Fernando Barletta Simões, um fotógrafo de 44 anos, descobriu uma espécie rara e nova de esponja de água doce em seu tanque de aquário, em São Paulo, com o nome 'Heteromeyenia barlettai' em homenagem ao fotógrafo.
Já pensou ganhar duas vezes seguidas na loteria? É, mais ou menos, como podemos definir a descoberta do fotógrafo Fernando Barletta Simões, de 44 anos. Uma espécie rara e nova de esponja de água doce apareceu em seu tanque de aquário, em São Paulo. O nome foi escolhido em homenagem ao fotógrafo: ‘Heteromeyenia barlettai’.
Em entrevista ao Terra, Barletta conta que o caso, que aconteceu em 2014, começou de uma forma descontraída. Ele, que é fã de Biologia, especialmente animais aquáticos, desde criança, mantinha um tanque de 200L em seu apartamento e um dia notou uma espuminha junto a uma planta.
“Olhei de perto e vi que havia espinhos nela e um leve tecido”, relembra Fernando. “Nunca havia visto coisa parecida, então fiz umas fotos e comecei a procurar nos antigos fóruns."
Na época, o Orkut --que estava encerrando suas atividades-- foi o meio de comunicação utilizado. Ele ainda não tinha Facebook. Lá, Barletta encontrou um post sobre esponjas de água doce, escrito por Walther Ishikawa, um médico que, assim como ele, mantinha o hobby e tinha um site chamado “Planeta Invertebrados”, onde descrevia de forma leiga múltiplas espécies de invertebrados de água doce do Brasil.
Barletta comenta que foi o verdadeiro divisor de águas para entender o que estava acontecendo em seu aquário. "Foi por lá [site do médico] que entendi que aquilo era uma esponja, um animal simples e raro. E muito mais raro de se criar dentro de um aquário pois era sensível, mais raro ainda ter aparecido num aquário no meio de São Paulo”, diz.
Walther deu o contato de um biólogo especialista em esponjas da Universidade Federal de Pernambuco, Ulisses Pinheiro. “Ele me pediu umas amostras e lhe enviei por correio. Nesse estágio, já havia dezenas de esponjas em cada canto do aquário, então pude sacrificar algumas”, comentou.
Durante alguns meses, não houve novidades, pois o biólogo estava com dificuldades para definir a espécie. “Foi então que ele me mandou um e-mail dizendo se tratar de uma nova espécie e perguntou se queria ser o autor ou o homenageado no nome científico. Escolhi o segundo e assim ficou: ‘Heteromeyenia barlettai’."
Ainda segundo Fernando, a teoria para algo tão raro ter aparecido em seu aquário é que as gêmulas (estruturas reprodutoras) vieram pelo abastecimento de água durante a seca de 2014.
Como a espécie foi identificada?
“O professor Ulisses Pinheiro explicou que uma porífera (esponja) só pode ser identificada através de seus espinhos, chamados de espícula, que se trata de um material que o animal secreta para construir seu corpo e dar forma. As espículas são microscópicas e é através do seu formato único que se identifica a espécie. Com exames feito em microscópio eletrônico ele pôde ver suas formas e assim comparar com as espécies conhecidas”, explicou Fernando.
O que aconteceu com as esponjinhas?
De acordo com Barletta, ele manteve as esponjas durante cinco anos. “Cada indivíduo não vivia muito, cerca de poucos meses. Mas se multiplicavam sempre em novas esponjas no tanque”, relembra.
Depois deste período, elas começaram a desaparecer até não ter nenhuma. “Ainda tinha esperanças de ressurgir, mas o golpe final foi que, com a chegada da pandemia, decidi morar fora de São Paulo e acabei desmontando o aquário”, analisa. “Ainda pretendo recuperá-la”.