Há exata uma semana longe de casa, a brasileira Jéssica Costa passou a torcer para que o vulcão Fagradalsfjall entre em erupção. Enquanto isso não acontece, ela, que está grávida de 7 meses, amarga na incerteza de não saber quando poderá voltar para casa - ou se poderá voltar. Jéssica é uma dos mais de 3,6 mil habitantes da cidade de Grindavik, localizada na península de Reykjanes, na Islândia. Em poucas horas, na noite da última sexta-feira, 10, cada um deles precisou deixar suas casas e quase tudo o que tinham para trás.
A cena é apocalíptica. Jéssica conta ao Terra que sentiu como no filme 2012, em que a humanidade é ameaçada por catástrofes naturais. "Era muita gente na rua. Era o posto de gasolina cheio. Eram as pessoas indo embora. Foi muito desesperador", relembra a chef de cozinha.
Ela e a família perceberam que havia algo errado antes mesmo do anúncio do governo de que seria necessário evacuar a cidade. Naquela tarde de sexta, Jéssica estava ajudando uma amiga, também brasileira e grávida, a enrolar brigadeiros para o seu chá de bebê.
"A casa fazia um tremor, um balanço. E continuava. Era como se você estivesse em uma cachoeira rasa. Essa é a sensação. Como se eu estivesse em uma cachoeira rasa, sentindo a água forte passar por ali", explica. Os abalos sísmicos são comuns na Islândia e Jéssica já estava acostumada com eles. Mas quando os tremores se tornaram ininterruptos, ela e o marido se assustaram e decidiram deixar o local. Até então, eles achavam que iriam apenas passar uma noite fora.
Cidade repartida
Quando retornar, Jéssica não sabe se vai encontrar tudo no lugar. Registros da cidade de Grindavik mostram fendas enormes que se abriram no chão. "Metade da cidade de Grindavik se partiu em duas partes, e tem uma parte da cidade que está afundando. A gente já sabe que tem lugares que estão destruídos, casas destruídas. A gente já sabe que algumas pessoas não vão conseguir voltar", diz.
A informação que Jéssica tem é de que sua casa ainda está de pé, mas ela teme por danos estruturais que podem ter atingido o imóvel. Em dado momento, foi estimado que 100 terremotos atingissem a região da cidade a cada uma hora.
A brasileira considera que está em uma situação privilegiada em meio ao caos. Ela, que trabalha como chef no renomado spa termal de Blue Lagoon, está abrigada com o marido, o filho e a gata em um apartamento cedido pela empresa do esposo.
"A gente tem muita sorte em relação a isso, porque não estamos precisando pagar aluguel. Já que todo mundo que mora ali ainda tem que pagar as suas casas, que estão para trás. E todo mês é um valor altíssimo que a gente tem que pagar de financiamento de casa", diz.
Ela explica que o governo da Islândia não está oferecendo ajuda financeira aos que precisaram deixar suas casas, mas oferece abrigo a quem precisa. Uma queixa de Jéssica é com relação aos bancos que, mesmo com a situação, não trouxeram opções de congelamento de parcelas para as famílias. "As coisas aqui na Islândia são absurdamente caras. E claro, quando você fala que uma pessoa perdeu a casa dela, ela perdeu tudo."
A certeza na incerteza
Daqui menos de dois meses, a única coisa que Jéssica sabe que irá acontecer é a chegada de mais um menino em sua família. Ela preferiu não revelar o nome do neném que está por vir, mas garantiu que os familiares do Brasil saberão pronunciá-lo, mesmo com a influência islandesa.
Das coisas que não havia conseguido levar, o que mais a preocupava era o enxoval do bebê. Por sorte, ou pressentimento, ela havia arrumado todas as roupinhas do filho e as deixado juntas. Na última segunda-feira, 13, os moradores de Grindavik receberam uma autorização para retornar à cidade para buscar pertences e o marido de Jéssica conseguiu recuperar o enxoval do pequeno. "Já me tranquilizou", diz a brasileira.