O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou que os países mais desenvolvidos e ricos possuem uma "dívida com a humanidade" devido à poluição produzida durante os últimos séculos de industrialização. As declarações foram feitas nesta segunda-feira, 14, em transmissão pelas redes sociais.
"É muito simples compreender. Os países ricos tiveram sua introdução na Revolução Industrial bem antes que o Brasil. Então, são responsáveis pela poluição do planeta, conseguiram derrubar todas as suas florestas antes de nós. Agora, o que têm que fazer é contribuir financeiramente para que os outros países possam se desenvolver", disse Lula durante o programa Conversa com o presidente, realizado pela TV Brasil e transmitido pelas redes sociais do governo.
Dessa forma, na avaliação de Lula, os auxílios destinados às nações em desenvolvimento para a preservação do meio ambiente não devem ser considerados como "favor", mas sim como uma forma de compensação dessa dívida.
"Não queremos 'ajuda', queremos um pagamento efetivo. É como se tivessem pagando uma coisa que devem à humanidade, a gente preservar as atuais florestas", declarou.
De acordo com Lula, essa é a perspectiva compartilhada pelos países da Região Amazônica, e que deverá ser apresentada na Cúpula do Clima nos Emirados Árabes Unidos, no final deste ano.
"Temos condições de chegar ao mundo lá nos Emirados Árabes e dizer o seguinte: 'a situação é essa, queremos essa contribuição de vocês e isso não é favor, é pagamento de uma dívida que vocês têm com o planeta Terra'", afirmou.
Em outro trecho da entrevista, Lula voltou a repetir a promessa de que o País tentará cumprir a meta de zerar o desmatamento da Amazônia até 2030: "Queremos entregar a Amazônia com desmatamento zero".
Lula também destacou que, embora a preservação seja uma incumbência de todos, a atribuição de responsabilidades deve considerar aspectos históricos, como a contribuição de cada nação na degradação acumulada até o presente momento.
"Alguns têm que ceder mais do que outros. Alguns [que participaram da Revolução Industrial] conseguiram poluir, destruir, há muito mais tempo. Essa gente tem que pagar um pouco mais. Temos que convencê-los disso. Temos que ser muito duros", completou.
O mandatário brasileiro, que tem um encontro marcado com o presidente norte-americano, Joe Biden, em setembro, expressou ainda sua expectativa por investimentos dos Estados Unidos em iniciativas de transição energética no Brasil.
Transição ecológica
No programa, Lula enfatizou o plano de transição ecológica apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
"O (ministro da Fazenda, Fernando) Haddad mostrou para nós que é possível, através de uma transição energética e climática muito forte, a gente trazer dinheiro de fora para investimento aqui no Brasil... Espero que os Estados Unidos também estejam embutidos nesta ideia", disse Lula.
Cúpula da Amazônia
Lula reiterou ainda que a cúpula da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), ocorrida na semana passada em Belém, foi bem-sucedida ao unir os países que possuem florestas tropicais em torno de metas compartilhadas em preparação para a COP28, agendada para os Emirados Árabes Unidos no final deste ano.
Durante a cúpula, os 8 países amazônicos participantes assinaram um documento intitulado Declaração de Belém, no qual se comprometem com uma série de políticas e ações conjuntas para fortalecer a cooperação regional.
No entanto, não chegaram a um consenso em relação a uma meta unificada para a eliminação do desmatamento.
Lula minimizou a ausência de acordo entre os participantes, afirmando que é desafiador "encontrar uma solução definitiva" e enfatizou a importância dos pontos em comum alcançados durante a cúpula.
"Esse encontro teve como pretexto a gente preparar os países que são amazônicos para a gente levar uma proposta sobre as florestas na COP28. A gente conseguiu preparar uma proposta e conseguir uma coisa unitária", completou.