Uma pesquisa realizada pela plataforma digital de educação Younder, em parceria com o Instituto Mobih, traz um panorama das dificuldades enfrentadas diariamente pelas mulheres na mobilidade. Batizado de Mobilidade e as Mulheres, o levantamento inclui uma pesquisa quantitativa on-line feita com 203 mulheres brasileiras e outros recortes, e reúne o apoio de especialistas em tecnologia para educação do trânsito, mobilidade, diversidade e inclusão.
O estudo tem como objetivo oferecer insumos para embasar argumentos e ideias que promovam reflexões e mudanças positivas para o público feminino. Um dos diferenciais da pesquisa é a análise de nuances dentro dos grupos sociais, que não são levadas em consideração, especialmente as relacionadas a gênero.
A amostra indica que 40% das mulheres vivem em residência com somente um carro, sendo que, em 55% das oportunidades o homem fica com o veículo nesses lares. Além disso, 68% dos homens que ficam com o automóvel único possuem relações conjugais, enquanto 32% são familiares. Dentre os motivos analisados, os homens geralmente preferem um carro para ter mais controle sobre chegada e saída, enquanto a prioridade das mulheres é manter a própria privacidade.
Além disso, outra questão abordada no estudo foi o assédio sofrido pelo público feminino. Por utilizarem menos o carro próprio, as mulheres são mais ativas na utilização de aplicativos de transporte. Segundo levantamento feito pela Consultoria BCG no último ano, 60% das mulheres utilizaram aplicativos ao menos uma vez por semana. No entanto, seja no transporte público, por aplicativo ou em táxis, a privacidade não é respeitada.
A pesquisa indica que, dentre as brasileiras com mais de 18 anos, 97% afirmaram que já passaram por situações de assédio sexual no transporte público, por aplicativo ou em táxis. Os dados são dos Institutos Patrícia Galvão e Locomotiva e apontam que 71% das mulheres conhecem alguma mulher que já sofreu assédio em espaço público.
Como se não bastasse esse problema, o estudo também expõe as condições dos trajetos feitos por mulheres. “Os obstáculos começam ao sair de casa: calçadas esburacadas, ruas sem sinalização, falta de iluminação em muitos locais. Desde 2016, decidi não utilizar automóvel e passei a usar transporte público e aplicativos, por isso posso listar sem medo as inúmeras questões que me atravessam antes de virar a chave do meu apartamento antes de sair para os meus compromissos”, argumenta a consultora Ana Bavon.
Mulher ao volante NÃO é perigo constante
Ao contrário do que muitos pensam, mulher ao volante não é sinônimo de perigo constante. Segundo o relatório anual da Seguradora Líder -- responsável pelo seguro DPVAT -- cerca de 75% das indenizações pagas no Brasil em 2019 foi para vítimas do sexo masculino, mantendo o mesmo comportamento dos anos anteriores. Já para mulheres, o índice foi de apenas 25%, um terço do indicado para os homens.
Para a especialista em segurança e educação no trânsito, Roberta Torres, a solução para o fim do preconceito contra as mulheres na mobilidade é através do debate sobre essa questão. “Embora os dados estatísticos demonstrem exatamente o contrário, crescemos ouvindo o ditado ‘Mulher ao volante, perigo constante’ e, por trás dele, existe uma cultura de gênero que precisa ser cessada. Levantar este debate é essencial para um trânsito mais humano e justo”, sugere Torres.