Diferentemente da filantropia ou da doação para causas sociais, o investimento de impacto positivo é uma forma de ganhar dinheiro e, ao mesmo tempo, apoiar o desenvolvimento de empresas e microempreendedores que se preocupam em devolver algum retorno positivo para as comunidades e para o planeta.
O tal impacto positivo, que serve como critério para habilitar as empresas que recebem esses investimentos, é mensurado por metodologias criteriosas que avaliam iniciativas que promovam, por exemplo, ações contra mudanças climáticas, energia limpa e acessível, água potável e saneamento, e até a criação de agroflorestas para amenizar os impactos ambientais ocasionados pelo agronegócio.
Normalmente, por meio de empresas e plataformas especializadas em gestão de investimentos, é possível cobrar e obter relatórios sobre os resultados da empresa alvo do investimento, sobretudo relacionados aos seus marcadores de impacto social e ambiental.
Um exemplo dessa gestão especializada é o Grupo Gaia. De acordo com o seu fundador e CEO, João Pacífico, exemplos de investimentos geridos pelo grupo são os em cooperativas agrícolas ligadas ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra), que usam o dinheiro para plantar alimentos e depois pagam esse investimento com a renda da comida produzida e vendida; além de projetos de agricultura familiar – a organização atua com iniciativas localizadas no Sul da Bahia e na Amazônia –, e ações voltadas para a moradia social.
“Construímos um prédio no centro de São Paulo (SP) para as pessoas pagarem aluguel mais barato. Lá elas também terão suporte social para que possam crescer e deixem de passar quatro horas por dia no trajeto para o trabalho. Queremos ajudar as pessoas com cursos e recolocação profissional”, afirma.
O Grupo Gaia trabalha apenas com grandes investidores. Pacífico enxerga que a grande dificuldade para que os investimentos de impacto positivo cheguem ao público geral é o excesso de burocracia no Brasil: “Ficamos de mãos atadas e isso vai contra a nossa vontade, mas por conta de como o sistema funciona no país, nos custa muito dinheiro ampliar para as pessoas que querem investir R$ 100, por exemplo”.
Investimento tradicional vs. investimento de impacto
Pacífico explica que o seu trabalho é praticamente o de educar o investidor, ampliando a sua consciência para que repensem onde estão colocando o seu dinheiro.
Ele explica que as pessoas só olham dois pontos antes de aplicar em investimento tradicional: risco e retorno. “Por exemplo, para colocar dinheiro na Petrobrás, o primeiro passo é analisar o risco, que é baixo, afinal a empresa é uma boa pagadora. Mas se vou emprestar para exploração de combustível fóssil, qual é o impacto do meu investimento? Estou ajudando a poluir o planeta”, afirma.
Já quem investe em projetos de impacto, normalmente tem uma preocupação além da rentabilidade: “A pessoa vai pensar no risco e no retorno, mas também no impacto. Ela avalia quais as consequências daquele projeto para a sociedade e para o planeta”.
Pacifíco acredita que a pressão popular é o principal caminho para fazer com que os bancos e as empresas ampliem a oferta de projetos para investimento de impacto positivo. Com a demanda do público, é possível que passem a oferecer mais opções de baixo risco.
Curadoria de investimentos de impacto
A Vox Capital é mais uma gestora de investimentos “bons para o bolso e para o planeta”. Segundo Marcos Olmos, gestor e sócio, a empresa realiza a curadoria de investimentos selecionando projetos que comprovem seu impacto positivo, seja no âmbito social ou ambiental.
Para quem quer começar a investir em impacto positivo, Olmos indica que “tenha clareza sobre o seu objetivo e o seu propósito. Por exemplo, se busca retorno para pagar a faculdade do filho no futuro. Depois, querer entender melhor para onde está indo o seu dinheiro e o que está sendo feito com ele. É preciso ter uma virada de chave de mentalidade, para saber se o impacto proposto faz sentido para quem está investindo”.
Em termos práticos, Olmos recomenda que o investidor olhe para as empresas com curiosidade sobre que tipo de produto ou serviço elas fazem. “É saneamento? É energia renovável? Como aquela empresa, por meio do seu negócio principal, contribui para redução da pobreza no Brasil? Os bancos têm microcrédito? As empresas de saúde têm operações de pesquisa para ampliar qualidade e/ou acesso a saúde? O que aquela empresa fez em um momento de crise global, como a pandemia?”, exemplifica.
Para o gestor, o olhar voltado para o investimento de impacto nos convida a observar a relação entre a fonte de receita e o que a empresa faz para contribuir com o bem comum. “Ainda que a gente tenha poucos produtos de investimentos declaradamente de impacto no Brasil, é importante que as pessoas tenham esse olhar questionador no dia a dia”.
Investimentos alinhados com valores
Para Letícia Scofield Miglio, 36, que é economista e gerente de projetos na ONU, aplicar o seu dinheiro em empresas que estejam alinhadas com os seus valores é fundamental. “Comecei a aplicar em investimento de impacto em 2018, mas devagar, porque antes queria entender mais sobre o nível de risco. Investi em cerca de 15 empreendedores sociais, mas com a crise da covid-19, eu perdi praticamente 80% do retorno do meu capital investido”. Isso porque, diante da crise econômica originada na pandemia, a maioria desses microempreendedores acabou fechando.
Após alguns contratempos e frustrações com plataformas pequenas especializadas, Letícia atualmente investe nas tradicionais, mas que também possuem empresas de impacto social no cardápio. “Esses fundos têm uma rentabilidade menor, mas são empresas que respondem a certas classificações sociais. Então isso tem sido mais interessante para mim”.
Dicas de onde investir
A consultora de ESG, Stephanie Walker Bradfield, indica alguns fundos de investimento focados em negócios de impacto socioambientais:
- Sitawi
- Vox Capital
- Yunus Brasil
- Mov Investimentos
- Bemtevi
- Positive Ventures
- Kaete Investimentos
- Din4mo