Guarda-parque de Abrolhos recebe prêmio internacional e exalta representatividade feminina

Maria Bernadete Barbosa, de 60 anos, atua há 35 no Arquipélago de Abrolhos, na Bahia, e foi reconhecida por trabalho no parque nacional

31 ago 2023 - 05h00
(atualizado às 13h02)
Maria Bernadete Barbosa é guarda-parque em Abrolhos há 35 anos
Maria Bernadete Barbosa é guarda-parque em Abrolhos há 35 anos
Foto: Arquivo Pessoal

"Na cidade, a gente é acostumado a ouvir só os barulhos dos carros. Aqui, você abre uma janela e já ouve as aves, abre outra e vê uma baleia saltando, e por aí vai". É assim que a guarda-parque Maria Bernadete Silva Barbosa, de 60 anos, descreve a paixão que sente pelo Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, que ela ajuda a cuidar há 35 anos.

O arquipélago, formado por cinco ilhas, fica a cerca de 70 km de Caravelas, na Bahia, e é uma área protegida pela Marinha do Brasil, com apoio administrativo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

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O local é reconhecido internacionalmente pela fauna única e é constantemente visitado não só por pesquisadores, como também por turistas e entusiastas da natureza. 

Para Maria Bernadete, a relação com Abrolhos é mais profunda. A vivência de décadas nas ilhas do parque nacional começou durante uma visita com o marido Adolfo, já falecido, em 1988. Hoje, três décadas depois, o trabalho de Berna, como é conhecida, se tornou referência em conservação ambiental.

A guarda-parque, inclusive, foi reconhecida pelo Prêmio Internacional dos Guarda-Parques, da Instituição Internacional para Conservação da Natureza. Ela recebeu U$ 10 mil, mais de R$ 48 mil, que serão destinados à conservação do arquipélago. "Fui a única mulher brasileira a receber o prêmio. Para mim, é um orgulho representar o trabalho das mulheres na conservação ambiental". 

Parque Marinho de Abrolhos (BA)
Foto: Getty Images/ Joa_Souza

Paixão floresceu aos poucos

Uma viagem de casal se tornou uma vivência de mais de 30 anos em Abrolhos, conta Berna. "Cheguei sem experiência nesse lado de conservação, do mar, e também não tinha habilidade, não sabia nem nadar. Adolfo queria ficar um mês e sair, acabamos ficando seis meses diretos". 

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Natural de Oriximiná, no Pará, a guarda conta que vem de uma "terra de rio" e, até então, não sabia sequer nadar. "Quando cheguei, não tinha nada a ver com esse lugar". 

Com a ajuda do marido, Maria Bernadete aprendeu até a mergulhar. "A apnéia é a minha paixão". Também estudou, se aprimou, trabalhou como voluntária até ser contratada como guarda-parque pelo ICMBio. 

Durante essa trajetória, no entanto, Berna perdeu o marido em um naufrágio, em 1992. Ela até tentou voltar para o continente, conta, mas não conseguia deixar de sentir a falta do paraíso que deixou em Abrolhos. "Depois que o Adolfo faleceu, voltei para o Pará com a minha família. Mas, sempre que fechava os olhos, via Abrolhos".

A saudade fez com que ela voltasse ao arquipélago e construísse a carreira lá. A paixão por Abrolhos, segundo ela, "floresceu aos poucos". 

Maria Bernadete Barbosa é guarda-parque em Abrolhos há 35 anos
Foto: Arquivo Pessoal

Educação ambiental e representatividade

A maior parte dos funcionários que cuidam do parque nacional é composta por mulheres, afirma Maria Bernadete. Mas essa nem sempre foi a realidade de Abrolhos, ela conta. "Os pescadores não gostavam de ver uma mulher nos barcos, então tive que ir mudando essa percepção aos poucos".

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"Uma vez, o barco que eu estava parou, e ninguém sabia arrumar o motor, só eu. Ninguém acreditou, mas depois até me pediram desculpa. Eu acho que homens e mulheres podem trabalhar juntos, mas nosso lado cresceu. Em outros países, com no Chile, outras guardas também ganharam o prêmio, então é muito bom ver esse reconhecimento", celebra. 

Um dos pilares do trabalho do guarda-parque, segundo Berna, é a prática da educação ambiental. O processo começa já no embarque, em direção ao arquipélago, com os visitantes. "A gente passa todas as recomendações em uma linguagem simples e clara, principalmente com um sorriso no rosto e o coração aberto para quem está ali". 

"Um dos segredos é evitar a palavra 'proibido', 'é proibido encostar, tirar', isso incomoda as pessoas. Por isso, a gente pede a ajuda de quem vem para manter esse trabalho, pedindo sempre para 'ver com os olhos' e levar boas fotos, assim elas colaboram muito mais com a gente", explica. 

Para quem se interessa pela conservação ambiental, a guarda-parque recomenda: "Nunca desista do sonho, por nada nem ninguém, seja humilde, saiba ouvir as pessoas e trabalhar em equipe, que tudo é possível". 

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Fonte: Redação Terra
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