Na manhã desta quinta-feira, 14, a Polícia Militar ainda vasculhava o quarto de Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, em um albergue na Ceilândia, Distrito Federal. Na noite anterior, ele havia promovido um atentado na Esplanada dos Ministérios. Os últimos dias de vida de Francisco Wanderley foram marcados por uma mudança abrupta de comportamento.
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Vizinho e frequentador habitual do albergue, Luiz era descrito como simpático e participativo. Gleide Alves, anfitriã e antiga inquilina, destacou ao Estadão: “Voltou do mesmo jeitinho. Solícito, prestativo, se comunicava muito bem. Não falava de política, não. Falava dos passarinhos, das minhas plantas. Gostava de saber as coisas da Bíblia.” Gleide conta que ele até ajudou a plantar cebolinhas no jardim.
Entretanto, na última semana, seu comportamento mudou. “De repente, ele parou de conversar com a gente, fazia uns dois dias”, lembra Gleide. Na manhã do atentado, Luiz saiu do alojamento vestido de blazer colorido, varreu a entrada de seu quarto e partiu, deixando para trás uma mensagem peculiar no espelho: “Débora Rodrigues, por favor, não desperdice batom. Isso é para deixar as mulheres bonitas!!! Estátua de merda se usa TNT”. A mensagem fazia referência à estátua da Justiça, alvo de seu ataque, e à frase escrita por Débora Rodrigues dos Santos durante os atos de 8 de janeiro de 2023.
No bar onde Luiz era conhecido como “capixaba”, a transformação de seu comportamento também foi percebida. O dono do local, Arroz, recordou a última visita de Luiz na noite de terça-feira, quando ele pediu para escrever seu nome de campanha — Tiü França — na parede e entoou a música “Decida” de Milionário e José Rico, com a frase: “Quando você ouvir essa música, vai se lembrar de mim”.
Nas redes sociais, Francisco Wanderley, conhecido como Tiü França, compartilhou teorias anticomunistas e atacou figuras do governo e do STF. Seu perfil no Facebook, removido após o atentado, seguia páginas da extrema-direita e reproduzia narrativas conspiratórias.
Uma antiga amiga de Rio do Sul, surpreendida pela radicalização do ex-colega, disse ao Estadão: “Dez anos atrás, ele não falava de política. O fanatismo é a única explicação para o que ele se tornou”.