‘EKOFraldas’: alunos de escola pública do interior de PE criam fralda biodegradável de baixo custo

Cinco estudantes de uma cidade de pouco mais de 18 mil habitantes foram finalistas de um prêmio de incentivo à ciência

23 jan 2024 - 05h00
Resumo
Os estudantes da Escola Técnica Professor Paulo Freire idealizaram e desenvolveram fraldas biodegradáveis com composição à base de plástico biodegradável, pó de fibra do coco, tela do coqueiro e tecido de algodão.
Da esquerda para direita: os alunos José Henrique, Rafaella, Shayane, Raissa e Diogo. Nas pontas, estão os professores Gustavo e Carla
Da esquerda para direita: os alunos José Henrique, Rafaella, Shayane, Raissa e Diogo. Nas pontas, estão os professores Gustavo e Carla
Foto: Arquivo Pessoal

Se, em média, cada criança usa 6 mil fraldas descartáveis e cada uma dessas fraldas demora cerca de 450 anos para se decompor, quanto tempo levará para o planeta se recuperar do impacto das necessidades fisiológicas de apenas um bebê? Foi através de reflexões como essa, que até poderia ser uma questão de vestibular, que os alunos da Escola Técnica Professor Paulo Freire, em Carnaúbas, interior de Pernambuco, idealizaram e desenvolveram as chamadas “EKOFraldas”, uma fralda biodegradável e menos custosa.

O professor de química Gustavo Santos Bezerra, de 30 anos, levou uma provocação para sala de aula. Pediu à turma do 2º ano do Ensino Médio que pensassem em projetos para solucionar problemas que eles viam no dia a dia, e um grupo de cinco estudantes acabou se destacando.

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“Eles viram a questão da problemática das fraldas, que era financeira e ambiental. E, a partir disso, eles começaram a investigar, a fazer uma pesquisa teórica inicialmente; ver o quanto tempo demorava para se degradar; quais são as reutilizáveis que tem no mercado e qual o preço delas. Porque era um valor também bem absurdo, que, por mais que a gente pensasse nas questões ambientais, a questão do alto valor delas impossibilitava das famílias de baixa renda conseguirem comprar”, conta Gustavo.

Dessa pesquisa, os alunos tiveram a ideia de usar recursos naturais que seriam jogados fora, além de retirar o plástico tradicional da composição. “Os alunos pensaram em reutilizar a casca do coco, que tem o poder de absorção”, explica o professor.

Ele detalha como é feita cada camada das fraldas biodegradáveis:

  • Plástico biodegradável;
  • Pó da fibra do coco;
  • Tela do coqueiro; 
  • Tecido de algodão que reveste em cima e embaixo.

“A ideia desse algodão em cima e embaixo é que não fique em contato direto com a pele do bebê. E esses materiais internos serão responsáveis pela absorção do líquido. Aí esse cartucho é moldado no tamanho de 25,5 cm por 13,5 cm, que é aquela parte central da fralda, e colocado no shortinho. Dessa forma, quando a criança utiliza a fralda, só vai ser necessário trocar esse cartucho”, diz Gustavo.

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Os alunos fizeram testes de absorção com a fralda
Foto: Arquivo Pessoal

Os testes feitos pelos alunos mostraram que a EKOFraldas tem poder de absorver cerca de 150 ml, valor próximo ao das fraldas tradicionais, que seria cerca de 200 ml, ainda segundo o professor. A fralda biodegradável criada pelos estudantes começaria a se decompor já com sete dias após o descarte, tendo contato com o solo e com a água.

Reconhecimento

Todos os grupos da turma de Gustavo inscreveram seus projetos no Prêmio Solve For Tomorrow, de incentivo à produção científica em escolas públicas. Ao todo, a iniciativa recebeu cerca de 2.300 inscrições, e a EKOFralda foi um dos 10 finalistas. Os cinco estudantes viajaram para São Paulo para apresentar o projeto, acompanhados de Gustavo e mais uma professora.

Eles foram premiados com tablets e a escola recebeu computadores para serem usados no laboratório. Mas Gustavo destaca que o recurso é apenas um pequeno passo entre tantas melhorias que ainda precisam ser feitas.

“É muito complicado para a gente fazer ciência no interior. Já nas grandes cidades, na universidade, a gente sente dificuldade, imagina numa escola? Porque assim, o laboratório que a gente tem é um laboratório de ensino muito pequeno. A gente teve que adaptar diversos equipamentos”, diz.

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O docente conta ainda que precisou levar um liquidificador de casa para a escola para que pudesse triturar a fibra do coco. Outras vezes, os alunos levavam materiais da escola para a casa porque não tinham condições de terminar o trabalho ali.

Agora, o intuito de Gustavo é que a iniciativa receba outros investimentos para que possa continuar a ser desenvolvida. O professor chega a citar parcerias que estão no radar. “A gente recebeu até um contato de uma empresa que produz fraldas, realmente, e ela disse que pode dar esse apoio para a gente. Ficou para a gente entrar em contato esse ano para tentar fazer alguns testes com eles”, afirma.

A EKOFraldas ainda precisa passar por testes de alergia e microbiológicos, já que, até o momento, foi testada apenas em laboratório e com bonecos.

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Fonte: Redação Terra
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