Se tem um super-herói que une nerds e críticos de cinema, é o Batman. Desde os filmes de Tim Burton a partir do final dos anos 80, o herói da DC é aquele que mais permite aos diretores manterem uma certa marca autoral em seus filmes.
Pois bem, chegamos ao oitavo filme solo do Homem-Morcego, que só neste século já ganhou três encarnações no cinema: Christian Bale, Ben Affleck (este nem teve filme solo, coitado) e agora Robert Pattinson – que depois da franquia Crepúsculo vem construindo uma bela carreira, filmando com Cronenberg, Christopher Nolan, Claire Denis e quem mais aparecer.
Se a trilogia de Nolan estrelada por Bale já era de um dark total, este novo Batman consegue ser mais escuro, sinistro e violento ainda. Depois de uma pandemia e com uma nova guerra assustando o mundo, será que precisávamos de um filme sem um pingo de humor e de esperança? Matt Reeves é o diretor que fez a mesma coisa com o universo do Planeta dos Macacos, fazendo dos símios guerreiros um caldeirão de guerra e violência.
Muitas coisas provocam estranhamento desde o início. Se o Batman sempre foi essa criatura misteriosa que age nas sombras e à margem da lei, desta vez ele já aparece ao lado do Comissário Gordon, e no meio de dezenas de policiais, na cena de um crime. Os policiais estranham a fantasia dele, mas ninguém sequer pede pra ele tirar a máscara.
O fio condutor desta vez também é meio desanimador: um assassino em série está agindo em Gotham, matando diversos policiais. É a base da maioria dos filmes policiais, mas não parece a melhor trama para um herói e seus vilões. Batman e o comissário Gordon percorrem todas as cenas do crime num estilo 100% copiado do “Seven” de David Fincher. E a investigação vai desvendar uma forte ligação dos policiais com uma máfia subterrânea local. Essa máfia nos faz sentir dentro de um filme de Martin Scorsese, se o diretor de “Os Bons Companheiros” só filmasse à noite. Nesse cenário, temos John Turturro, que participou de “Touro Indomável”, e o bonitão Colin Farrell irreconhecível como o Pinguim – uma caracterização que remete ao Al Capone de Robert de Niro em “Os Intocáveis”.
Paul Dano arrasa como o psicopata Charada, mas a questão que fica é... quando poderíamos imaginar um Charada totalmente desprovido de humor, numa figura que lembra mais um terrorista de Abu Ghraib em suas aparições na internet? Dá um pouco de saudades do Jim Carrey no carnavalesco “Batman Eternamente” – que nem era um bom filme, mas era feliz. Ele e o Pinguim resumem bem o espírito deste novo “Batman”: não existe fantasia alguma em torno dos vilões. Tudo é hiper-realista até a medula. Cansativo.
Nesse poço de amargura, quando “Batman” tenta ter um mínimo de amor ou esperança, a coisa não encaixa. A aproximação romântica de Batman com a Mulher-Gato (Zoe Kravitz) fica só no beijinho adolescente. E o final, que promete um novo tempo para Gotham City, também soa apenas cafona, com sua trilha carregada e órfãos desamparados. Dá vontade de pedir ao novo Batman: mais amor e humor, por favor. Estamos precisando.