O curta braslleiro "Manhã de Domingo" recebeu nesta quarta o Urso de Prata, ou o Prêmio do Júri oficial do Festival de Berlim 2022. Única produção do Brasil que concorria ao Urso de Ouro nesta 72ª edição do festival, o filme dirigido por Bruno Ribeiro levou o segundo prêmio principal da competição.
Além de diretor, Bruno Ribeiro assina o roteiro do filme que tem produção executiva de Laís Diel e a pianista Raquel Paixão como protagonista. "Dedico [o prêmio] para a minha mãe, que morreu durante a pandemia, mas que foi quem mais me apoiou para que eu me tornasse um cineasta", declarou o diretor Ribeiro quando recebeu seu Urso de Prata.
Na trama, Raquel Paixão que também é pianista, vive Gabriela, uma jovem pianista negra que irá se apresentar em seu primeiro grande recital. Mas um sonho com sua mãe, já falecida, desestabiliza Gabriela que, inquieta, passa a temer que sua apresentação seja um fracasso. Em uma narrativa sutil, mas forte, que ressalta a experiência sensorial tanto da personagem quanto do espectador, Gabriela passa por vários encontros ao longo de um dia, em uma jornada de reconciliação com suas memórias e sua mãe.
Na coletiva de imprensa após a premiação, Bruno afirmou que "este prêmio significa muito para mim mas para toda a equipe que o fez porque hoje no Brasil a gente vive uma situação muito complicada onde é muito difícil não só encontrar financiamento mas também porque temos um governo que ativamente tenta destruir nossa cultura e cinema. E acho que é muito importante não só para nós que estamos aqui e também mandar uma mensagem de que é possível fazer arte e perseguir seus sonhos."
Não por acaso, e sem auxílio público para representar o Brasil na Berlinale (como ocorreu em diversas outras edições de festivais internacionais com outros filmes, como parte da política pública cultural do governo brasileiro), a equipe de "Manhã de Domingo", para viabilizar sua ida a Berlim, realizou uma campanha de arrecadação de recursos ( doações online).
Em entrevista ao Plano Geral, Bruno comentou ainda que "a gente entende o contexto que o Brasil está atravessando não só no cinema como na área cultural de forma geral. A gente acabou de abrir uma produtora; e estar aqui é importante não só no sentido de ser obviamente uma vitrine muito especial e enorme do nosso trabalho para o mundo. Mas também é um festival que abre muitas portas no sentido profissional, que talvez nos dê outras possibilidades para pensar a carreira da nossa produtora", comentou Bruno.
"É a primeira vez que a gente participa da Berlinale. Então, a gente ainda está entendendo qual o peso de ter um filme na Berlinale, mas a gente pode sentir a partir destes dias aqui é que é realmente um lugar de abertura de horizontes e de possibilidades para a gente", completou o diretor.
"O que a gente tem entendido, pela recepção e por tudo, é que nossa presença aqui tem sido muito política. Na Berlinale Shorts, nós somos 21 curtas. São dois curtas da América do Sul, o nosso e um do Peru também. A gente percebe a diferença. Ontem foi a exibição desse curta peruano. E a galera não consegue permanecer em peso aqui, com equipe e elenco e tudo. Enquanto os curtas europeus, e outros, as equipes estão em peso aqui", complementou a produtora Laís Diel.
"E por onde a gente passa as pessoas falam da situação do Governo atual. Então, a gente entende que está sendo super importante e representativo estarmos aqui e, apesar de tudo, a gente está aqui representando nosso filme mas também uma classe que já tem sofrido há muito tempo", acrescentou Laís.
O filme, rodado em 2019 no Rio de Janeiro e Magé tem a produção e distribuição da Reduto Filmes, onde Laís Diel atua ao lado de Adler Costa, Bruno Ribeiro e Tuanny Medeiros.