Amazônia e Pantanal têm piores queimadas das últimas duas décadas, alerta agência europeia

Novo relatório do Serviço de Monitoramento da Atmosfera Copernicus aponta aumento 'fora do comum' de incêndios nos dois biomas e destaca que detritos das queimadas no Brasil degradam qualidade do ar em toda América do Sul.

22 set 2024 - 23h05
(atualizado em 23/9/2024 às 07h34)
Pantanal foi gravemente afetado pelos incêndios recentes, apontam relatórios
Pantanal foi gravemente afetado pelos incêndios recentes, apontam relatórios
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A Amazônia e o Pantanal, dois dos mais importantes biomas brasileiros, sofrem as piores queimadas dos últimos 20 anos.

Essa é a principal conclusão de um novo relatório publicado pelo Serviço de Monitoramento da Atmosfera Copernicus (Cams, na sigla em inglês), uma agência que integra o programa espacial da União Europeia.

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De acordo com os dados, divulgados no domingo (22/9), as emissões de carbono nessas duas regiões estão "consistentemente acima da média" — e chegam até a superar os recordes observados desde o início dos registros.

Ainda segundo o estudo do Cams, os incêndios florestais são o principal fator por trás desse aumento das emissões.

A agência calcula que, entre 1º de janeiro e 19 de setembro de 2024, o Brasil emitiu 183 megatoneladas de carbono na atmosfera.

Esse número é similar ao observado em 2007, ano em que o país teve o recorde na emissão de gases relacionados ao aquecimento do planeta e às mudanças climáticas.

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Das emissões registradas em 2024, 65 megatoneladas de carbono — ou um terço do total acumulado no ano todo — foram parar na atmosfera somente em setembro, quando as queimadas se intensificaram e geraram grande preocupação nacional e internacional.

Incêndios 'fora do comum'

O relatório do Cams ainda chama a atenção para o que acontece nos Estados do Amazonas e Mato Grosso do Sul.

Nesses dois lugares, a estimativa acumulada total de emissões de carbono é a maior nos 22 anos de registros.

Segundo os dados disponíveis, o Amazonas teve uma emissão de 28 megatoneladas de carbono.

Já no Mato Grosso do Sul, que abriga a maior parte do Pantanal, houve a liberação de 15 megatoneladas de carbono.

O Cams pontua que os incêndios florestais das últimas semanas estão "fora do comum", mesmo diante do fato de as queimadas ocorrerem normalmente nessas regiões no período que vai de julho a setembro.

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A agência europeia lista alguns fatores que podem explicar essa situação.

"As temperaturas extremamente altas que a América do Sul apresentou nos últimos meses, a seca prolongada que deixa o solo com baixa umidade e outros fatores climatológicos parecem ter contribuído enormemente", sugere a agência no novo relatório.

O pesquisador Mark Parrington, cientista sênior do Cams, reforça que esses incêndios florestais acima da média estão relacionados a uma série de problemas.

"A fumaça tem um impacto que vai muito além da região onde ocorreram as queimadas e chega até o Oceano Atlântico", resume ele, em um comunicado divulgado à imprensa.

"A escala do transporte de fumaça e os efeitos disso na qualidade do ar são alguns dos indicadores da intensidade desses incêndios florestais. Precisamos continuar a monitorar esses eventos para entender os impactos que eles terão."

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O relatório do Cams revela que os detritos das queimadas na Amazônia e no Pantanal degradam a qualidade do ar de todo o continente sul-americano.

A fumaça desses incêndios se espalhou para vários cantos e pode ser observada em lugares tão distantes quanto o Equador e o Estado de São Paulo.

Na Amazônia, incêndios em áreas de vegetação nativa preocupam especialistas
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Outros alertas

As informações divulgadas pelo Cams vão ao encontro do que outros estudos e relatórios já descreviam.

Um levantamento realizado pela ONG WWF-Brasil observou que os biomas brasileiros haviam registrado um recorde nas queimadas ainda durante o primeiro semestre deste ano.

Segundo a instituição, o Pantanal e o Cerrado concentravam a maioria dos focos de incêndio no período — e os números de 2024 já superaram qualquer marca obtida desde o início das medições do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 1988.

No Pantanal, o número de focos de incêndio durante os primeiros seis meses do ano foi 22 vezes maior do que o registrado no mesmo período de 2023.

Já na Amazônia, esse crescimento de pontos de queimada foi de 76%, calcula a WWF-Brasil.

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O relatório Monitor do Fogo, publicado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e pela rede MapBiomas, destaca que a área de floresta nativa afetada pelo fogo aumentou 132% no último mês de agosto em comparação ao mesmo período do ano passado.

O dado chamou a atenção dos pesquisadores, porque, geralmente, os incêndios costumam se concentrar em áreas desmatadas e degradadas — nestes casos, o fogo é usado para abrir pastagens e fazer a ocupação irregular de terras.

Nas queimadas das últimas semanas, no entanto, um terço da área afetada é composta de vegetação nativa.

Em 2019, 12% da área afetada pelas queimadas era florestas "originais". Neste ano, essa taxa está em 34%.

O governo federal anunciou recentemente a criação de um crédito extraordinário de R$ 514,5 milhões para lidar com os incêndios florestais e fortalecer os órgãos de fiscalização e controle.

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Segundo o Ministério do Meio Ambiente, "a emergência climática elevou em até 20 vezes a probabilidade de condições climáticas que intensificaram os incêndios na Amazônia Ocidental de março de 2023 a fevereiro de 2024".

Já no Pantanal, segundo o ministério, "a mudança do clima intensificou em cerca de 40% os incêndios florestais registrados em junho".

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