Nos últimos meses, o Brasil enfrentou uma tragédia assustadora e vista como consequência das alterações climáticas, que ocorrem não apenas aqui, mas no mundo todo. Por mais que as chuvas intensas façam parte da “natureza”, o nível que temos visto nos últimos anos é um sinal de alerta, segundo cientistas climáticos.
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Com isto em mente, um arquiteto, paisagista e professor da Universidade de Pequim chamado Kongjian Yu desenvolveu uma alternativa para as enchentes urbanas a partir de uma ideia: “deixar a água entrar”.
Enquanto explica o conceito para o jornal norte-americano The New York Times, ele aponta que não se pode lutar contra a água, apenas “se adaptar” a ela. Ao invés de instalar uma rede de drenagem ou muretas de contenção, Yu deseja dar espaço para que as enchentes se espalhem em algo chamado “cidades-esponjas”.
Inspirado no Tai Chi, uma arte marcial chinesa, e em como os antigos lidavam com as chuvas na aldeia em que cresceu, o arquiteto supervisionou através da sua empresa ‘Turenscape’ a construção de parques aquáticos urbanos na China, onde o escoamento das inundações é desviado para penetrar ou ser absorvido pelo solo.
Ao jornal, ele disse que os terraços são plantados com bambu, ervas e gramas nativas, divididas por passarelas de madeira. O local filtra a água, retarda o fluxo do rio e fornece habitat para os peixes locais. Segundo Yu, o objetivo é que até 2030, cerca de 70% da chuva que cai nas cidades com o sistema instalado seja absorvida ao invés de ficar nas ruas.
Em 2015, o presidente da época, Xi Jinping, apoiou a ideia e adaptou 16 cidades com a sugestão do arquiteto após uma inundação em Pequim ter matado mais de 70 pessoas, segundo a mídia local. Atualmente, dezenas de municípios possuem as 'cidades-esponjas'.
Desde então, a alternativa tem chamado atenção de urbanistas e especialistas em clima, que reconhecem ser mais ecológica. Porém, a maior dúvida é adaptar os terrenos nos centros das cidades, visto que já foram construídos no concreto.
O que dizem os especialistas?
Ao Terra, a fundadora e diretora executiva do Instituto DuClima, que combate o racismo ambiental e a crise climática no Brasil, Naira Santa Rita Wayand apontou que o investimento na ideia seria altamente eficaz e sustentável para a gestão de inundações, mas a eficácia depende de vários fatores.
“Clima e geografia locais: é crucial adaptar soluções às condições climáticas e geográficas específicas. Integração com infraestruturas existentes, a implementação bem-sucedida requer a integração de infraestruturas verdes com sistemas de drenagem convencionais. E manutenção e gestão, que são essenciais para garantir a funcionalidade da infraestrutura verde”, explica Wayand.
Ainda segundo ela, há outras abordagens que devem ser consideradas ou combinadas com os princípios das ‘cidades-esponjas’. Como, por exemplo:
- Sistemas de Drenagem e Esgotos: Aumentar a capacidade e a eficiência dos sistemas de drenagem urbana para lidar com maiores volumes de água.
- Barreiras e diques contra inundações: Construção de barreiras físicas para proteger áreas vulneráveis contra inundações.
- Bacias de Detenção de Águas Pluviais: Criação de bacias para reter temporariamente o excesso de águas pluviais e liberá-las gradualmente.
- Sistemas inteligentes de gerenciamento de água: usando sensores, IoT e análise de dados para monitorar e gerenciar o fluxo de água em tempo real.
- Modelagem Preditiva: Utilização de modelos climáticos e previsões meteorológicas para prever e preparar-se para eventos de inundação.
- Regulamentos de Zoneamento e Uso da Terra: Implementação de políticas que restrinjam o desenvolvimento em áreas propensas a inundações.
- Programas de realocação e aquisição: Realocar comunidades de áreas de alto risco para locais mais seguros.
- Conscientização e Educação Pública: Educar as comunidades sobre os riscos de enchentes e medidas de preparação.
- Iniciativas lideradas pela comunidade: Incentivar o envolvimento local na concepção e manutenção de infraestruturas verdes.
“As cidades-esponja representam uma abordagem promissora e sustentável à gestão de inundações urbanas, amplamente apoiada por especialistas em clima. No entanto, combinar estratégias de cidades-esponja com soluções de engenharia tradicionais, tecnologias e medidas políticas robustas pode criar um sistema abrangente de gestão de inundações. A adaptação destas soluções às necessidades e condições específicas de cada área urbana maximizará a sua eficácia e resiliência contra inundações”, conclui a especialista.