Há três anos, pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) vêm desenvolvendo e aprimorando o método que utiliza a pele de tilápia para substituir o tecido humano. A técnica mostrou ótima eficácia no tratamento de queimaduras e de algumas doenças ginecológicas.
Neste ano, os investigadores deram mais um passo importante nesse estudo e usaram a pele de tilápia para uma cirurgia inédita de reconstrução vaginal de uma mulher transexual.
A paciente já havia sido submetida a uma cirurgia de redesignação sexual, porém apresentava um canal vaginal de pequenas proporções, o que gerava desconforto e problemas funcionais.
O procedimento foi realizado no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher, vinculado à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A cirurgia durou três horas, cerca de um terço do tempo do tratamento convencional, e foi um sucesso.
Esse método substitui a do enxerto com parte do intestino, mais invasiva, demorada e com período de recuperação maior. Além disso, o custo dessa cirurgia é muito menor.
De acordo com os investigadores, a esterilização da pele da tilápia é mais simples em comparação com a técnica usada para outros materiais biológicos, pois exige doses menores de radiação. Outro ponto positivo é que a tilápia tem um colágeno mais estável, denso e natural do que outros tipos de enxerto.
A intervenção ocorreu sem complicações e a paciente, que não quis ter sua identidade revelada, teve alta em poucos dias.
Procedimentos parecidos com esse já haviam sido realizados, segundo o professor Leonardo Bezerra, da Universidade Federal do Ceará (UFC), responsável por criar o método, a técnica teve resultados positivos em 11 procedimentos feitos até agora em pacientes com síndrome de Rokitansky e câncer vaginal.
Atualmente, há estudos sobre o uso da tilápia em sete estados do Brasil e seis pais, com 43 projetos de pesquisa em andamento.
"Estamos desenvolvendo produtos que ainda serão testados: válvulas cardíacas, vasos para [procedimentos de] revascularização, [uso da pele da tilápia para] hérnia abdominal, dentre outros. São inúmeros os produtos desenvolvidos laboratorialmente", afirmou o presidente do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), Edmar Maciel Lima Júnior, ao site da Universidade Federal do Ceará.