O povo Tsou, de Taiwan, teme que um dos itens mais sagrados para eles possa desaparecer: a ‘Flor de Deus’. A espécie Dendrobium clavatum é uma orquídea amarela com um centro alaranjado e aveludado e cresce apenas em temperaturas baixas, o que, com as mudanças climáticas, tem se tornado cada vez mais raro.
"Minha tribo tem que ter a 'Flor de Deus' para nossas cerimônias. Caso contrário, Deus não conseguirá nos encontrar", diz o ancião do grupo, Gao Desheng, em entrevista à emissora britânica BBC.
A planta faz parte do dia a dia dos Tsou. Ela está presente no salão de assembleia do povo, além de ser cultivada em suas vilas. An Xiao-Ming, de 40 anos, indígena do grupo, explica que uma de suas divindades, o deus da guerra ‘Lafafeoi’, protetor que garante o retorno seguro dos jovens dos campos de batalha, tem como habitat essa flor.
“Essas flores são colocadas nos telhados de Kuba, significando a presença do divino”, diz. “Kuba” é o nome dado para o salão de assembleia, onde são realizadas as cerimônias espirituais da aldeia.
Em uma dessas cerimônias, a Mayasvi, que dura em torno de três dias, os homens vão pedir às divindades para abençoar os guerreiros e afastar a má sorte. Para isso, colocam as flores no alto de seus chapéus para que os deuses possam reconhecê-los.
A tradição antiga também determina que a 'Flor de Deus' não pode ser cultivada artificialmente - ela deve ser encontrada e colhida na natureza antes do nascer do sol, no início da manhã, antes que cerimônias importantes possam começar.
Antigamente, ela era encontrada em abundância e florescia próxima às casas dos Tsou. Mas agora é necessário subir cada vez mais alto a dentro das florestas. Em casos extremos, é encontrada no alto das árvores. A tribo acredita que a culpa é das mudanças climáticas.
Cultivo da planta
A 'Flor de Deus' deve crescer em um inverno severo, com clima abaixo de 12ºC, para que os botões se formem e ela possa florescer na primavera. Além do clima peculiar, ela precisa estar em altitudes de 800 a 1,8 mil metros.
Contudo, de acordo com a organização Greenpeace, as temperaturas mínimas no outono e inverno aumentaram gradualmente nos últimos dez anos, com base em dados locais de temperatura da Estação Meteorológica de Alishan.
Estima-se que, como resultado do aquecimento global, a temperatura média de novembro na estação Alishan aumentará dos atuais 12-14ºC para 14-16ºC em 2050.
O país também tem registrado secas cada vez mais frequentes e um clima mais quente. Embora os tufões sejam destrutivos, eles são uma fonte vital de água para a ilha. Assim, quando não conseguem chegar ao continente, como aconteceu recentemente, as colheitas podem fracassar. E isso afetou não só os rituais dos Tsou, como também os seus meios de sobrevivência.
Um dos anciões da tribo afirma que não há um substituto para a flor, caso ela desapareça, o que é “inconcebível” para o povo.