Esther Duflo, vencedora do Nobel de Economia de 2019, tem pensando formas de combater à pobreza há anos e, junto a isso, olhando também para famílias e comunidades afetadas pelas mudanças climáticas.
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Duflo está no Brasil onde tem dado palestras sobre seus estudos sobre justiça climática. Nessa quarta-feira, 26, ela esteve no Sesc 14 Bis, em São Paulo, para defender a criação de um fundo global com esse fim. Segundo ela, países ricos – que consomem mais e, portanto, emitem mais carbono – "tem uma dívida moral" com países mais pobres e vulneráveis, que são os que mais sofrem com as mudanças do clima.
Em seus estudos, ela ressalta que 10% dos mais poluidores são responsáveis por quase metade das emissões de carbono. Além disso, países com menor PIB per capita estão localizados em regiões mais quentes, ou seja, serão mais atingidos pelo calor extremo, por exemplo.
"O nosso custo de vida, que insistimos em manter, é responsável por US$ 518 bilhões [R$ 2,8 tri] em vidas humanas. Isso é o valor que países ricos devem", pontua ela, que explica que o valor está relacionado aos 14 bilhões de toneladas de CO2 emitidos pelos Estados Unidos e pela Europa.
A economista destaca ainda que ao menos 6 milhões de pessoas vão morrer de calor extremo, em sua maioria, residentes de países de baixa e média renda. O dado, alarmante, não pode mais ser ignorado. "Somos um único planeta", reforça.
Brasil já sente na pele
A economista ressaltou também que é impossível estar no Brasil e ignorar as mudanças climáticas que já impactam nossas vidas.
"Vemos as enchentes no Rio Grande do Sul, o calor extremo de mais de 60 graus no show da Taylor Swift, que deixou uma jovem morta, e agora o fogo no Pantanal", elencou. "Não é sobre o futuro, estamos falando de hoje", ressaltou.
Crise da pandemia e sugestão para um fundo global
Esther Duflo iniciou a palestra dizendo que não gosta de falar só de problemas, mas também de mencionar potenciais soluções. Para o problema eminente da mudança climática, ela sugere a criação de um fundo global para apoiar familiar vulneráveis que enfrentam consequências do clima adverso. "Não é doença, caridade. Os países ricos devem isso, mas eles se recusam [a ajudar]".
A economista reforça a importância de fundos independentes devido a experiências anteriores que, segundo ela, não são "confortantes". Como exemplo, ela recorda o período da pandemia da covid-19.
"Países que puderam gastar muito dinheiro para ajudar sua população gastaram, em média, 27% do PIB. E não é que os países mais pobres não gostaram dessa ideia, mas eles não tinham dinheiro e não puderam obter empréstimo para ajudar sua população, conseguindo gastar somente 2% do PIB para sua população".
"Se os Estados Unidos quisessem ajudar a África subsaariana, por exemplo, exigiria 10% do que eles gastaram com eles; era possível, mas não foi feito".
A economista também fala sobre a corrida pela vacina contra a doença. "Houve esforço para mandar vacina para países mais pobres, mas os mais ricos correram para fazer estoques, e houve uma disparidade enorme", pontua. "Até dentro dos países isso foi visto. No Brasil, o Sul e Sudeste foram mais vacinados."
A ideia, então, é que esse fundo seja criado através de recursos que poderiam vir de uma taxação sobre o carbono, o que é politicamente difícil, de acordo com a economista, ou, tributando as empresas rentáveis e indivíduos mais ricos do mundo.
O fundo em questão funcionaria com os países mais afetados gerenciando esses recursos e o Banco Mundial administrando o dinheiro.