A catalogação de uma nova espécie de árvore na região do Parque Estadual do Itacolomi, em Ouro Preto (MG), surpreendeu pesquisadores, que não esperavam encontrar a espécie em uma área que é explorada desde o século XIX. A descoberta, no entanto, precedeu um alerta: a nova árvore já sofre risco de extinção considerado crítico.
A novidade foi divulgada no periódico científico PhytoKeys em outubro passado, após a expedição composta por equipes do Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com o Instituto Tecnológico Vale e a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
O mestrando em Botânica Danilo Zavatin explica que não esperava fazer a descoberta na região, que fica no Quadrilátero Ferrífero de MG, uma área conhecida pela exploração do ferro e pelo alto grau de endemismo, ou seja, espécies de plantas que habitam somente naquela região. Zavatin estuda as plantas da família Monimiaceae e reitera que novos achados são raros, ainda mais quando se trata de árvores.
"Eu não estava buscando essa espécie, até porque não existiam evidências de sua existência ainda. Quando eu fui para Ouro Preto, vi essa planta e logo identifiquei que ela era pertencente ao grupo que eu estudo", explicou o estudante ao Jornal da USP. "Árvore é uma coisa grande, que chama a nossa atenção. Nós não estamos falando de uma planta pequena escondida numa caverna", completa.
A espécie em questão, até então não catalogada, foi batizada de Mollinedia fatimae em homenagem à professora dra. Fátima Otavina de Souza Buturi, que 'orienta e inspira novos ingressos na botânica', afirmou o pesquisador Renato Ramos, coautor do artigo que revelou a novidade.
A Mollinedia fatimae contém características únicas com relação a sua família, explicou Zavatin. Segundo o pesquisador, a árvore tem cerca de 10 metros de altura e apresenta separação entre sexos, o que dificulta o processo de catalogação.
"Você vai ter plantas inteiras somente com flores femininas e plantas somente com flores masculinas. Isso dificulta o trabalho em campo porque muitas vezes a floração não está muito bem sincronizada, e achar indivíduos diferentes com o mesmo grau de abertura das flores é um desafio”, afirmou.
Para ser catalogada, é necessário que os autores solicitem a avaliação de status de ameaça pelo Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora). Segundo o órgão, a espécie está 'criticamente em perigo' de extinção, ou seja, há alto risco de que a espécie desapareça da natureza.
"É preciso tentar entender se existe outra população fora do parque e onde ela se localiza, já que a região pode ser área de interesse de mineração e colocar a planta em risco", apontou Zavatin, que reiterou a importância da conservação da mata na área do Parque Estadual Itacolomi.