No dia 6 de janeiro de 1989, o Brasil parou diante da TV para assistir ao fim de um mistério. “Quem matou Odete Roitman?” era a pergunta feita por todo mundo no País desde a cena chocante do assassinato da grande vilã de ‘Vale Tudo’, exibida em plena noite de véspera de Natal.
Mas a imagem simbólica do fim da novela não teve a ver com o homicídio da empresária vivida por Beatriz Segall (1926-2018) e sim com o desfecho do executivo corrupto Marco Aurélio, outro vilão da trama. Em fuga num jatinho, com milhões de dólares roubados, ele dá uma ‘banana’ em câmera lenta e com sorriso debochado.
Aquele gesto que entrou para a história da teledramaturgia representava um tapa na cara da sociedade. Um deboche na ficção para denunciar a corrupção sistemática, o ‘jeitinho brasileiro’ de levar vantagem, a falta de ética, o enriquecimento ilícito e a impunidade. Pouca coisa mudou, não é, Brasil?
Trinta e dois anos depois, Reginaldo Faria refez o gesto de seu personagem. Ele postou no Instagram o vídeo em que dá uma ‘banana’ a bordo de um avião. Desta vez, o significado é outro. “Aqui para os negacionistas”, diz a legenda. O ator, de 83 anos, já recebeu as duas doses da vacina contra a covid-19.
Em março, ele se viu obrigado a divulgar um vídeo de celular mostrando o momento da vacinação. Foi uma resposta à onda de ataques on-line e manchetes desfavoráveis na imprensa em consequência do boato de que seria negacionista e antivacina. “Sou totalmente a favor da vacina. Não sou louco”, esclareceu.
O veterano da TV estava escalado para um personagem de destaque em ‘Um Lugar ao Sol’, folhetim que vai substituir a reprise de ‘Império’ em outubro. Para evitar maior exposição ao coronavírus, a Globo tirou do elenco os atores mais velhos. Reginaldo Faria ainda aparecerá na próxima trama das 21h, porém com outro personagem e somente na etapa final, quando, acredita-se, a pandemia estará enfim sob controle.