As chuvas deste início de maio provocaram as maiores enchentes da história do Rio Grande do Sul. O grande volume de água que atinge 437 cidades vem deixando bairros inteiros submersos e provocando a evacuação da população de áreas de risco para abrigos públicos.
Mais de 408 mil pessoas estão fora de suas casas - 337.346 estão desalojadas e outras 70.772 mil estão em abrigos públicos; 143 estão desaparecidas e 116 morreram em decorrência da tragédia, já considerada a maior vivida pelo Estado. Ao todo, mais de 1,9 milhão de afetados, segundo o último balanço da Defesa Civil, divulgado nesta sexta-feira, 10. Até o momento, 70.863 e 9.984 animais foram resgatados.
Os números superam os do ano de 1941, quando as cidades gaúchas também foram atingidas por uma cheia histórica.
Em todo o Estado gaúcho, diversas localidades ficaram sem luz e água, além de terem o sistema de serviço de telefonia e internet prejudicado.
Por que o Rio Grande do Sul é mais atingido por esse tipo de evento climático?
O Estado fica em uma região onde acontece o encontro entre sistemas polares e tropicais, isto é, entre o ar quente e o ar frio, que faz do Estado um berço para fenômenos climáticos.
Mas os especialistas alertam também que as particularidades da região são potencializadas por outros dois fatores: o El Niño, fenômeno vigente desde meados de 2023, que contribui para o aumento das temperaturas do planeta; e também as mudanças climáticas, provocadas pelo aquecimento global, e que vem tornando esses eventos mais frequentes com o passar do tempo.
Segundo um levantamento do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o número de dias com extremos de precipitação (acima de 50 milímetros) aumentou em Porto Alegre a cada década desde os anos 1960. Foram 29 dias, entre 1961 e 1970; 44 dias em 2001 e 66 dias entre 2011 e 2020.
O que tem sido feito para a reconstrução do Estado?
O governo do Rio Grande do Sul afirmou que vai destinar R$ 117,7 milhões somente à reconstrução das estradas que foram destruídas pelos temporais que há uma semana atingem o Estado. Atualmente, são 75 trechos em 47 rodovias com bloqueios totais e parciais, entre estradas e pontes.
No sábado passado, 4, o governador Eduardo Leite (PSDB), afirmou que o território gaúcho precisa de "um Plano Marshall" de reconstrução, em alusão à ajuda financeira que a Europa recebeu após a Segunda Guerra Mundial, em ação capitaneada pelos Estados Unidos. O mandatário descreveu ainda o cenário do Estado como "de guerra", e pediu para que divergências políticas fossem colocadas de lado neste momento em prol do Rio Grande do Sul.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que esteve com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), e com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), no Rio Grande do Sul, no fim de semana passado, enviou na segunda um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) para dar celeridade às ações do governo federal de assistência ao Estado gaúcho.
Pacheco defendeu a criação de um "orçamento de guerra" e afirmou que é necessário diminuir a burocracia de autorização do uso de dinheiro público para destinar recursos para o Rio Grande do Sul.
O governo federal anunciou na quinta-feira medidas para apoiar a agricultura familiar e médios produtores rurais atingidos pelas fortes chuvas que devastaram várias cidades do Rio Grande do Sul. Ficou determinada a suspensão de pagamento das parcelas a vencer de empréstimos do crédito rural, desconto de juros para empréstimos, e prazos maiores para começar a pagar a captação de recursos, em um montante que poderá chegar a R$ 5 bilhões de socorro para o setor no Estado.
As medidas anunciadas pelo governo Lula para os produtores rurais integram um grande pacote de auxílio para a reconstrução do Estado, que juntas somam R$ 50,9 bilhões. Entre outros, elas incluem antecipação de benefícios tais como o Bolsa Família e auxílio gás./ COLABORARAM PRISCILA MENGUE, JULIANA DOMINGOS LIMA, RENATA OKUMURA e LEONARDO ZVARICK