Pelo menos 1.081 pessoas morreram na Arábia Saudita durante a peregrinação islâmica anual a Meca, chamada Hajj, segundo um levantamento da agência de notícias AFP divulgado nesta quinta-feira (20/06), que aponta ainda que mais da metade das vítimas eram peregrinos não registrados junto às autoridades locais.
Termômetros marcaram 51,8ºC na Grande Mesquita de Meca na segunda-feira, 17/6/24 (Foto: Getty Images)
O balanço inclui 658 cidadãos egípcios. De acordo com um diplomata árabe citado pela AFP, "todas as mortes devem-se ao calor" na região de Meca. Os números foram compilados com base em comunicados oficiais ou dados divulgados por diplomatas dos países de origem das vítimas. O reino fundamentalista saudita não tem divulgado números sobre mortes.
Além dos egípcios, segundo o levantamento, também morreram peregrinos da Malásia, Paquistão, Índia, Jordânia, Indonésia, Irã, Senegal, Tunísia e do Curdistão iraquiano. Na quarta-feira, a agência de notícias oficial da Jordânia informou que 41 cidadãos do país que faziam a peregrinação haviam morrido.
No último domingo, as autoridades sauditas se limitaram a afirmar que mais de dois mil peregrinos haviam recebido atendimento por stress térmico.
O Hajj, que tem a data determinada pelo calendário lunar islâmico, aconteceu este ano entre 14 e 19 de junho, a poucos dias do início do sufocante verão saudita.
O centro nacional meteorológico do país informou na segunda-feira que os termômetros chegaram a marcar 51,8ºC na Grande Mesquita de Meca, a cidade sagrada onde o profeta Maomé teria iniciado a sua pregação.
Peregrinos irregulares sob risco
Dos 658 egípcios que morreram, segundo a AFP, 630 estavam em situação irregular no reino, que por ocasião da peregrinação anual distribui a cada ano um determinado número de vistos por país, com base em um sistema de cotas.
A grande peregrinação anual a Meca é um dos cinco pilares do islamismo, que determina que todo muçulmano com recursos suficientes deve fazê-la ao menos uma vez na vida.
Apesar do sistema de vistos, todos os anos dezenas de milhares de pessoas viajam ao reino por canais irregulares, seja porque não têm dinheiro suficiente para custear os trâmites oficiais ou porque as cotas esgotam. No início de junho, a Arábia Saudita anunciou que as suas forças de segurança tinham afastado de Meca mais de 300 mil peregrinos não registados.
Normalmente, peregrinos irregulares ficam mais vulneráveis ao calor extremo. Sem documentos oficiais, eles acabam não tendo acesso aos espaços com ar condicionado disponibilizados pelas autoridades sauditas. Neste ano, o reino fundamentalista já recebeu 1,8 milhão de peregrinos autorizados.
Embora mortes não sejam incomuns durante o evento, considerando a magnitude do número de visitantes — foram 240 mortes no ano passado —, a peregrinação tem sido cada vez mais afetada pelas mudanças climáticas. Em maio, um estudo publicado pelas autoridades da Arábia Saudita alertou que as temperaturas nos locais onde se realizam os rituais têm aumentado 0,4°C a cada década.
Nos últimos anos, a peregrinação também foi assolada por outros tipos de desastres. Em 2006, por exemplo, um tumulto em uma ponte provocou a morte de mais de 300 pessoas. Em 2015, um episódio de pisoteamento em massa matou mais de 2,2 mil peregrinos. Em 1990, 1.426 peregrinos morreram sufocados num túnel.