Governo anuncia presidente da COP30 e dá largada para estruturar conferência

21 jan 2025 - 07h36
(atualizado às 16h01)

O governo brasileiro formalizou nesta terça-feira o nome do embaixador André Corrêa do Lago para presidir a COP30, em Belém, e a secretária nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Ana Toni, como secretária-executiva.

Secretário de Clima, Meio Ambiente e Energia do Itamaraty, negociador brasileiro em 2023 e 2024 e entre 2011 e 2013, além de estar diretamente envolvido com desenvolvimento sustentável desde 2001, Corrêa do Lago era o único nome falado para o posto desde o ano passado, mas o anúncio demorou para ser formalizado.

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A indicação do diplomata de carreira, um dos mais respeitados embaixadores brasileiros, marca uma volta da COP às mãos de lideranças com um histórico de trabalho com políticas climáticas. Tanto no Azerbaijão, em 2024, quanto nos Emirados Árabes Unidos, em 2023, os presidentes indicados eram diretamente ligados a estatais de petróleo, o que gerou inúmeras controvérsias e acusações de favorecimento a políticas de combustíveis fósseis.

À frente da COP30, Corrêa do Lago terá que enfrentar o que promete ser uma das conferências mais difíceis dos últimos anos, com disputas duras sobre financiamento e as novas Contribuição Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) e adaptação climática.

Soma-se a isso, ainda, a decisão do presidente norte-americano, Donald Trump, já no dia de sua posse, de tirar novamente os Estados Unidos do Acordo de Paris. Apesar de a decisão só ter validade daqui a um ano -- o país ainda estará na COP de Belém --, o impacto da saída da maior economia do mundo, e também um dos maiores emissores, é inegável.

"Os Estados Unidos são um ator essencial, porque não só são a maior economia, mas são também um dos maiores emissores, são também um dos países que têm trazido respostas para os Estados Unidos", disse o embaixador em entrevista logo após o anúncio de sua indicação.

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"Estamos todos ainda analisando as decisões do presidente Trump, mas não há a menor dúvida que terá um impacto significativo na preparação da COP e na maneira como nós vamos ter que lidar com o fato de que um país tão importante está se desligando desse processo", completou.

Corrêa do Lago ressaltou, no entanto, que os EUA deixa o Acordo de Paris, mas ainda faz parte do acordo-quadro sobre mudanças climáticas.

"Nós ainda não conversamos naturalmente com eles (norte-americanos) sobre esse tema. Nós vamos ver com eles de que maneira esse processo pode acontecer de maneira mais construtiva, porque é uma decisão soberana de um país de sair de um acordo, mas isso não quer dizer que necessariamente esse acordo não possa encontrar uma forma de contornar a ausência desse país", afirmou.

"Estão saindo do Acordo de Paris, mas eles continuam membros da Convenção do Clima. Então sim, há vários canais que permanecem abertos."

ESTRUTURA

A definição do presidente da COP servirá para o governo brasileiro colocar na rua a montagem da estrutura de lideranças que irão colocar a conferência de pé - já com atraso. Uma das críticas ao timing do governo brasileiro, que tinha inicialmente a intenção de anunciar o presidente da COP em Baku, em novembro, é que apenas agora o governo vai poder colocar na rua as negociações para uma COP que terá temas espinhosos e uma boa dose de má vontade de parte dos países.

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Fontes ouvidas pela Reuters no governo afirmam que Corrêa do Lago é hoje o melhor nome, já que não apenas conhece todas as negociações do clima como tem com trânsito com todos os setores envolvidos dentro do próprio governo. Foi ele o responsável, por exemplo, em resolver o impasse entre países desenvolvidos e o sul global nas negociações do G20 sobre clima, que ameaçavam paralisar o comunicado da cúpula.

Além da presidência, o governo trabalha com uma estrutura que deve incluir um champion, uma liderança responsável por trabalhar com governos, empresas, investidores e outras partes interessadas para mobilizar esforços em torno dos objetivos do Acordo de Paris.

Segundo uma fonte ouvida pela Reuters, a intenção para o cargo é um empresário que tenha já uma atuação destacada na área de desenvolvimento sustentável, mas não há ainda um nome bem encaminhado.

Uma disputa de bastidores chegou a surgir no final de 2024, com dois nomes -- Patrícia Ellen, ex-secretária Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia de São Paulo do governo João Doria, em São Paulo, e Marcello Brito, secretário-executivo do Consórcio dos Governadores da Amazônia e aliado do governador do Pará, Helder Barbalho -- levantando abaixo-assinados em torno de seus nomes.

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Corriam ainda o assessor especial da Presidência Frederico de Assis e o da cientista Thelma Kruger, vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Nenhum deles, no entanto, deve ser indicado para o posto de champion.

A presidência da COP trabalha com a ideia de constituir um conselho de líderes e especialistas que, na prática, devem atuar como enviados do presidente para determinados assuntos. Um desses nomes deve ser Assis, que será encarregado de cuidar de temas de negacionismo climático.

Kruger e Brito também são cogitados para fazer parte do time de enviados, mas ainda não há definição de quantos nomes serão chamados.

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