O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi alvo de protesto em Berlim nesta segunda-feira. Dezenas de ativistas do braço alemão do Greenpeace organizaram uma manifestação em frente à sede da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK), no centro da capital alemã, contra a visita do brasileiro.
Cerca de 50 manifestantes segurando bandeiras do Brasil e da Alemanha montaram um cordão de isolamento em frente ao prédio a fim de impedir a entrada de Salles.
Eles também estenderam uma faixa na fachada com a frase "Sem acordos com criminosos do clima", em referência ao acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE), e exibiram o tronco de uma árvore em chamas. Na tora, estava escrito: "Não destruam a Amazônia." Os ativistas ainda ancoraram um barco no rio Spree, que passa ao lado da sede da confederação.
"A mudança climática é um problema global. A agenda do governo Bolsonaro em relação ao clima tem sido a favor do lobby do agronegócio, mas a destruição da Amazônia é algo que coloca todos no planeta em perigo", disse o representante do Greenpeace Jannes Stoppel.
Inicialmente, uma agenda de Salles - que foi vazada na semana passada pelo Greenpeace - indicava que o ministro se reuniria no local com representantes de grandes indústrias alemãs, entre elas as gigantes do setor químico Basf e Bayer, conhecidas pela produção de agrotóxicos.
No entanto, Salles não chegou a comparecer a qualquer encontro no local nesta segunda-feira. Apesar de a agenda vazada indicar uma reunião, nada chegou a ser oficialmente acertado com o ministro no local, segundo representantes da DIHK.
Na semana passada, Salles iniciou uma turnê pelos Estados Unidos, França e Alemanha para tentar reverter o derretimento da imagem do Brasil e do governo do presidente Jair Bolsonaro no exterior por causa da má repercussão das queimadas e do aumento do desmatamento na Amazônia.
Mas o Ministério do Meio Ambiente tem evitado divulgar antecipadamente a programação do ministro. Salles chegou a Berlim no domingo, mas sua agenda no site da pasta não indica nenhum compromisso na capital pelos próximos três dias. O ministro deve deixar a Alemanha na quarta-feira e seguir para o Reino Unido.
Apesar de sua agenda pública parecer vazia, Salles deve se reunir na terça-feira à tarde com Svenja Schulze, ministra do Meio Ambiente, Proteção da Natureza e Segurança Nuclear da Alemanha. A reunião foi confirmada pela pasta alemã.
Em agosto, Schulze determinou a suspensão de repasses da sua pasta no valor de 155 milhões de reais para projetos de preservação no Brasil em reação às ações do governo Bolsonaro na área ambiental.
Na ocasião, a suspensão do repasse provocou uma reação agressiva do presidente brasileiro, que declarou: "Ela [Alemanha] não vai mais comprar a Amazônia, vai deixar de comprar a prestações a Amazônia. Pode fazer bom uso dessa grana. O Brasil não precisa disso." Diante da resposta de Bolsonaro, Schulze reagiu: "Isso mostra que estamos fazendo exatamente a coisa certa."
Ainda está previsto um encontro entre Salles e o ministro Gerd Müller, da pasta para Cooperação e Desenvolvimento da Alemanha. O governo brasileiro também vem travando uma queda de braço com esse ministério, desta vez relacionada ao futuro do Fundo Amazônia, o programa bilionário de proteção à floresta que conta com recursos da Noruega e da Alemanha.
No primeiro semestre, Salles promoveu uma série de mudanças unilaterais na gestão do programa, incluindo a extinção de dois comitês, o que contrariou os alemães e os noruegueses. Os dois países europeus também se posicionaram contra uma proposta do ministro brasileiro de usar recursos do fundo para indenizar fazendeiros que ocupam áreas de proteção ambiental, e rechaçaram publicamente insinuações de Salles sobre supostas fraudes na gestão do programa.
Salles ainda tem programado em Berlim encontros com a imprensa alemã, incluindo o jornal conservador Frankfurter Allgemeine Zeitung. Na semana passada, na sua etapa francesa da turnê internacional, o ministro evitou falar com a imprensa brasileira, preferindo conceder entrevista ao diário conservador francês Le Figaro. Na ocasião, ele também foi alvo de protesto em Paris, e sua agenda não incluiu nenhum encontro com autoridades francesas.