Presidente da Enel São Paulo avalia a renovação do contrato de concessão para fornecer energia elétrica em cidades de São Paulo após temporal. Contrato precisa ser modernizado e a empresa está investindo em tecnologia e previsão de eventos climáticos intensos.
O presidente da Enel São Paulo, Guilherme Lencastre, afirmou que irá avaliar se a companhia tem interesse em renovar o contrato de concessão para fornecer energia elétrica em cidades de São Paulo. Nesta quinta-feira, 17, durante entrevista coletiva, Lencastre também disse que a companhia restabeleceu a luz de quase todos os clientes que haviam sido atingidos pelo temporal na última sexta-feira, 11.
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"Olha, a gente vai ter que avaliar", respondeu o presidente a Enel São Paulo, ao ser questionado se a empresa tem interesse na manutenção do contrato. "Neste momento existe um decreto com uma série de diretrizes. Tem que ser elaborado um contrato de concessão e a gente vai avaliar quando esse contrato de concessão estiver definido"
"O nosso compromisso hoje é um compromisso de longo prazo. Estamos fazendo investimentos que a gente acredita que, com as flexibilidades que possam ser introduzidas, isso vai endereçar pontos importantes", continuou.
O presidente da Enel São Paulo ainda atualizou o número total de clientes que tiveram a energia interrompida: incialmente, a empresa falava em 2,1 milhões e agora são 3,1 milhões. "É importante dizer porque esse 1 milhão de clientes conseguiram ser restabelecidos em pouco tempo. Isso acontece porque temos tecnologia na rede capaz de indentificar interrupções na rede, do fluxo de energia, e fazer o restabelecimento de forma automática e remota".
O executivo esclareceu que, apesar de haver neste momento cerca de 36 mil clientes sem energia, "isso significa uma operação normal", já que esta é a quantidade de pessoas que costumam estar sem energia diariamente. "Nas próximas horas, nós vamos atacar com prioridade os clientes que ainda estão sem energia (desde o dia 11)", complementou.
Em diversos momentos da entrevista, Lencastre disse não querer "arranjar desculpas" para a interrupção no fornecimento de energia ocorrida após o temporal. Porém, reforçou que, "passados alguns dias, podemos afirmar que esse foi o maior evento mais registrado com níveis de rajadas de vento na Região Metropolitana na história" e disse que "o Brasil não tem uma boa previsão climática neste momento -- dito não por mim, mas por cientistas", pedindo a formaçao de parcerias com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemadem), para poder prever eventos climáticos intensos.
De acordo com a Defesa Civil, rajadas de vento registradas na região metropolitana de São Paulo bateram recorde de velocidade desde 1995, com 107 quilômetros por hora. Sete pessoas morreram devido aos impactos.
Manutenção e investimentos
Lencastre afirmou que a Enel tem feito investimentos para melhorar a rede elétrica no trecho de concessão no estado. Antes da empresa começar o atendimento em São Paulo, a média de investimentos era de R$ 800 milhões por ano, segundo Lencastre. "Quando entramos, aumentou para R$ 1,4 milhão. A partir deste ano e nos próximos dois anos, vamos fazer uma média de R$ 2 milhões por ano", prometeu.
Como medidas adicionais, ele disse ter duplicado o número de podas de árvore desde o ano passado, para que, em caso de novos eventos climáticos intensos, menos pontos da rede elétrica sejam atingidos. De 300 mil, prometeu alcançar 600 mil podas até o final do ano. Até outubro, foram realizadas 400 mil. "O Brasil foi constituído e tem energia chegando em todos os lares porque tem rede aérea, que está mais suscetível a eventos climáticos. No caso de São Paulo, as árvores foram plantadas muito próxima a essa rede".
Para Lencastre, uma rede mais robusta, "com novos caminhos para levar energia a seu cliente quando há uma interrupção" é necessária. Por isso, a Enel estuda a possibilidade da criação de uma rede subterrânea. No entanto, este tipo "custa 10 vezes mais que uma rede aérea". Na última segunda-feira, 14, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, criticou a postura "reativa" da empresa em resposta aos danos provocados pelo temporal.
O presidente da Enel São Paulo afirmou que o contrato da companhia "precisa ser modernizado". "Os contratos de concessões foram pensados em décadas atrás, com cenários climáticos diferentes". Nesta semana, após os estragos provocados pelo temporal, a concessionária chegou a dizer que o trabalho para restabelecer a energia "é mais complexo, pois envolve a reconstrução de trechos inteiros da rede".
Lencastre pediu incentivo a medidas de resiliência -- capacidade de antecipar, absorver, acomodar e se recuperar dos impactos climáticos adversos. "É importante que, sim, tenhamos melhoria de qualidade, de prestação de contas a clientes. Mas é importante olharmos para o futuro e colocar medidas de incentivo no contrato", pediu.
Previsão de novo temporal
Meteorologistas previram uma nova tempestade para esta sexta-feira, 18, em cidades do estado de São Paulo. "Sabemos que vem chuva no próximo final de semana. Queria dizer que não estamos desmobilizando nossas equipes", afirmou Lencastre.
"Nós tivemos uma operação de guerra nos últimos dias, a mobilização saiu de um nível de número de pessoas e quase quadruplicou em um dia, dois dias. Um trabalho que a gente coloca os nossos eletricistas em risco elétrico, que tem que ter segurança, tem que ter uma preocupação grande", afirmou.
Lancastre prometeu ainda a contratação de 1.200 eletricistas para reforço no quadro de funcionários. "Ainda está no processo de contratação. Estamos treinando eletricistas, em parcerias com o Senai para formar profissionais".
"Nossos colabores também ficaram sem energia e trabalharam 24 horas por dia, com toda nossa força de trabalho em campo. Eles trabalharam com um nível de ansiedade muito grande de toda sociedade", disse o presidente da concessionária.