Um estudo divulgado pelo Instituto Escolhas mostrou a falta de controle do Brasil sobre o comércio de mercúrio. De acordo com a pesquisa, cerca de 186 toneladas do metal tóxico de origem desconhecida podem ter sido utilizados para o garimpo de ouro no país entre 2018 e 2022.
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Para chegar neste valor, o levantamento trabalhou com dados que comprovam o aumento da exportação de ouro no período, ao mesmo tempo em que, de maneira inversa, a importação de mercúrio - material utilizado na extração e que não é produzido em território brasileiro - diminuiu.
Segundo o estudo, 127 toneladas de ouro foram produzidas no Brasil em áreas com permissão para garimpo. Para essa quantia, estima-se que seriam necessárias de 165 e 254 toneladas de mercúrio para a formação da amálgama, com o intuito de separá-lo do material extraído.
Isso, no entanto, conflita com dados que indicam que o País importou apenas 68,7 toneladas do metal no período. Ou seja, entre 96 e 185 toneladas entraram no país de maneira ilegal.
A publicação também reforça que, de 2002 a 2022, as exportações de ouro praticamente triplicaram de 35 para 96 toneladas por ano, e as áreas dedicadas ao garimpo em solo brasileiro cresceram de 68 mil 224 mil hectares, enquanto a importação de mercúrio caiu de 67 para aproximadamente 15 toneladas por ano.
De onde vem o mercúrio?
Por não ser produtor da substância, todo o mercúrio utilizado no Brasil é importado. No entanto, como citado anteriormente, há um conflito entre os registros de entrada da substância no País e o uso estipulado entre 2018 e 2022.
Das 68,7 toneladas do material importadas legalmente, 62.516 vieram do Japão, 6.210 do México e nove dos Estados Unidos. O possível material que entrou de maneira ilegal no Brasil, porém, pode ter vindo de outros lugares.
De acordo com o estudo, a Bolívia, território vizinho, importou quase 723 toneladas de mercúrio no período. Porém, exportou apenas 196 toneladas de ouro. Em comparação, ela importou quase 10 vezes mais do produto do que o Brasil, mas produziu apenas 50% a mais de ouro. Com essa diferença, nvestigações e apreensões já indicaram o país como rota de comércio ilegal.
Por motivo parecido, a Guiana também chama a atenção. O Peru, por sua vez, deve ser observado por conta da alta taxa de exportação do material. No período, ele enviou 176 toneladas do material para Índia, Holanda e Suíça.
Perigos do mercúrio?
A situação que já é preocupante fica ainda pior quando o metal é descartado de maneira incorreta. Ao ser despejada na água, a substância pode se transformar em metilmercúrio, que é ainda mais tóxico.
O consumo de frutos do mar contaminados, por exemplo, passa a se tornar um risco para os seres humanos. Como resultado, esse problema pode acarretar em danos ao sistema nervoso, dificuldades motoras, fraqueza muscular, comprometimento neurológico e até mesmo levar ao óbito do ser humano afetado.
Como erradicar o uso de mercúrio?
O perigo do mercúrio à saúde leva ao debate pela erradicação ou, pelo menos, controle mais rígido do uso da substância no País. O estudo, então, listou medidas que devem ser adotadas no combate ao uso indiscriminado do metal.
O primeiro passo, é claro, fica por conta do estabelecimento da erradicação do metal, com a criação de metas e prazos. Para combater o comércio ilegal, a solução pode ser incentivar outros países pela erradicação. Na Colômbia, por exemplo, o produto é proibido desde 2018.
No garimpo de ouro, também é possível pensar em alternativas além do mercúrio. Segundo a pesquisa, o uso da gravidade pode obter materiais com alto teor aurífero. No entanto, isso necessita de trituradores, os moinhos e as caixas, além do uso de centrífugas, mesas vibratórias, bateias e imãs para limpar os concentrados de ouro
Além da gravidade, existem outras medidas que podem ser desenvolvidas com o incentivo à pesquisa. O estudo do Instituto Escolhas menciona uma iniciativa da Embrapa que substitui o mercúrio por folhas de pau-de-balsa, árvore nativa da Amazônia.
Ao mesmo tempo em que a erradicação é incentivada, também é importante ter controle do mercúrio que circula pelo Brasil. Para evitar a liberação da substância no meio ambiente, é necessário aumentar a fiscalização das atividades de extração do ouro.