Restos de Brumadinho e plásticos descartados viram tijolos ecológicos; veja como

Estudo feitos a partir de resíduos de mineração pode diminuir poluição e gerar novas moradias

17 fev 2025 - 04h59
Professor desenvolveu material a partir de plásticos e restos
Professor desenvolveu material a partir de plásticos e restos
Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal

A ciência brasileira avança no cenário internacional com uma inovação que pode transformar a construção civil. O pesquisador e professor do curso de Engenharia Civil do IPOG, Hélio Elias da Silva, teve seu estudo sobre tijolos ecológicos feitos a partir de resíduos de mineração e plásticos publicado na Revista Remediation.

A pesquisa representa um grande avanço ao oferecer uma solução concreta para um problema ambiental urgente: o descarte inadequado de resíduos industriais. "Podemos converter resíduos de mineração e de plásticos, amplamente disponíveis no planeta, em materiais de construção ambientalmente amigáveis, além de oferecer materiais tecnicamente adequados", explica Hélio Elias.

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A pesquisa tem um diferencial poderoso: além de reutilizar resíduos plásticos, ela aproveita rejeitos da mineração de ferro de Brumadinho (MG), provenientes do rompimento da barragem da Vale, em 2019. "Essa mistura é aquecida sob baixa temperatura e, depois de apenas três horas, o tijolo está pronto", detalha o pesquisador. O resultado é um material com resistência comparável à dos tijolos tradicionais, adequado para a construção de muros e moradias populares.

A ideia de usar rejeitos de mineração de ferro vindos de Brumadinho foi sugerida pelo orientador de doutorado de Hélio, o professor Nelson Antoniosi, da Universidade Federal de Goiás. O trabalho teve início em 2018, logo após o desastre de Mariana. "Para não utilizarmos cimento na aglomeração dos sólidos, decidimos empregar resíduos de tecidos de poliéster e PET", acrescenta.

Do laboratório para o mundo: rumo a Berlim?

O projeto também foi selecionado entre os 15 melhores do Brasil no Falling Walls Lab Brasil, uma das principais competições científicas do mundo. Caso avance para a próxima fase, Hélio Elias representará o país na final global em Berlim, na Alemanha. "Ser ranqueado entre os 15 melhores projetos do país foi uma honra. O pesquisador brasileiro é muito bem cotado internacionalmente porque, com poucos recursos, consegue produzir resultados expressivos", ressalta.

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Desafios para transformar inovação em realidade

Apesar do reconhecimento acadêmico, a transição da pesquisa para o mercado ainda enfrenta desafios no Brasil. "Todo trabalho acadêmico é feito em escala de bancada, com pequenas quantidades. Para transformar essa descoberta em uma solução disruptiva, é necessário que uma empresa abrace a causa e instale uma fábrica para produzir os tijolos ecológicos. Sem um investidor, será mais um projeto guardado na prateleira", alerta Hélio Elias.

A viabilização da produção desses tijolos sustentáveis pode representar um grande avanço na redução de resíduos, na preservação ambiental e na democratização da moradia popular. "Nosso tijolo tem o mesmo custo de produção que os tijolos solo-cimento amplamente conhecidos no país. No entanto, ele traz enormes benefícios ambientais, pois evita a extração de argila das margens dos rios, reduz a queima de lenha nas olarias e minimiza a poluição do ar", afirma o pesquisador.

Até o momento, uma empresa de Santa Catarina demonstrou interesse na parte do processo que aproveita os resíduos plásticos isoladamente. No entanto, nenhuma indústria se ofereceu para fabricar os tijolos sustentáveis em larga escala. "Seria uma pena ver pessoas fora do Brasil se beneficiando de algo produzido por brasileiros sem que nós ganhássemos nada com isso", lamenta.

Fonte: Redação Terra
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