Quando um personagem de um filme ou uma série tem uma ideia, a lâmpada é um dos símbolos comumente utilizados para registrar o efeito. E não poderia ser diferente, já que normalmente é através dela que vemos a luz.
No caso do mineiro Alfredo Moser, a responsável por acender a "lâmpada de ideia" em sua cabeça foi a crise energética que assolou o Brasil em 2002. Por necessidade, o mecânico desenvolveu uma solução de iluminação que posteriormente seria utilizada em diversos lugares do mundo.
Utilizando garrafas PET com água e um pouco de alvejante, Moser conseguiu criar sua própria lâmpada. Isso foi possível por causa da radiação solar que atingia a garrafa, o que a torna equivalente a uma lâmpada de 60W. Para funcionar, metade da garrafa ficava para fora do telhado e metade para dentro do cômodo.
A lâmpada de Moser inspirou o filipino Illac Diaz a fundar o movimento Liter of Light, em português, Litro de Luz, que tinha como objetivo ajudar famílias de baixa renda em seu próprio país. Contudo, a organização sem fins lucrativos se expandiu e chegou a outros lugares do mundo, incluindo o Brasil.
A filial brasileira surgiu em 2014 e, desde então, já beneficiou diretamente mais de 25 mil pessoas e implementou mais de 4 mil soluções em mais de 120 comunidades pelo País.
Luz para as comunidades
Rodrigo Eidy Uemura é o atual presidente do Litro de Luz no Brasil. Em entrevista ao Terra, ele conta que, diferentemente do que possa parecer, a iniciativa não atua apenas em zonas rurais.
"O Litro de Luz Brasil atua nas cinco regiões, com comunidades de diferentes perfis: urbanas (favelas), quilombolas, indígenas, ribeirinhas (principalmente as extrativistas na Amazônia), entre outras. Todas essas comunidades não possuem acesso regular à energia elétrica ou vivem sem luz em suas casas", explica.
Existem três formas de escolher as comunidades: por meio da visita ao local, para validar se o trabalho faz sentido; por meio da indicação de outras organizações sociais; ou por meio da indicação de um parceiro que financiará o projeto de iluminação. De qualquer maneira, em todas elas há uma visita para validar se o trabalho faz sentido para a região.
O presidente da organização também relata que é preciso o engajamento da comunidade para que o projeto funcione de forma efetiva.
"É reservado um dia e, com o apoio dos moradores da comunidade, voluntários do Litro de Luz e voluntários do parceiro financiador do projeto, são instaladas as soluções de iluminação", afirma Rodrigo.
Após concretizada a ação, a organização realiza um acompanhamento durante cinco anos para prevenir eventuais problemas.
Além de receberem o projeto Litro de Luz em suas comunidades, os moradores também podem se tornar embaixadores da iniciativa, representando a organização na comunidade. Desta forma, eles são beneficiados com cursos gratuitos de liderança e manutenção das soluções de iluminação.
Roziane Lima, moradora da Vila Ramalho, no município de Caruari, no Amazonas, é uma das beneficiadas pelo projeto.
"Meu lampião tem a mesma idade da minha filha. Se eu não tivesse o lampião, estaria gastando dinheiro com pilha para lanterna. Ele é com energia solar e foi doado, então não gastamos pra receber ele. A gente não fica gastando um dinheiro que nem tem", afirma.
O projeto não possui nenhum custo para a comunidade, e as ações de iluminação acontecem por meio de parcerias com empresas, institutos, fundações e instituições públicas que se propõem a financiar o projeto.
"A única exigência que fazemos da comunidade é a participação deles durante todo o processo, para que tenham o senso de pertencimento das soluções e cuidem delas após a instalação", diz Rodrigo Eidy Uemura, presidente do Litro de Luz no Brasil.
Quais os planos para o futuro?
O Litro de Luz pretende expandir sua atuação nas regiões Norte e Nordeste, já que estes locais geralmente concentram a maior parte das comunidades que têm dificuldade com acesso à iluminação.
"Estamos expandindo nossa atuação para o setor energético de forma abrangente. Queremos escalar uma nova frente do Litro de Luz, focada na inclusão produtiva por meio da capacitação de pessoas das comunidades para atuarem como instaladores de sistemas fotovoltaico", finaliza o gestor.
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