Se somos uma “evolução” dos macacos, por que não temos rabo? Cientistas norte-americanos identificaram recentemente a alteração genética que causou a perda das caudas em nossos ancestrais. Segundo a pesquisa desenvolvida pelo grupo, essa mutação ocorreu em um único indivíduo há aproximadamente 25 milhões de anos.
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De acordo com a pesquisa “Na base genética da evolução da perda de cauda em humanos e macacos”, publicada na revista Nature, esse "ajuste" em nossa composição genética pode ter nos dado vantagens evolutivas, como a capacidade de andar ereto, por exemplo.
A perda da cauda é uma das mudanças anatômicas mais significativas ao longo da evolução humana e dos macacos antropomorfos. Um mecanismo genético proposto para essa evolução é a inserção de um elemento no genoma ancestral hominóide, especificamente no gene TBXT, resultando em um evento alternativo específico para hominóides.
“A perda da cauda está entre as mudanças anatômicas mais notáveis que ocorreram ao longo da linhagem evolutiva que levou aos humanos e aos 'macacos antropomorfos', com um papel proposto na contribuição para o bipedalismo humano. No entanto, o mecanismo genético que facilitou a evolução da perda de cauda nos hominóides permanece desconhecido”, diz trecho da pesquisa publicada na revista Nature.
Os pesquisadores envolvidos no trabalho científico também acreditam que essas características podem estar por trás de um defeito congênito chamado espinha bífida, que ainda afeta bebês.
'Planeta dos Macacos'
A evolução das espécies de primatas se divide em hominoides, um grupo que inclui gorilas, chimpanzés e humanos, e não hominoides, que têm cauda e são parentes mais distantes dos seres humanos.
O gênero Homo, do qual fazemos parte como Homo sapiens, evoluiu do grupo dos grandes primatas, também conhecidos como "apes" em inglês, como visto em filmes como "Planeta dos Macacos", onde a frase "Ape don't kill ape" é emblemática.
Em entrevista ao Terra, Carlos Benhur Kasper, doutor em Biologia Animal e professor da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) São Gabriel, destacou as características da espécie Homo sapiens. “Destaca-se que Homo sapiens é a única espécie sobrevivente do nosso gênero hoje, mas houve outras, como H. neanderthalensis, H. habilis, H. ergaster, H. floresiensis. Nossa espécie, surgindo na África, coexistiu com os neandertais (H. neanderthalensis), que habitavam a Europa”, explica.
Mutação genética?
Segundo Carlos Benhur, a mutação genética é um fenômeno comum em todas as formas de vida, mas nem todas as mutações são significativas. “O ambiente seleciona as mutações vantajosas, que conferem melhor sucesso reprodutivo. No caso dos grandes primatas, a perda da cauda provavelmente ocorreu ao longo de milhares de anos de seleção por caudas mais curtas, sem que houvesse uma mutação única”.
As razões para essa adaptação podem ser diversas e, não necessariamente, relacionadas ao ambiente atual. A ausência de cauda persistiu e influenciou a evolução de todo o grupo dos hominídeos, incluindo os gibões, os primatas mais próximos aos Hominidae, que também não possuem cauda.
“Provavelmente, na origem dos grandes primatas ou até mesmo antes disso, ocorreu a perda da cauda. É importante compreender que as mutações genéticas não são necessariamente eventos drásticos. Na maioria das vezes, são pequenas alterações que podem não ter efeitos perceptíveis”.
Desta forma, e com essas pequenas mudanças, o ambiente seleciona mutações vantajosas, desvantajosas ou neutras, determinando sua disseminação na população. No caso da perda da cauda, é provável que tenha sido um processo gradual, onde animais passaram a surgir com caudas ligeiramente mais curtas.