Um hábito corriqueiro de turistas que vão à praia pode causar mais impacto ao meio ambiente do que se imagina. Grandes, pequenas e de cores e formatos variados, as conchas cativam banhistas que não hesitam em levá-las para casa. No entanto, o ato, a princípio inocente, pode provocar o desequilíbrio dos biomas costeiros.
O tema levantou debates nas redes sociais, após uma publicação feita pela ativista ambiental Úrsula Abiahy. Na postagem, a estudante de pedagogia explica que as conchas têm um papel importante no meio ambiente, pois servem de abrigo para animais e de substrato para a formação de corais, entre outras funções.
"Ao invés de sair pegando conchas, saia pegando lixo (que temos de sobra) e faça o descarte correto", afirmou Úrsula em uma postagem no Instagram.
Ouvido pelo Terra, o biólogo marinho Eric Comin reforça a importância das conchas encontradas na areia da praia, e alerta que elas não devem ser retiradas da natureza.
"Se tiramos essas conchas desse ambiente, acabamos alterando certos hábitos marinhos, o que pode provocar a diminuição de organismos e um impacto ambiental. Existem certas populações de peixes que diminuíram por conta da retirada desse material das praias", explica.
Além dos problemas que a retirada de conchas gera ao ecossistema, Comin lembra que o ato pode acarretar em crime ambiental. "No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente, por exemplo, proíbe a retirada de conchas para produção e venda de artesanatos", acrescenta.
Conchas nos ciclos naturais
As conchas são dividas em dois formatos, segundo Eric Comin. As únicas, que têm forma de cone, e as de duas metades. Ambas, quando abandonadas por moluscos, como ostras, mariscos e caramujos, são utilizadas por outros animais.
Uma dessas funções das conchas é a de abrigar animais marinhos, como o caranguejo-eremita, que troca de carapaça à medida que cresce. As aves também utilizam as conchas para fazer ninhos.
Ricas em cálcio, as conchas servem ainda como material para formação de recifes de corais, segundo Comin.
"As ondas e o Sol, com o tempo, vão quebrando as conchas, que vão se decompondo, liberando o carbonato de cálcio. Esse material vai servir para a formação dos corais e como nutriente para os peixes ósseos", explica.
Apreciar sem encostar
Além de pesquisador, o biólogo Eric Comin também atua como operador de mergulhos turísticos e ressalta a importância da educação ambiental durante esses passeios. Ele, por exemplo, orienta os alunos a não encostarem no fundo do oceano quando mergulham.
"Apreciem sem encostar", alerta.
"A ideia do mergulho, por exemplo, é chegar no fundo do mar e poder ver tudo, então, a gente pede para que as pessoas não recolham animais, conchas e outras 'lembrancinhas' que promovem a estabilidade do ambiente marinho", afirma.
Comin cita o exemplo do peixe pirá, que vive no leito marinho e cria sua toca em montes de areia, cascalhos e conchas que caem no fundo do mar. "Sempre que ele se sente ameaçado, ele se enfia em pequenos buracos entre esse material, que acaba servindo de abrigo".
"A ideia não é só não retirar as conchas, mas é fazer com que as pessoas entendam a importância delas para o equilíbrio do oceano e para o bem desses animais que dependem delas", acrescenta.