O presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar a Alemanha após o país europeu anunciar o congelamento de financiamentos de projetos de proteção à Floresta Amazônica. "Eu queria até mandar recado para a senhora querida [chanceler federal da Amazônia] Angela Merkel, que suspendeu 80 milhões de dólares para a Amazônia. Pegue essa grana e refloreste a Alemanha, tá ok? Lá tá precisando muito mais do que aqui", disse o presidente a jornalistas enquanto comentava o processo de escolha do novo procurador-geral da República.
No último sábado, a ministra alemã do Meio Ambiente, Svenja Schulze, afirmou que o governo decidiu suspender o financiamento de projetos para a proteção da floresta e da biodiversidade uma vez que "a política do governo brasileiro na Região Amazônica deixa dúvidas se ainda se persegue uma redução consequente das taxas de desmatamento".
Inicialmente, a verba suspensa é de 35 milhões de euros (cerca de 155 milhões de reais), proveniente da iniciativa para proteção climática do Ministério do Meio Ambiente em Berlim.
Após a declaração da ministra, Bolsonaro reagiu, dizendo que "a Alemanha não vai mais comprar a Amazônia, vai deixar de comprar a prestações a Amazônia. Pode fazer bom uso dessa grana. O Brasil não precisa disso".
Na segunda-feira, a ministra alemã rebateu a declaração de Bolsonaro. "Isso mostra que estamos fazendo exatamente a coisa certa", disse Schulze. "Apoiamos a região amazônica para que haja muito menos desmatamento. Se o presidente não quer isso no momento, então precisamos conversar. Eu não posso simplesmente ficar dando dinheiro enquanto continuam desmatando", afirmou a ministra à DW.
A verba congelada não faz parte dos financiamentos do governo alemão ao Fundo Amazônia, no qual o Ministério alemão da Cooperação Econômica injetou até agora 55 milhões de euros (por volta de 245 milhões de reais). Com um volume de quase 800 milhões de euros (por volta de 3,5 bilhões de reais), a maior parcela do Fundo é financiada pela Noruega e, uma pequena parte dele, pela Alemanha. O dinheiro se destina a projetos para reflorestamento, contenção do desmatamento e apoio à população indígena.
O debate entre Berlim e Brasília sobre a proteção ambiental em terras brasileiras vem se intensificando nas últimas semanas. Em junho, Merkel expressou preocupação com as questões dos direitos humanos e do meio ambiente no Brasil. Bolsonaro reagiu acusando a Alemanha de abusar dos recursos naturais ao utilizar combustíveis fósseis para gerar energia e de já ter desmatado suas próprias florestas.
As tensões se acirraram após os dados mais recentes do Instituto nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontarem um aumento no desmatamento da Amazônia de 278% em julho, em comparação ao mesmo mês do ano anterior. Um grande aumento do desmatamento já havia sido apontado em junho, quando a devastação da floresta cresceu 88% em relação ao mesmo mês de 2018.
A divulgação desses números causou uma crise entre o Inpe e o governo brasileiro, que culminou com a demissão do presidente do instituto Ricardo Galvão. O anúncio de Schulze sobre o congelamento de verbas para o Brasil também veio após o Inpe divulgar os dados.
Repercussão na imprensa alemã
Assim como suas declarações anteriores, a fala de Bolsonaro repercutiu na imprensa alemã.
O jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) afirmou que o "presidente direitista Bolsonaro, que começou a governar no início de 2019, não quer identificar novas áreas de proteção na região amazônica e visa permitir mais desmatamento".
O portal de internet do jornal Die Welt qualificou a declaração como um ataque a chanceler alemã, destacando que o brasileiro chamou de "senhora querida", e disse que a Amazônia é considerada o "pulmão verde" do mundo.
Ao mencionar a declaração de Bolsonaro, diversos veículos de imprensa alemães destacaram que a Alemanha possui 11,4 milhões de hectares de floresta, o que corresponde a 32% do território do país, e que nos últimos dez anos as áreas de floresta tiveram um leve aumento.
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