Idosos tendem separar o lixo mais do que jovens, aponta pesquisa

Segundo levantamento, 75% dos brasileiros acima de 65 anos separam seus resíduos, comparado a apenas 41% dos jovens

8 dez 2024 - 05h00
Idosos tendem separar o lixo mais do que jovens, aponta pesquisa
Idosos tendem separar o lixo mais do que jovens, aponta pesquisa
Foto: Neuza Nascimento/Arquivo Pessoal

Aos 65 anos, a escritora Neuza Nascimento faz a separação dos resíduos que produz toda semana, religiosamente. Moradora de Madureira, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, ela conta que o costume não é tão comum na região onde mora e que não foi fácil se adaptar, mas, com um pouquinho de esforço, passou a tornar a atitude, que aos olhos de alguns pode ser algo trabalhoso, como algo do dia a dia. 

“Acho que comecei com isso quando fui para o trabalho social, onde eu tinha contato com os catadores também. E me incomodava muito ver e saber que as pessoas metiam a mão dentro do lixo pra poder pegar coisas aproveitáveis. E aí, eu pensava: ‘Por que, meu Deus do céu, não pode simplesmente colocar separado pra pessoa já pegar, né?’”, contou em entrevista ao Terra. 

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Ela detalha que não faz nada muito elaborado, apenas retira o que sabe que pode ser reaproveitado. Tampinhas e latinhas são a preferência. Depois, leva para o trabalho, onde também tem uma campanha de incentivo a separação de resíduos, e de lá, o lixo encontra destino. 

Lixo separado por Neuza, no Rio de Janeiro
Foto: Neuza Nascimento/Arquivo Pessoal

Neuza faz parte dos 75% dos brasileiros acima de 65 anos que, segundo o relatório “Um Mundo de Resíduos: Riscos e Oportunidades na Gestão de Resíduos Domésticos” realizado pela Lloyd's Register Foundation em parceria com a ONU (UNEP), separam seus resíduos. De acordo com o estudo, no país há a maior diferença geracional no mundo, em comparação a apenas 41% dos jovens entre 15 e 29 anos que também possuem o hábito. 

Para chegar ao resultado, os pesquisadores do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) e Engineering X analisaram dados coletados pela empresa global de pesquisa Gallup, que conduziu mais de 140 mil entrevistas em 142 países. Em algumas regiões, especialmente no Brasil, apresentaram um contraste marcante entre faixas etárias na separação de resíduos. 

Thais Gomes, de 23 anos e moradora de Brasilândia, bairro na Zona Norte de São Paulo, conta que aprendeu a fazer a separação com os pais e, desta forma, passou a ficar interessada na pauta do meio ambiente. Ela detalha que é um assunto comum em seu grupo de amigos, mas sabe que não são todos da sua idade que possuem o costume.

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“Dentro do que é possível, vejo que as pessoas com quem eu convivo tentam fazer isso [a separação], mas tem muito a questão de que não é todo lugar daqui de São Paulo que tem coleta seletiva. Eu vejo que algumas pessoas até têm esse interesse, mas pela falta de ter essa coleta específica acabam não fazendo porque não veem sentido, sabe?”, explica a jovem ao Terra. 

Segundo o mesmo estudo, cerca de 89% da população tem seus resíduos coletados, mas apenas uma pequena parte é manejada adequadamente e é muito mais comum nas áreas urbanas (97%), onde a coleta é mais eficiente. Já nas áreas rurais (59%) ainda carecem de serviços adequados. 

Queima como forma de descarte

No Brasil, menos 5% das residências localizadas em áreas urbanas afirmam queimar seus resíduos, mas, em áreas rurais, cerca de 36% das famílias ainda recorrem à prática.
Foto: Reprodução/Getty Images

No Brasil, menos 5% das residências localizadas em áreas urbanas afirmam queimar seus resíduos, mas, em áreas rurais, cerca de 36% das famílias ainda recorrem à prática. Já por regiões, foram observados em estados densamente florestados no norte do país altos níveis de queima de lixo a céu aberto. 

Metade das residências entrevistadas no Maranhão relataram que queimavam seus resíduos (50%). Também foram notadas práticas semelhantes no Pará, que apresentou 41%. O mesmo padrão de dificuldades foi visto também em Assam, na Índia.

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No entanto, no estado do Amazonas, há uma aparente ausência de queima a céu aberto em domicílios, o que indica que soluções eficazes são possíveis nesta região.

De acordo com os pesquisadores, a desigualdade na coleta de resíduos não pode ser atribuída ao poder aquisitivo das famílias, uma vez que a maioria delas recebe serviços públicos de descarte de lixo. A expansão desses serviços para as áreas rurais, especialmente para as famílias mais pobres, seria uma medida essencial para reduzir a prática da queima a céu aberto.

Ainda segundo o estudo, residências brasileiras rurais com um maior poder aquisitivo têm uma maior probabilidade de contar com serviços públicos de coleta de resíduos e, consequentemente, são menos propensas à queima. Os especialistas afirmam que há uma necessidade urgente do desenvolvimento de uma infraestrutura de coleta aprimorada, que promova o descarte correto em todos os momentos. 

“O descarte seguro e sustentável de resíduos é uma infraestrutura essencial, seja para o lixo doméstico ou para a desativação de grandes projetos de engenharia. No Brasil, a maioria das famílias já têm seus resíduos coletados, o que oferece uma oportunidade para que governo e população colaborem, separando os materiais antes do descarte para aumentar a sustentabilidade. Medidas educativas ou incentivos só podem ter sucesso se houver uma infraestrutura adequada para lidar com materiais recicláveis após a coleta", diz Nancy Hey, Diretora de Evidências e Insights da Lloyd’s Register Foundation. 

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Fonte: Redação Terra
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