O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou nesta quarta-feira que o Brasil vai provar que não é vilão, mas herói ambiental, no momento em que é alvo de críticas pela política na área do meio ambiente. Em entrevista à Reuters, o ministro avaliou que infelizmente há uma percepção muito equivocada a respeito da política ambiental do Brasil e da Amazônia.
"Isso ganhou uma notoriedade muito grande sem corresponder à realidade. Temos uma política com compromisso total com o ambiente e com o uso racional dos recursos naturais", afirmou. "Temos convicção de que nossa agricultura é inteiramente sustentável e seguramente uma das mais sustentáveis do mundo", acrescentou.
O governo do presidente Jair Bolsonaro ficou sob forte pressão internacional neste mês por causa do expressivo aumento dos incêndios florestais na Amazônia e também por declarações polêmicas do presidente, que chegou a apontar organizações não-governamentais (ONGs) como suspeitas pelas queimadas.
O chanceler disse que o governo está pronto para disponibilizar os dados que mostram todo o trabalho que vem sendo feito na área ambiental para que o mundo posso avaliar. "Queremos que as pessoas se sentem, olhem os dados, comparem... estamos fazendo um esforço no combate aos incêndios que nunca foi feito", argumentou. "Espero que tudo isso seja valorizado e as pessoas que se preocupam com meio ambiente legitimamente vejam que o Brasil é o herói e não o vilão."
A polêmica ganhou contornos de crise diplomática após uma troca de farpas entre Bolsonaro e o presidente francês, Emmanuel Macron. O francês acusou Bolsonaro de mentir durante a reunião do G20 por ter declarado compromisso com a questão ambiental.
"Acredito que o presidente Bolsonaro reagiu da maneira que precisava reagir. A gente lamenta que tenha havido esse tipo de comportamento e de ofensa por parte do presidente da França, mas tenho certeza que os brasileiros estão tranquilos com o posicionamento do presidente Bolsonaro a esse respeito", afirmou.
Interesses econômicos
Sobre as críticas ao tratamento que está sendo dado em relação à crise na Amazônia, o chanceler afirmou que existe uma unidade absoluta dentro do gabinete e em torno do presidente da República e do conceito de soberania como base de tudo. "E de não aceitar sugestão que implique em relativizar a soberania do Brasil sobre seu território e na Amazônia. Há uma unidade muito grande", afirmou.
Araújo reforçou declarações do presidente sobre a existência de interesses econômicos de fora na região. "Sem dúvida eu acho que sim", disse quando perguntado se a mobilização internacional em torno da Amazônia teria motivação econômica.
"Acho que há setores que por ventura se sentem ameaçados por um Brasil mais competitivo, que começa a fechar acordos que não tinha, começa a se posicionar nas cadeias globais de valor", disse. "Esses setores instrumentalizam uma questão legítima, explorando uma opinião pública que tem pouquíssimo acesso a informação sobre o Brasil", disse.
A reação internacional às denúncias de que o Brasil estaria tendo uma postura permissiva em relação à preservação da floresta veio rapidamente. Na semana passada, após se alastrarem notícias e imagens das queimadas pelo mundo, a Finlândia pediu que a União Europeia avaliasse a possibilidade de banir a carne bovina brasileira, e o gabinete de Macron também afirmou que iria se opor ao acordo UE-Mercosul, posição semelhante à divulgada pela Irlanda.
Internamente, o setor do agronegócio reagiu, na tentativa de reforçar que o setor trabalha de forma sustentável, sob temor de retaliação internacional aos produtos brasileiros. O agronegócio brasileiro representa mais de 40% das exportações do país. Até julho deste ano, de acordo com dados do Ministério da Agricultura, foram exportados 56,6 bilhões de dólares. Em 2018, os valores foram recordes, de 101,7 bilhões de dólares.
Terras índigenas
Araújo afirmou que no caso de terras indígenas o presidente já deixou claro que a intenção é permitir o uso racional e sustentável dos recursos naturais que existem nessas áreas em benefício do Brasil e das próprias populações.
"Muitos líderes indígenas têm nos procurado para dizer que querem que haja essa exploração. São comunidades que vivem de maneira muito pobre em cima de terras extremamente ricas", disse, acrescentando que o modelo tem que ser estudado, mas seria dentro do marco legal brasileiro e em benefício das comunidades indígenas.
"O que acontece hoje é que não é permitida a exploração legal, mas há exploração ilegal da riqueza que não redunda em benefício ao país e às populações indígenas", disse.
Na véspera, em reunião com governadores da região amazônica no Palácio do Planalto, Bolsonaro afirmou que a contínua demarcação dessas terras tem por objetivo "inviabilizar" o país.