Conectar com a natureza e saber de onde vem. A brasileira Rose Correa, 42 anos, traz exatamente isso com a sua marca de produtos de cuidados com a pele, a Amazonian SkinFood. Criada nos Estados Unidos, os cosméticos têm como matéria prima insumos amazônicos naturais, fornecidos por povos originários daquela região.
Os chamados clean beauty [beleza limpa, em tradução livre] tem ganhado o mercado de cosméticos nos últimos anos. A ideia é que sejam o mais natural possível, pensando em quem usa, e também na natureza, proporcionando menor impacto ambiental possível.
É justamente isso o que a brasileira promove com sua marca. “É um skincare que conecta com a natureza, que a pessoa sabe de onde vem, e que tem um pessoal por trás muito importante para nossa sobrevivência”, afirma Rose.
Apesar do alto custo para importar a matéria prima dos produtos, a empresa faturou US$ 25 mil no último ano, o equivalente a R$ 125 mil, e tem expectativa de crescer US$ 60 mil neste ano. Rose atribui esse resultado ao boca a boca, e também à participação de eventos, buscando promover organicamente a Amazonian SkinFood.
“Isso impacta bastante no custo, mas vale a pena. Quando se quer fazer, se o objetivo é o impacto positivo, vale a pena”, pondera. Agora o objetivo é trazer essa tecnologia para o mercado brasileiro.
Necessidade própria
A ideia de fazer uma marca de clean beauty não surgiu do nada, foi uma demanda pessoal de Rose. Há cerca de 7 anos, quando morava em Florianópolis (SC), ela passou a apresentar algumas alergias com cosméticos convencionais e passou a pesquisar por conta própria ativos naturais, receitas, ingredientes, óleos, manteigas, coisas que pudesse substituir o que já vinha usando.
Junto com seu companheiro, que é engenheiro de alimentos, desenvolveu uma fórmula de creme facial. “A fórmula não ficou muito boa, é muito difícil formular um produto, né? Então, conseguimos criar um creme natural, mas ele não tinha a capacidade de ir para o mercado, por exemplo”, explica. Então ela distribuía isso para amigos e familiares.
Já nessa época, ela conseguiu aprender bastante sobre os ativos da Amazônia e enxergou um potencial gigantesco nesses ingredientes, tanto para a pele, quanto para a saúde. No entanto, não conseguiu levar a ideia para frente.
Desenvolvimento e ativos naturais
Rose se mudou para os Estados Unidos anos depois, e conseguiu encontrar um ambiente um pouco mais propício para desenvolver as fórmulas. Ela e seu amigo contratam químicos especializados em beleza limpa e, a partir disso, desenvolveram os três primeiros produtos da linha: um para lavar o rosto, um creme e um óleo. A marca está disponível desde dezembro de 2020.
Toda a linha de produtos da Amazonian Skin Food é feita com insumos da Amazônia, comprados de extrativistas ou de famílias que trabalham com esses ingredientes naquela região, como o murumuru, que é uma semente de uma palmeira; o ucuúba, uma árvore nativa; o buriti, fruta de uma palmeira; e o açaí.
“Eu conto com parceiros que estão dentro da Amazônia. Por exemplo, um dos parceiros que eu compro metade dos meus insumos é B Corp [modelo de negócio de desenvolvimento social e ambiental]. Então, eu tenho todas as garantias de que ele, esse intermediário meu lá, está realmente fazendo uma atuação presencial e de impacto positivo nessas comunidades”, relata.
Sustentabilidade e social
A marca já nasceu com o propósito de gerar impacto positivo e nunca predatório da floresta. Rose busca sempre priorizar as famílias indígenas e ribeirinhas daquela região, que trabalham com esses ingredientes e tiram deles o seu sustento. É uma maneira de ajudar na sobrevivência de povos como os Arara. A brasileira, inclusive, sonha em trazer a identidade desses povos para a sua marca.
“Eu gostaria de, no futuro, à medida que eu for crescendo e me desenvolvendo, poder ter pequenos lotes de produtos que são específicos de certas comunidades para que eu traga a identidade desse povo que está por trás do meu produto. Levar isso para o consumidor”, afirma.
Além disso, 10% dos lucros da empresa são revertidos para essas comunidades, sobretudo as indígenas, com o objetivo de manter viva a cultura. Com isso, já foi possível construir uma escola no ano passado e, neste ano, um poço artesiano para uma aldeia.
Inclusive, Rose se preocupa com a região, com esse distanciamento que a sociedade promove em torno desses povos originários. “[É preciso] A gente se aproximar e aprender com eles, e eles são muito abertos a se associarem a gente, é questão de querer. [...] É muito boa essa união, assim, eu me sinto bem uma ponte entre a consumidora americana e esses povos. [...] O objetivo é somar, e nunca diminuir o que está acontecendo na floresta”, finaliza.