bolsonaro foi questionado se o tenente-coronel "agiu por conta própria", e respondeu que "joias 'é tido' como personalíssimo. Pertence ao presidente. Até 2021".
Na quinta-feira (17), o advogado de Cid, Cezar Bittencourt, informou que seu cliente iria confessar que Bolsonaro ordenou que ele vendesse as joias dadas de presente pela Arábia Saudita ao governo brasileiro e que entregou o dinheiro ao ex-presidente. Isso indicaria uma reviravolta na estratégia de defesa do militar no caso das joias.
"Eu só digo uma coisa: Mauro Cid é inocente", afirmou. "É evidente que Bolsonaro é quem deu a ordem. Cid, como um militar disciplinado, seguiu ordens", acrescentou o advogado. Mais tarde, ele disse que estaria se referindo somente ao relógio Rolex.
De acordo com a nova versão que será apresentada pelo tente-coronel, Jair Bolsonaro teria pedido para o auxiliar resolver a venda das joias. O dinheiro da comercialização teria sido repassado ao ex-presidente em espécie, para não deixar rastro.
Após uma reunião com seu novo advogado, o militar foi aconselhado a abrir o jogo em razão do conjunto de provas reunidas até o momento pela investigação feita pela Polícia Federal (PF) e também pela possibilidade de ser o maior responsabilizado.
Mauro Cid está preso desde maio e é suspeito de adulterar os cartões de vacinação de Bolsonaro e familiares para que pudessem entrar nos Estados Unidos, além de participar do esquema de desvio e venda de joias recebidas pela Presidência. Ele foi um dos principais homens de confiança do então presidente ao longo do mandato.