'Relações Públicas das pombas': a mulher que luta para melhorar a imagem da ave

A britânica Hannah Hall resgatou vários pombos e criou uma instituição de caridade para protegê-los.

26 mai 2024 - 12h36
(atualizado às 12h59)
Hannah diz que Penny foi “a melhor coisa que já aconteceu comigo”
Hannah diz que Penny foi “a melhor coisa que já aconteceu comigo”
Foto: HANNAH HALL / BBC News Brasil

Ratos com asas, praga urbana e pássaros de sarjeta - são muitos os apelidos negativos que os pombos ganharam em várias partes do mundo. Mas uma mulher fez da missão de sua vida melhorar a imagem dessas aves.

A britânica Hannah Hall diz querer combater o "preconceito contra os pombos" com uma nova instituição de caridade.

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Tudo começou durante um encontro casual em um bar.

Ela estava reunida com alguns amigos em um pub há dois anos, em maio de 2022, quando uma pombinha pulou no banco em que ela estava sentada.

"A pomba sentou ao lado da minha amiga, que eu não sabia que tinha uma incrível fobia de pássaros, então ela surtou, deu um pulo e quis trocar de lugar", lembra Hannah.

Mas a inglesa continuou conversando com suas amigas enquanto o pombo sentava calmamente ao seu lado

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"E então a coisa mais estranha aconteceu. Ela atravessou o banco e pulou no meu colo", diz Hannah.

Uma garçonete disse a Hannah que a pomba estava dentro do pub, mas as pessoas começaram a chutar o pássaro e por isso ela precisou ser enxotado para o lado de fora.

Três horas e meia depois, a pomba ainda não havia saído do lado de Hannah.

"Foi uma loucura porque em um momento ela estava no meu braço, depois no meu ombro e aninhada no meu cabelo", conta.

Quando chegou a hora de Hannah voltar para casa, a garçonete perguntou se ela levaria a ave. Foi quando um grupo de estudantes que passava contou a Hannah como alguns outros jovens estavam maltratando o pássaro no início da noite, tentando fazê-lo voar.

Hannah sabia que a pomba estava necessitada e que não havia como deixá-la para trás.

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"Ela pousou no meu ombro e eu a levei até o meu carro", diz Hannah. "Meus amigos se despediram de mim e disseram que eu estava absolutamente louca."

Muito antes dos drones serem inventados, os pombos eram usados para fotografia aérea
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Hannah, que trabalha no NHS (o serviço público de saúde do Reino Unido), recorreu às redes sociais para obter conselhos. Ela já tinha uma conta no TikTok onde compartilhava seu amor por peças de época, principalmente da década de 1940.

A inglesa então fez um vídeo contando sua experiência com a pomba e pedindo conselhos sobre o que fazer com a ave.

"E 27 milhões de visualizações depois, o mundo inteiro investiu nesta pombinha. A internet votou e escolheu o nome Penny", diz Hannah.

Após o primeiro vídeo, Hannah criou uma conta TikTok para Penny, que ganhou mais de 300 mil seguidores.

A inglesa também escreveu um livro infantil sobre seu pássaro - e Hannah e Penny apareceram em programa de TV de 50 minutos.

Mas Penny infelizmente começou a ter problemas de saúde.

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"Ela tinha um problema de fígado, um abscesso que não sabíamos que existia", diz Hannah. "O mais triste é que o veterinário disse que ele foi provavelmente causado por um chute."

Hannah diz que gastou milhares de libras tratando Penny, que foi medicada com antibióticos.

'Arrasada'

Mas um dia Hannah teve uma sensação estranha.

"Eu e Penny sempre tivemos uma conexão. Eu sabia o que ela estava tentando me dizer algo e sabia o que ela estava tentando comunicar", diz Hannah.

"E eu subi as escadas e quando cheguei ao quarto ela tinha morrido."

Hannah havia aprendido reanimação cardiopulmonar para pássaros e tentou ressuscitar Penny, mas já era tarde demais. "Eu fiquei arrasada", diz.

A britânica foi deixada com seu aviário vazio e o coração partido demais para adotar outro pombo.

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"Eu não conseguia nem mais olhar para um pombo sem chorar", diz ela.

Mas ela decidiu continuar - como ela diz, "pelo bem de Penny" - e ajudar a resgatar mais pombos.

Ela inicialmente acolheu quatro pombinhos, que foram encontrados em um pombal e seriam abatidos.

Três das quatro pombas ainda vivem com Hannah e sua mãe, mas uma voou do ninho depois de encontrar "um pombo selvagem de quem gostou".

Seu bando atual inclui também um pombo-correio que precisava de um lar porque seu dono não o queria mais. Ele estava nervoso no início, mas agora come na mão da dona, conta Hannah.

Não contente em ajudar os pombos em sua casa, ela decidiu que queria ajudar mais aves.

"As pessoas são tão cruéis com os pombos, não os veem como criaturas vivas", diz Hannah.

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"Então pensei comigo mesmo: 'isso é horrível, não posso mais ver isso', e então decidi começar uma instituição de caridade para o bem-estar dos pombos."

A Penny's Pigeon Aid foi fundada em janeiro com a ajuda de outras duas mulheres apaixonadas por pombos.

A falecida rainha Elizabeth II era protetora dos pombos e patrona de várias sociedades relacionados à causa
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Um dos objetivos da instituição de caridade é mudar a forma como as pessoas veem os pombos, na esperança de que sejam mais gentis.

Mas os pombos não são realmente sujos e anti-higiênicos?

"É extremamente raro ficar doente pelo contato com excrementos de pombos ou contato com um pombo", diz Hannah, que culpa "peças de propaganda não muito agradáveis" feitas há 60 anos pela imagem das aves.

"Na década de 1960 um artigo atribuiu falsamente duas mortes a [contato com] pombos e, não muito depois disso, um membro do governo de Nova York criou o apelido 'ratos com asas'", diz ela.

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"Na década de 1980, um filme de Woody Allen também usou a expressão 'ratos com asas', e então o público começou a usar esse termo. Desde então a reputação deles só foi piorando."

O psicólogo B F Skinner treinou pombos para combinar luzes coloridas com painéis coloridos correspondentes
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Charles Walcott, professor de Ornitologia da Universidade Cornell, nos EUA, concorda que a ideia de que as aves sejam sujas não passa de um mito.

"Em geral, os pombos são bastante limpos; eles realmente não merecem a reputação de ratos com asas", diz ele, que estuda pombos há mais de 20 anos.

"Eles são realmente pássaros extraordinários. Imagine tentar viver nas ruas de Londres. O que você vai comer e onde encontrar um ninho? É impressionante que eles sejam capazes de fazer tudo isso."

Antes dos pombos ganharem uma má reputação, Hannah diz que eles eram valorizados e até salvaram vidas em tempos de guerra.

"Descobri que os pombos foram extremamente importantes durante a Segunda Guerra Mundial - 250 mil deles voaram sobre as linhas inimigas para transportar mensagens importantes", diz Hannah.

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"Existem pombos que salvaram vidas por conseguirem entregar mensagens."

Depois de mais pesquisas, Hannah diz ter percebido como os pombos são inteligentes.

"Descobri que os pombos conseguem reconhecer o alfabeto, os pombos conseguem fazer matemática simples - provavelmente melhor do que eu -, conseguem reconhecer o seu próprio reflexo, o que é muito raro, e até identificar câncer em humanos", diz ela.

O psicólogo americano BF Skinner fez inúmeras experiências com pombos, ensinando-os a jogar pingue-pongue e até os treinando para operar um míssil guiado na Segunda Guerra Mundial. No entanto, o míssil nunca foi usado, segundo Skinner porque "ninguém nos levava a sério".

Hannah acredita que um dos motivos pelos quais as pessoas não gostam de pombos é o fato de existirem muitos pombos selvagens e nas ruas.

"A razão pela qual existem muitos deles é porque quando não precisávamos mais deles, nós os abandonamos", diz ela. "É como se de repente disséssemos, 'quer saber? Não acho que deveríamos mais manter cães como animais de estimação, vamos todos jogar nossos cães na rua', e haveria cães por toda parte."

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As pessoas queixam-se de que os pombos incomodam quando fazem ninhos nas cidades - onde há abastecimento de alimentos - e deixam excrementos nos edifícios.

Isto é algo que a instituição de caridade espera resolver, incentivando os municípios a criar locais melhores de nidificação para os pombos, mantendo os edifícios seguros.

Mas, por enquanto, a organização pretende "impulsionar suavemente" a imagem das aves, criando, por exemplo, conteúdos para as redes sociais que contem às pessoas sobre a história dos pombos.

"Costumo fazer vídeos engraçados no TikTok sobre como eles nos serviram na Segunda Guerra Mundial", diz Hannah. "E vídeos engraçados sobre como o tordo continua sendo coroado como a ave nacional da Grã-Bretanha, mas fez muito menos pela nação do que o pombo."

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"Não esperamos que todos se apaixonem por eles de repente, apenas esperamos oque as pessoas sejam humanas e não hajam com crueldade".

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