Tragédia de Brumadinho completa 5 anos e famílias lutam para inaugurar memorial

Familiares trabalham para inaugurar monumento arquitetônico em homenagem às vítimas do rompimento da barragem de mineração

25 jan 2024 - 00h00

Há cinco anos, no dia 25 de janeiro de 2019, às 12h28, a barragem da Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho (MG) se rompeu causando um dos maiores desastres já vivenciados no Brasil.

Foram 270 vítimas fatais, incluindo 236 funcionários da Vale, 22 moradores de Brumadinho e 12 pessoas que estavam em uma pousada. Três corpos ainda estão desaparecidos e as buscas continuam.

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Milhões de litros de lama contaminada com metais devastaram a região, soterrando, além das vidas, construções, o rio Paraopeba, diversas espécies de animais e uma área de quase 150 mil hectares de vegetação. A lama percorreu mais de 300 km, afetou 18 municípios e quase um milhão de pessoas. Oito cidades se abasteciam da água do rio, que ainda não foi totalmente recuperado.

Na ocasião, a Vale foi multada pelo Ibama em R$ 250 milhões e, em 2021, assinou um termo de compromisso de mais de R$ 37 bilhões em indenizações, destinados a diferentes tipos de despesas, definidos pelas famílias das vítimas e comunidades atingidas.  São elas: transferência de renda, investimentos socioeconômicos, segurança hídrica, reparação socioambiental, mobilidade urbana, melhoria de serviços públicos e medidas de reparação emergencial.

Impasses

A fim de lutar pelos seus direitos e interesses, os familiares das vítimas se organizaram e criaram a Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos do Rompimento da Barragem Mina Córrego Feijão Brumadinho, a AVABRUM. O grupo é o responsável por gerir o Memorial Brumadinho, que teve a construção financiada pela Vale. 

As obras estão entregues, mas o espaço ainda não foi inaugurado. Depois de dois anos de impasses, apenas em agosto de 2023, as famílias conseguiram que a mineradora assinasse um compromisso garantindo que a AVABRUM é, de fato, a responsável pela governança.

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No momento, a organização está em processo de se tornar uma fundação e aguarda as operações burocráticas se finalizarem para, finalmente, inaugurar o memorial. Em dezembro de 2023, foi definido o conselho curador e a diretoria executiva, que já começaram a trabalhar para acelerar a abertura do monumento.

Memorial Brumadinho

Kenya Paiva Silva Lamounier perdeu o marido Adriano Aguiar Lamounier na tragédia. Ele tinha 54 anos, trabalhava há 20 anos na Vale e atuava como técnico de planejamento de manutenção. Hoje, ela faz parte do conselho da AVABRUM e explica que, inicialmente, a intenção era apenas buscar um espaço para que as famílias pudessem depositar os segmentos corpóreos armazenados no IML.

“A gente enterrou algumas partes, mas como as buscas continuam, muito material ainda está sendo encontrado. Em 2019, eu sepultei o que tinha e depois o restante apareceu. Para não precisar passar de novo por toda essa questão de velório e enterro, decidimos buscar um espaço que fosse um depositório desses restos corpóreos”, conta Kenya.

Para ela, a intenção do memorial é honrar as vidas perdidas sob a lama, mas não apenas isso: “Queremos que seja um espaço reflexivo sobre o que acontece quando a intervenção do homem está acima da vida das pessoas. Quando o lucro é colocado acima da vida”. 

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“Vamos contar a história das vidas que a Vale matou, mas também vamos contar a história do crime”, reforça Kenya.

Arquitetura 

“Quando fui projetar o memorial, eu já estava suficientemente indignado para me solidarizar com eles”, conta Gustavo Penna, arquiteto responsável por transformar as ideias das famílias em um monumento arquitetônico.

Para Penna, a missão da arquitetura é tridimensionalizar sentimentos: “A morte biológica é um impacto. Mas existe uma segunda morte, que é o esquecimento. A missão do memorial é justamente não deixar esquecer”. O arquiteto explica que tudo ali foi pensado para ser um conjunto de metáforas.

Fenda: um longo corredor de 220 metros que corta a terra atua para simbolizar a fenda do rompimento da barragem. Nele há o nome das vítimas nas paredes e, à noite, são acendidas luzes que criam um efeito de procissão.

Uma escultura geométrica suspensa se destaca. Segundo o arquiteto, ela representa uma cabeça que chora. No final do percurso, há uma cascata com um mirante para uma área que antes era toda coberta por lama. 

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Foto: Divulgação Gustavo Penna | Arte: Mariana Sartori

Pavilhão de entrada: é como se fosse as construções cobertas pela lama. Todo tingido de barro. “Quando a lama atingiu a cidade, casas, caminhões, árvores, tudo ficou com a mesma cor”, diz.  No concreto do interior estão incorporadas algumas peças metálicas retiradas dos escombros.

“O impacto da lama também arrancou telhas das casas, então eu fiz essas frestas no teto, para que o sol entre e ilumine o ambiente escuro”, explica. A cada dia 25 de janeiro, exatamente às 12:28 (data e hora da tragédia em 2019), um facho de luz iluminará uma drusa de cristais. 

Também há o espaço meditativo, a sala Memória e a sala Testemunho, onde as pessoas entram em contato com o que aconteceu no fatídico dia. Na área externa, ipês amarelos foram plantados em torno de toda a edificação.

O Memorial Brumadinho ainda não tem uma data de inauguração definida, mas as famílias esperam que aconteça ainda em 2024.

Memorial é criado para relembrar tragédia de Brumadinho Memorial é criado para relembrar tragédia de Brumadinho

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Fonte: Redação Planeta
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