O ministro da Economia, Paulo Guedes, subiu o tom ao ser questionado sobre a política ambiental do governo do presidente Jair Bolsonaro. "Entendemos a preocupação de vocês (norte-americanos), porque vocês desmataram suas florestas. Vocês querem nos poupar de desmatar a floresta, como vocês desmataram as suas. Sabemos que vocês tiveram guerras civis, também tiveram escravidão, e só pedimos para que vocês sejam amáveis como somos amáveis. Vocês mataram seus índios, não miscigenaram", afirmou, no evento Aspen Security Forum, organizado pelo Aspen Institute, um think thank (centro de estudos) de Washington.
O think thank americano é conhecido por reunir personalidades de todo o mundo em eventos como o que teve a participação de Guedes e reunir investidores, empresários, diplomatas e acadêmicos. O Aspen Security Forum teve três dias de eventos com autoridades do governo americano, diplomatas e representantes do alto escalão de organismos multilaterais, como Tedros Adhanom Ghebreyesus, da Organização Mundial da Saúde (OMS), e de governos de outros países, como China e Singapura. Em razão da pandemia, o fórum foi online e gratuito.
Guedes, que chegou a ser cortado em sua resposta final, também lançou o argumento da soberania nacional para dizer que a Amazônia é um assunto que diz respeito ao Brasil. "Os militares estão dizendo, obrigado pela preocupação, mas essa é nossa terra. Não precisamos desmatar a Amazônia para produzir produtos agrícolas", acrescentou.
O Brasil vem sendo pressionado por investidores internacionais e grandes empresas a tocar uma agenda ambiental e enfrentar o desmatamento, uma demanda que também vem de uma sociedade cada vez mais consciente.
Em outro evento, mais cedo, Guedes reclamou de críticas de países europeus à política ambiental do governo de Jair Bolsonaro. "França, Holanda e Bélgica usam desculpa ambiental para impedir o Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). É como acusarmos a França de queimar catedrais góticas, foi um acidente", afirmou, em referência ao incêndio da Catedral de Notre-Dame, em Paris, no ano passado.
Guedes também disse que o Brasil quer se integrar nas cadeias globais e avaliou que os Estados Unidos são um parceiro natural. Ainda assim, o ministro criticou a política econômica americana nas últimas décadas.
"Os EUA e a China têm dançado juntos nos últimos 30 anos. Os chineses pobres têm financiado o consumo exagerado nos EUA todo esse tempo. Nem um brasileiro bêbado ousaria alavancar o sistema bancário 36 vezes como os EUA", afirmou.
Os Estados Unidos são o terceiro maior comprador de produtos brasileiros, de acordo com os dados da balança comercial do primeiro semestre, atrás da China e da União Europeia. Os americanos responderam por 10% de tudo que foi exportado pelo Brasil. Por causa da pandemia, houve uma queda de 31,% na venda de produtos para os Estados nos primeiros seis meses do ano.
Contrariado por perguntas sobre a política brasileira, Guedes respondeu que o Brasil tem uma democracia vibrante e respeita o Estado de Direito. "Nós gostamos da democracia, ao contrário do que os perdedores da última eleição têm dito pelo mundo", completou.
Diversos veículos de imprensa internacionais publicaram longos artigos e reportagens com duras críticas à resposta do presidente Jair Bolsonaro à crise gerada pelo novo coronavírus e à política ambiental do governo.
Combate à corrupção
Guedes negou que a saída do governo do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, tenha enfraquecido o combate à corrupção no Brasil. "Eu convidei Sérgio Moro para o governo, uma semana depois da eleição. Eu era um grande admirador de Moro, somos todos favoráveis à operação Lava Jato. Não se pode falar que Bolsonaro foi eleito por causa do Moro, não teve esse efeito", afirmou.
Segundo o ministro, o presidente Jair Bolsonaro continua lutando contra a corrupção sem Moro no governo. "Hoje você não consegue governar se não se identificar com o establishment de alguma forma. O presidente Bolsonaro apoia o processo de desestatização do Brasil que estamos fazendo. A corrupção já diminuiu, mas só vai acabar quando alterarmos o modelo econômico do Brasil", afirmou.
Guedes lembrou que qualquer ministro, inclusive ele, pode ser substituído pelo presidente. "Houve um problema de interpretação entre Bolsonaro e Moro, assim como com o ministro da saúde (Luiz Henrique Mandetta)", completou.