Educação ambiental: como professores têm inovado para ensinar sobre as mudanças climáticas

Pesquisa mostra que quase a totalidade dos professores querem tratar tema em sala de aula, mas metade não consegue por falta de recursos ou de tempo

28 ago 2024 - 20h10
(atualizado em 29/8/2024 às 12h27)
A densa fumaça, que encobriu prédios oficiais como o do Congresso Nacional, é intensificada pelas queimadas que ocorrem no Estado de São Paulo
A densa fumaça, que encobriu prédios oficiais como o do Congresso Nacional, é intensificada pelas queimadas que ocorrem no Estado de São Paulo
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil / Estadão

As enchentes no Rio Grande do Sul e as queimadas em diversas regiões do País são alguns dos exemplos mais recentes dos graves impactos das mudanças climáticas nas escolas e na vida dos estudantes. Nesse sentido, a educação ambiental é um tema visto como muito importante pelos professores, mas muitos não sabem como abordar esses assuntos em sala de aula.

Essa realidade é atestada por uma pesquisa feita pela Nova Escola, em que 98% dos mais de 13 mil docentes participantes, de todas as etapas da Educação Básica, disseram acreditar que a sociedade está vivendo fenômenos climáticos extremos com maior frequência e que é importante ensinar sobre o tema para os alunos. E 86% dos professores acreditam que suas casas ou escolas podem ser afetadas por fenômenos das mudanças climáticas em algum momento, como calor ou frio excessivo, enchentes ou queimadas, por exemplo.

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Apesar disso, apenas 56% dos profissionais trabalham a temática das mudanças climáticas com frequência no dia a dia da sala de aula. Somente 25% deles receberam alguma formação sobre a temática, enquanto 23% se sentem pouco ou nada confiantes para trabalhar o conceito em sala de aula, segundo o levantamento.

O principal desafio apontado pelos profissionais está na falta de recursos e materiais para trabalhar o tema e na falta de tempo no currículo. Os educadores expressaram necessidade de materiais educativos atualizados, atividades práticas e formação profissional para melhor ensinar sobre as alterações climáticas.

"Este ano o Brasil presenciou uma situação extrema de crise climática no Rio Grande do Sul, mas esses desafios são vividos há décadas em todas as regiões do País com o aumento das secas, avanço do nível do mar, entre outros pontos. Para a construção de uma sociedade mais resiliente às mudanças climáticas, a educação desempenha um papel crucial", afirma Cristiano Ferraz, coordenador da área de Comunidades da Nova Escola, uma ONG que distribui materiais para profissionais da educação. Professores de escolas públicas e privadas podem acessar gratuitamente conteúdos sobre os mais variados assuntos na plataforma.

"É impossível trabalhar naquele modelo tradicional, de explicar o conteúdo, levar algum texto introdutório, complementar, e depois fazer uma atividade. Eles não se interessam nesse formato de aula. Então geralmente eu faço dinâmicas, apresento vídeos de notícias, não só vídeos conteudistas, e faço atividades que prendam a atenção deles", conta a professora, que busca sempre criar métodos para promover a participação dos estudantes.

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Para isso, Daniele foca em trabalhar temas ambientais que se conectem com a realidade dos alunos, que vivem no sertão pernambucano. "É válido o meu aluno saber sobre a Amazônia, sobre o degelo nos polos, sobre o aumento da temperatura na Europa, mas primeiro ele precisa entender as mudanças climáticas que estão afetando onde nós vivemos, na Caatinga", afirma.

A partir da provocação de um de seus alunos, ela criou o projeto "Ser Sustentável", em que busca promover nas turmas uma nova mentalidade em relação ao meio ambiente, mais propositiva e ativa, de enfrentamento dos problemas climáticos e ambientais.

Na visão de Andrade, as demandas ambientais se apresentam como temáticas essenciais à formação escolar, mas ainda são tratadas de forma meramente discursiva e passiva nas escolas.

"Ficamos a maior parte do ano letivo imersos a calendários festivos em que, por exemplo, no Dia do Meio Ambiente, se faz cartazes com cartolinas, fitas, glitter e tintas que serão descartados na semana seguinte sem o menor constrangimento e reflexão", critica.

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Para ela, o caminho é debater sobre a temática sob uma perspectiva interdisciplinar, contextualizando as questões climáticas em âmbito social, cultural e político.

Na prática, a profissional já promoveu atividades como o plantio em horta para vivência do cultivo orgânico e aprendizagem sobre fertilizantes naturais e a agricultura familiar sem agrotóxicos, além de outros exercícios "mão na massa" para combate da cultura do descarte, revitalização da área externa da escola e coleta e separação do lixo.

"A promoção destas transformações precisa ser provocada, instigada, criada", afirma a professora.

Em algumas das atividades, a professora busca articular inclusive as famílias, a comunidade e a gestão pública local.

Para a educadora, o maior desafio é conseguir sensibilizar e engajar crianças e adolescentes à práticas, hábitos e ações que não fazem parte da cultura cotidiana deles em suas comunidades.

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"Em uma atividade de engajamento dos estudantes para separação dos recicláveis e resíduos orgânicos, ouvi de um estudante que falaram para ele parar com essa frescura e que era para a professora cuidar da lição e não do lixo da casa. Esse é um exemplo bem corriqueiro e ilustra bem o quanto necessitamos de uma nova mentalidade, uma nova ética que está para além de separar tampinhas e pets para reciclagem. E também, o quanto é importante trabalhar captando quais são as dificuldades e demandas da comunidade e das famílias", afirma Eveline.

Ela garante, porém, que embora os desafios sejam estruturais e extrapolem o ambiente escolar, esse trabalhos na escola são uma das principais formas para chegar próximo das mudanças esperadas na mentalidade dos estudantes - e da sociedade.

"A necessidade deste trabalho está diante dos desafios, cada vez mais nítidos, de que devemos pensar globalmente para agir localmente", conclui a professora.

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