De acordo com estudos recentes, as abelhas, incluindo as Mamangabas, conhecidas como "vespa-de-rodeio no Brasil", possuem capacidade de aprendizado social, observando e imitando umas às outras para resolver problemas.
Diferentemente das crianças, as Mamangabas não aprendem a resolver problemas sozinhas, mas através da observação das parceiras. Isso destaca sua habilidade de observação, compreensão e memória, levantando questões sobre como esses insetos conseguem se orientar no espaço tridimensional para viajar longas distâncias em busca de alimento e retornar ao ninho.
Um estudo publicado na revista Nature sobre Mamangabas destacou que esses pequenos insetos são capazes de observar, compreender e armazenar na memória e dá luz nos questionamentos científicos sobre como esses insetos são capazes de viajar longas distâncias para capturar alimento e retornar ao ninho, aprendendo a se orientar no espaço tridimensional.
Isso sugere uma forma de aprendizado social altamente complexo no reino animal, até então não relatado, desafiando a concepção de que apenas os humanos são capazes de aprender comportamentos complexos dessa maneira. Essa descoberta levanta questões sobre a transmissão de tradições comportamentais ao longo do tempo e entre gerações, destacando a importância da demonstração de técnicas específicas na transmissão de conhecimento entre as abelhas.
Em entrevista ao Terra, os biólogos Maria Cecilia Fiordoliva Ferronato, gerente de Projetos na ECCON Soluções Ambientais, e Allan Pscheidt, professor e pesquisador da FMU, explicaram as características e curiosidades sobre a espécie.
"Sua organização é altamente complexa, de ninhos com poucos indivíduos a colmeias com cerca de 10.000 indivíduos, tendo sempre uma única rainha, poucos zangões e centenas de operárias. As operárias são fêmeas incapazes de se reproduzir e possuem ferrão (nas espécies com ferrão). Já os zangões são os machos reprodutores, menores e sem ferrão", explicou Allan.
"As abelhas nascem por dois mecanismos. Na fecundação do zangão (machos) com a rainha (fêmea) nascem abelhas operárias (fêmeas) ou quando o ninho necessitar, uma nova rainha (fêmea). Já os zangões (machos) nascem através da partenogênese, um fenômeno biológico em que não ocorre a fecundação e a rainha colocou um ovo que não teve contato com o sémen do macho", completou.
Outro ponto interessante sobre as abelhas da espécie levantado pelo professor é que os zangões têm a capacidade de detectar rainhas virgens em um raio de até 10 quilômetros. Quando uma nova rainha emerge, ela é expulsa do ninho juntamente com operárias para formar uma nova colônia.
Do que se alimentam? E como se reproduzem?
As abelhas, incluindo a espécie Mamangabas, têm uma dieta diversificada, variando conforme sua fase de vida e função na colônia. Elas se alimentam principalmente de néctar, uma secreção açucarada das flores, coletada com suas línguas alongadas e armazenada no estômago para ser levada à colmeia.
"O pólen é uma fonte crucial de proteína, coletado pelas abelhas usando estruturas especializadas nas pernas, as escovas de pólen. Esse pólen é transportado de volta à colmeia para alimentar as larvas em desenvolvimento. A geleia real, produzida pelas abelhas operárias, é uma mistura de secreções glandulares e néctar, rica em nutrientes essenciais. Ela é usada para alimentar as larvas e a rainha, contribuindo para seu crescimento e desenvolvimento", explica Maria Cecilia Fiordoliva Ferronato.
As abelhas coletam néctar das flores, transformando-o em mel nas células dos favos através de enzimas e evaporação de água. O mel serve como fonte de energia e reserva alimentar na colmeia. Elas também precisam de água para diluir o mel e se manterem hidratadas, obtendo-a de diversas fontes. Quanto à reprodução, as abelhas Bombus seguem um ciclo similar a outras abelhas sociais.
"No início da primavera, uma rainha fundadora emerge de sua hibernação de inverno e inicia uma nova colônia. Ela produzirá ovos fertilizados que se desenvolvem em operárias, responsáveis por cuidar da colmeia. Depois, a rainha produzirá ovos não fertilizados, que se tornarão zangões, e ovos fertilizados, que serão novas rainhas", completa.
As novas rainhas e os zangões acasalam e, posteriormente, as rainhas fertilizadas fundam novas colônias, dando continuidade ao ciclo reprodutivo das abelhas Bombus terrestris ao longo das estações. Este ciclo de reprodução se repete, contribuindo para o aumento da população de abelhas e a disseminação de novas colônias.
As abelhas são inteligentes?
Para Allan, o conceito de inteligência é muito complexo, principalmente quando vivemos no auge de inteligências artificiais tomando os holofotes. No sentido biológico, estes animais são extremamente inteligentes devido a capacidade da sua hierarquia social, funcionamento do ninho e papéis bem definidos. Elas são capazes de encontrar alimento e comunicar sobre a localização exata da fonte desse alimento, bem como se localizar em grandes distâncias de voo.
Cecília também pontua que a questão da inteligência animal é complexa e envolve diferentes definições e critérios de avaliação. No caso das abelhas Mamangabas, há evidências crescentes de que elas exibem comportamentos complexos e adaptativos que podem ser interpretados como sinais de inteligência em um sentido científico, como o próprio artigo explicitou.
Embora as abelhas sejam exemplos de inteligência animal, é importante reconhecer que a inteligência é multifacetada e varia entre espécies, adaptando-se às suas necessidades ecológicas e biológicas específicas. Com estudos destacando sua capacidade de solucionar problemas, a importância das abelhas ganha destaque em meio às mudanças climáticas que ameaçam sua existência e a das plantas com flores.