Óleo já atingiu 14 unidades de conservação federais

Entre Maranhão e Sergipe, parques nacionais, reservas de proteção ambiental e extrativistas foram impactados pelo desastre

11 out 2019 - 21h08
(atualizado às 21h58)

Catorze unidades de conservação federais marinhas já foram atingidas pelo óleo que contamina o litoral nordestino há mais de um mês, segundo monitoramento do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão do Ministério do Meio Ambiente. São parques nacionais, reservas voltadas para a proteção ambiental e extrativistas, entre Maranhão e Sergipe, tornando ainda pior o impacto do desastre. Até esta sexta-feira, 11, eram 156 pontos onde houve registro do poluente.

Os danos mais visíveis são os das tartarugas cobertas de óleo e os esforços do projeto Tamar em resgatar os filhotes e soltá-los só em alto mar, como ocorreu na Reserva Biológica Santa Isabel (SE). Segundo o ICMBio, cerca de mil filhotes de tartarugas já foram levados para o alto-mar e há um monitoramento diário das desovas.

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Foto: Alisson Frazao / Reuters

Para essas espécies, o cenário acaba de ficar ainda mais complicado, porque a mancha chegou nesta sexta à Praia do Forte, na Bahia, a principal área de desovas de tartarugas do País, a maior densidade de população e onde são encontradas quatro das cinco espécies de tartarugas marinhas do Brasil, segundo a Fundação Pró-Tamar.

Mas várias outras unidades de conservação também estão sofrendo danos, em diferentes graus. Toda essa costa é muito rica em recifes de corais, o que a torna particularmente sensível a desastres ambientais. Não à toa, houve toda movimentação nas últimas semanas por parte da comunidade ambientalista para serem tirados os blocos de Abrolhos dos leilões da Agência Nacional do Petróleo.

Um vazamento ali impactaria a região com a maior biodiversidade marinha do Brasil, o principal berçário das baleias jubarte. O parque de Abrolhos fica bem ao sul da Bahia, ainda longe das manchas, mas já há algumas estimativas de que o óleo pode chegar a Porto Seguro.

"O impacto é presente em todos os ecossistemas. Desde o ambiente de superfície, onde está a mancha, mas aos poucos o óleo vai se depositando, chega aos bancos de gramas marinho, que é alimento para o peixe-boi, por exemplo. Cobre corais. Nas marés altas, entra nos manguezais. É uma região toda conectada", explica o biólogo especializado em oceanografia Clemente Coelho Jr, da Universidade de Pernambuco.

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"Visualmente, vemos mais o impacto nas tartarugas, que sobem para respirar e acabam ficando oleadas. O problema é o que não estamos vendo", complementa o pesquisador. Nos recifes de corais mais próximos das praias, por exemplo, já há imagens mostrando que a mancha está se depositando neles na maré baixa, impregnando sua estrutura calcária. "Uma vez incrustado em corais, bancos areníticos e rochosos, é praticamente impossível limpar", afirma Coelho Jr.

Maior reserva marinha e costeira do Brasil, a Reserva Extrativista de Cururupu, a 170 km em linha reta da capital maranhense, teve seus primeiros registros de manchas negras na quarta-feira, 9, segundo informações de técnicos do Ibama no Maranhão.

A unidade tem área de 1.860 km² e uma extensa porção de manguezais protegidos, que formam um corredor ecológico de relevância mundial. No local, são registradas 12 comunidades pesqueiras, que abrigam 1,2 mil famílias incluídas em um plano de produção de pesca artesanal. O local também faz parte do pólo turístico Floresta dos Guarás, um dos mais exuberantes do País.

"Se o óleo chegar aos manguezais ficará praticamente inviável a retirada do produto, uma vez que o acesso é complexo", explica Leonardo Soares, especialista em gerenciamento costeiro da Universidade Federal do Maranhão.

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Na região vivem tartarugas, golfinhos, peixe-boi, diversas espécies de peixes, principalmente a pescada amarela, além de ostras e crustáceos. A reserva também tem um programa de proteção ao peixe-boi marinho, que está na lista de animais ameaçados de extinção.

Especialista vê demora em ação de limpeza

Coelho Jr., da Universidade de Pernambuco (UPE), questiona o tempo que se levou para tentar conter as manchas de óleo antes que elas atingissem metade do litoral brasileiro. A primeira notificação de manchas ocorreu em 2 de setembro, mas as ações praticamente só foram começar a ocorrer um mês depois.

"Existe o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Águas que não foi posto em prática. Ele prevê a criação de um gabinete de crise, o monitoramento, a identificação do óleo, a elaboração de modelos computacionais, com dados de circulação oceânica, das correntes, de informações meteorológicas, que mostram para onde vai a mancha. Era possível criar uma previsibilidade, mas nada disso foi feito", diz.

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