Dois dos principais biomas brasileiros quebraram recordes históricos de queimadas no primeiro semestre de 2024. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Cerrado e o Pantanal sofreram a maior quantidade de focos de incêndio registrados desde 1988, quando o instituto deu início ao monitoramento.
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No período, a Amazônia também registrou o maior número de focos de incêndio em 20 anos. A exceção, de acordo com o Inpe, são os Pampas, no Sul, região castigada por fortes chuvas nos primeiros seis meses do ano.
Os satélites de monitoramento registraram, no Pantanal, 3.262 focos de queimadas entre 1º de janeiro e 23 de junho. A marca é 22 vezes maior do que os registros do mesmo período em 2023. Já no Cerrado, foram detectados 12.097 pontos de incêndio, 32% a mais que o registrado no ano passado.
No Pantanal, a crise superou a marca negativa de 2020, até então a mais severa, quando foram registrados 2.534 focos entre 1º de janeiro e 30 de junho. Na ocasião, o fogo devastou um terço da área do bioma, e especialistas estimam que 17 milhões de animais vertebrados morreram nos incêndios.
O aumento das queimadas em 2024, de acordo com especialistas, está ligado principalmente à crise climática. O Pantanal, por exemplo, vive seca hídrica severa. Chuvas escassas no começo do ano foram insuficientes para transbordar rios e conectar lagoas e o Rio Paraguai, o principal do bioma, que atingiu níveis baixos para o período.
O Pantanal também sofreu com as ações humanas de devastação no Cerrado, uma vez que os biomas são interconectados, explica a analista de conservação da ONG WWF Brasil Cyntia Santos: "Podemos destacar as alterações climáticas, o desmatamento na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal, além da atuação do El Niño que traz um período mais seco no caso das regiões Centro-Oeste Brasileiro. Todos esses elementos afetam diretamente o ciclo de chuvas e o acúmulo de água no território".
No entanto, a catástrofe que atingiu o Pantanal em 2020 pode ser evitada, avaliam especialistas, a partir do engajamento da população, a fim de evitar novos focos, e da ação do Poder Público no combate aos incêndios. Há quatro anos, 60% dos focos de incêndio no bioma aconteceram entre os meses de agosto e setembro.
“As cabeceiras do Pantanal, por exemplo, são áreas prioritárias para a preservação e restauração do bioma, e elas estão no Cerrado, que conecta áreas bem importantes da Amazônia, e todos estes biomas vêm sendo sistematicamente desmatados", destaca Cyntia.
Situação de emergência
O governo do Estado de Mato Grosso do Sul decretou situação de emergência devido aos incêndios no Pantanal. O documento foi publicado no Diário Oficial nesta segunda-feira, 24, e prevê a facilitação de licitações de emergência e também o socorro do Corpo de Bombeiros dentro de residências.
As queimadas no Pantanal já destruíram 627 mil hectares só neste ano. Do total de hectares queimados, 480 mil ficam em Mato Grosso do Sul e 148 mil em Mato Grosso, conforme os dados divulgados até domingo, 23, pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O decreto prevê ainda uma atuação mais rápida nos municípios de MS que foram afetados pelos incêndios, como Corumbá e Ladário. A publicação vale por 180 dias. Neste período, fica autorizada a mobilização de todos os órgãos estaduais para atuarem sob a coordenação da Defesa Civil do Estado, em ações que envolvem resposta ao desastre, reabilitação do cenário e reconstrução.
Segundo o Estado, em caso de risco iminente, os agentes poderão adentrar as casas para prestar socorro, determinar a evacuação e usar propriedade particular.
Também ficam dispensadas licitações nos casos de emergência ou calamidade pública, quando caracterizada a urgência para não comprometer a continuidade dos trabalhos (públicos), em relação a obras, aquisição de equipamentos e serviços.
Crise amazônica
Na região Norte, a Floresta Amazônica teve 12.696 focos de queimadas entre 1º de janeiro e 23 de junho, um aumento de 76% com relação ao mesmo período em 2023. O valor é, também, o maior registrado desde 2004.
A série histórica compreende que o valor só fica abaixo dos registros de focos de queimadas na Amazônia monitorados entre 2003 e 2004, quando foram identificados, respectivamente, 14.667 e 14.486 pontos de incêndio no período.
A marca, no entanto, reflete um prognóstico negativo para o bioma: é a maior marca de degradação da Floresta Amazônica em duas décadas, estas marcadas por dois anos consecutivos de desmatamento.
As queimadas no Norte têm ligação com o desmatamento, uma vez que o fogo é usado para 'limpar' áreas florestais derrubadas. O aumento de incêndios também está associado às secas históricas que atingiram o bioma em 2023.