"Não sobra nada além de cinza e carcaça dos animais", diz brigadista sobre chamas no Pantanal

Arilson Sebastião Borges, de 23 anos, detalhou quais são as principais dificuldades do grupo e como é o cenário nas regiões remotas

18 jul 2024 - 05h00
"Depois que o fogo passa não sobra nada além de cinza e carcaça dos animais que morreram”, diz Arilson Borges
"Depois que o fogo passa não sobra nada além de cinza e carcaça dos animais que morreram”, diz Arilson Borges
Foto: Reprodução/Instituto Homem Pantaneiro

Com a falta de chuvas e um cenário de seca, as queimadas têm castigado o Pantanal desde o mês passado. Embora 56% dos focos estejam extintos, segundo dados divulgados na terça-feira, 16, pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, ainda há muito o que fazer. 

Entre moradores e brigadistas, a descrição é a mesma: o cenário é de tragédia. De acordo com Arilson Sebastião Borges, de 23 anos, integrante da Brigada Alto Pantanal, do Instituto Homem Pantaneiro e morador de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, é difícil olhar para as paisagens, uma vez que o fogo tenha passado.  

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"A tragédia é muito maior do que mostra na TV, porque algumas filmagens foram feitas em alguns locais pequenos. O estrago é bem maior. Depois que o fogo passa, não sobra nada além de cinza e carcaça dos animais que morreram", lamenta o rapaz.

Arilson é o mais novo de uma equipe formada por seis brigadistas, todos naturais da região de Corumbá. De acordo com a instituição, todos trabalham o ano inteiro, fazendo um trabalho preventivo, para evitar que o estrago seja ainda maior em períodos como junho deste ano, quando a seca e a ação do homem facilitam o surgimento de focos de incêndio.  

"A gente trabalha o ano todo para que essas queimadas não ocorram e, caso elas aconteçam, a gente já tenha uma defesa pronta, preparada para estar combatendo o fogo e extinguindo ele", detalha Arilson. 

Como é a rotina dos brigadistas

Há um mês no combate do fogo, ele explica que a maior dificuldade do grupo é lidar com a distância para chegar em áreas mais remotas. A equipe está atuando na região do Alto Pantanal, onde fica a Serra do Amolar, uma cadeia de montanhas de 80 km de extensão.

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"Pegamos o barco e subimos o rio, aí a gente para em uma de nossas bases para estar pegando o material necessário", detalha. "Quando a gente chega, já sabemos o tipo de terreno que vamos subir, quais equipamentos vamos precisar, então, buscamos somente o necessário. Devido às distâncias que tem no nosso Pantanal, não pode levar material excessivo". 

Os brigadistas trabalham o ano inteiro para evitar que o estrago seja grande em períodos como junho deste ano, onde a seca e a ação do homem facilitaram o surgimento de focos
Foto: Reprodução/Instituto Homem Pantaneiro

Arilson detalha que, em alguns casos, para chegar aos locais dos focos é preciso viajar de 4 a 5 horas, tem trajetos feitos normalmente de trator ou de carro. 

"Quando a gente chega no ponto de combate, já tem um desgaste físico. E quando não tem veículo, a gente tem que ir a pé carregando material", acrescenta o brigadista, que escolheu atuar na linha de frente para proteger o bioma.

"A gente não que ver tudo isso que a gente conhece, toda essa maravilha, essa beleza que é o Pantanal, queimando... Para tentar preservar o máximo possível do Pantanal para as próximas gerações, para nossos filhos, nossos netos. A gente conhece as belezas do Pantanal, mas se continuar do jeito que está indo, muitas gerações futuras não vão conhecer", lamenta o brigadista Arilson Borges.

Temor dos brigadistas

Após o fogo ser contido, a vegetação volta a crescer. Porém, segundo o brigadista, não são as espécies nativas da região, e isso causa preocupação nos protetores do Pantanal.

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"A realidade que as pessoas não estão vendo. [...] As pessoas acham que está revivendo, está ressurgindo, só que muitas vezes não é", explica o rapaz. "A gente que conhece, quando vê que está começando a ficar verdinho, não vemos árvores que tinham antes. Vemos que é capim, que é erva daninha que está crescendo, cipós. Então, a beleza do Pantanal que a gente via há algum tempo atrás, das árvores, já não tem mais".

Segundo o brigadista, a região do Porto até os rios Paraguai e Mirim não tem mais nada. Ele resume a situação como uma grande tragédia.

"É uma paisagem que a gente tava acostumado a ver bonita, verde, com as árvores, com os ipês… E agora, a gente passa e não vê nada. A gente só vê cinzas. É muito diferente da pessoa ver pela tela e ver pessoalmente", acrescenta.

Há um mês no combate do fogo, ele explica que a maior dificuldade do grupo, que está atuando na região do Alto Pantanal, onde fica a Serra do Amolar, uma cadeia de montanhas de 80 km de extensão, é lidar com a distância para chegar em áreas mais remotas.
Foto: Reprodução/Instituto Homem Pantaneiro

Arilson cobra conscientização para que os incêndios não voltem mais a acontecer no Pantanal. Ele reconhece que o bioma vai tentar florescer e renascer, mas de nada adiantará se o ser humano não preservá-lo.

"Se o ser humano não colocar a mão na consciência e começar a pensar que o Pantanal é de todo mundo e que todo mundo deve proteger e preservar, um dia, ele vai acabar", afirma.

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56% dos focos já foram contidos

Em uma entrevista coletiva na terça-feira, 16, a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) detalhou que, dos 55 incêndios florestais identificados no Pantanal, 31 estão extintos. Outros 24 estão ativos, dos quais 22 estão controlados.

"Nós vamos manter as nossas equipes mobilizadas", disse. 

Segundo informações da Agência Gov, ao todo, 1.321 pessoas realizam o combate às chamas. Destas, 830 são do governo federal. Cerca de R$ 137,6 milhões também foram destinados ao enfrentamento dos incêndios, segundo uma medida provisória publicada na sexta-feira, 12, no Diário Oficial da União. 

Incêndios extremos dobram e 'catástrofe' ameaça o Pantanal
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Fonte: Redação Terra
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